Descrição de chapéu China Governo Trump Caixin

Faculdades americanas atraem menos estudantes chineses sob Trump

Restrições à emissão de vistos e relação tensa com Pequim diminuíram interesse de universitários asiáticos

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Yifan Yu
Caixin

Os últimos dois anos não foram fáceis para os estrangeiros que estudam nos Estados Unidos. Enquanto a pandemia de Covid-19 assola o país, com quase 11 milhões de casos confirmados e pelo menos 244 mil mortes, uma relação preocupante entre os EUA e a China, a inquietação civil alimentada pelo racismo sistêmico e as políticas de vistos hostis do governo de Donald Trump forçaram muitos a rever sua decisão de estudar em universidades americanas.

Os estudantes internacionais matriculados nos EUA diminuíram pela primeira vez em 14 anos durante o ano acadêmico 2019-2020, segundo o relatório anual Portas Abertas divulgado na segunda-feira (16) pelo Instituto de Educação Internacional e o Departamento de Estado.

Jovens chineses que estudam em universidades americanas assistem à apuração das eleições presidenciais dos EUA, em Pequim
Jovens chineses que estudam em universidades americanas assistem à apuração das eleições presidenciais dos EUA, em Pequim - Greg Baker - 4.nov.20/AFP

Os Estados Unidos receberam 1.075.496 estudantes estrangeiros no último ano acadêmico, uma queda de 1,8% em relação ao ano anterior.

Embora 2019-2020 tenha mostrado o primeiro declínio nas matrículas de alunos internacionais desde 2006, as matrículas de novos alunos estrangeiros estão em queda há quatro anos consecutivos.

No ano de 2019-2020, 267.712 alunos estrangeiros se inscreveram nos EUA pela primeira vez, uma queda de 0,6% em relação ao ano anterior e quase 11% abaixo do pico de 2015-16.

"É importante observar que os dados ainda não refletem os efeitos da Covid-19 sobre os estudantes internacionais e instituições de ensino superior dos Estados Unidos", disse Mirka Martel, chefe de pesquisa do Instituto de Educação Internacional, em entrevista coletiva.

Martel disse que a tendência de queda foi impulsionada principalmente pelo menor interesse dos estudantes asiáticos, e não pela pandemia. Essa tendência pôde ser observada nos estudantes da Índia. O país continuou sendo a segunda maior fonte de estudantes internacionais, mas teve uma redução de 4% ano a ano, para 193.124 alunos, a primeira queda desde 2013.

Enquanto isso, 49.809 alunos da Coreia do Sul --a terceira maior fonte de alunos— se matricularam em faculdades americanas no último ano letivo, uma queda de 4,7% em relação ao ano anterior.

Embora a China continue a ser a maior fonte de estudantes internacionais nos Estados Unidos, com o número de alunos aumentando pelo 16º ano consecutivo, para 372.532, a taxa de crescimento de matrículas desacelerou para o nível mais baixo em uma década —apenas 0,8% ano a ano.

As incertezas em torno das políticas de visto de trabalho para estudantes e pós-graduandos nos Estados Unidos nos últimos quatro anos são parcialmente responsáveis pela tendência de redução nas matrículas, disseram especialistas do setor educacional.

O governo Trump propôs várias reformas no visto H-1B —um tipo de autorização de trabalho usado principalmente por indianos e chineses depois de concluírem os estudos nos EUA—, incluindo aumento de salário, educação e outros requisitos, e priorizando alguns empregos federais para cidadãos americanos.

Sob o presidente Trump, a emissão de vistos de não imigrantes caiu para 8,7 milhões no ano fiscal de 2019, o quarto declínio consecutivo em relação aos 10,9 milhões do ano fiscal de 2015.

O índice de rejeição de vistos H-1B mais que triplicou, chegando a 33%, no ano fiscal de 2019, contra 10% em 2016, segundo uma análise da Fundação Nacional para Políticas Americanas, sediada na Virgínia.

As crescentes dificuldades dos estudantes estrangeiros para conseguir emprego e os documentos necessários para o visto fizeram que muitos considerassem estudar em outros países, informou anteriormente o site Nikkei Asia.

Enquanto isso, a posição linha-dura do governo Trump em relação à China contribuiu para o menor interesse dos estudantes chineses no último ano acadêmico.

Desde que a gigante chinesa de telecomunicações Huawei foi colocada na lista negra de comércio dos EUA, em maio de 2019, as tensões entre as duas maiores economias do mundo têm aumentado.

Isso levou a restrições para chineses estudarem em algumas áreas de alta tecnologia devido ao temor de espionagem.

O governo também endureceu os regulamentos para conceder vistos de estudantes, especialmente a análise dos candidatos chineses que estudam em áreas sensíveis.

Por exemplo, reduziu a validade dos vistos emitidos para estudantes chineses de pós-graduação em áreas de alta tecnologia de cinco anos para um, em 2018.

Além disso, Trump anunciou neste ano que estudantes e acadêmicos chineses que tiverem ligações com as forças armadas de seu país não poderão participar de pesquisas de pós-graduação.

Seguindo a ordem, o Departamento de Estado revogou os vistos de mais de mil estudantes e pesquisadores chineses em setembro.

Entre todas as áreas de estudo, os cursos de engenharia sofreram as maiores quedas em números absolutos de estudantes internacionais nos EUA, uma redução de 4,4% ano a ano, de acordo com o último relatório do Portas Abertas. O relatório não detalhou os países de origem dos estudantes dessa área.

"Existem alguns como o Partido Comunista da China, ou PCC, que tentam explorar a natureza aberta, transparente e colaborativa do setor de ensino superior dos EUA. Tanto o governo americano quanto a comunidade de ensino superior reagiram confirmando nossa receptividade inequívoca aos alunos legítimos, reforçando as políticas e protocolos do campus para proteger a propriedade intelectual sensível", disse Anthony Koliha, diretor do escritório de programas educacionais globais do Departamento de Estado, em entrevista coletiva.

"Sabemos que os estudantes [chineses] querem vir para os Estados Unidos, e os queremos aqui. Queremos ter certeza de que eles terão a oportunidade de experimentar a democracia e o Estado de Direito nos Estados Unidos", disse Koliha.

Advogados esperam que o governo do presidente eleito, Joe Biden, seja mais amistosa com os estudantes internacionais e reverta algumas políticas de imigração de Trump queriaram dificuldades para os estrangeiros estudarem e trabalharem no país.

"Biden aprecia mais o valor que representam esses estudantes internacionais, e acho que ele apoiará as universidades em vez de dificultar o recrutamento de estudantes e talentos estrangeiros pelas universidades americanas", disse Diane Hernandez, advogada de imigração da firma Hall Estill.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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