Descrição de chapéu África

Governo da Etiópia diz ter tomado o controle da capital de área rebelde

Conflito armado entre governo nacional e região do Tigré deixou milhares de pessoas desalojadas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Adis Abeba (Etiópia) | AFP

Autoridades etíopes anunciaram neste sábado (28) que o exército federal assumiu o controle de Mekele, capital da região do Tigré, o que pode marcar o fim do conflito que eclodiu no país no começo do mês.

Na Etiópia, segundo país mais populoso da África, o Exército federal enfrenta tropas ligadas à Frente de Libertação Popular do Tigré (TPLF, na sigla em inglês), partido que governa a área.

"Conseguimos entrar na cidade de Mekele, sem atacar civis inocentes", declarou o premiê etíope, Abiy Ahmed Ali, prêmio Nobel da Paz em 2019, de acordo com um comunicado divulgado pelo canal estatal etíope EBC. A cidade tinha 500 mil habitantes antes do início do conflito.

Membros da milícia Amhara posam para foto em frente à sede de batalhão do Exército etíope em Dansha - Eduardo Soteras - 25.nov.20/AFP

Pouco depois, o chefe do Exército, Berhanu Jula, disse na mesma emissora que as forças governamentais controlam Mekele totalmente e que os militares expulsaram os membros da TPLF que se esconderam.

Horas antes, as autoridades locais afirmaram que disparos de armas pesadas haviam atingido o centro de Mekele. A informação foi confirmada à agência de notícias AFP por duas fontes de serviços humanitários.

O exército federal "começou a atacar o centro de Mekele, que tem uma grande população e organizações em desenvolvimento, com armas pesadas e artilharia", afirmaram as autoridades do Tigré em um comunicado lido neste sábado pelo canal de televisão local, Tigray TV.

Embora não exista um balanço preciso, o centro de estudos International Crisis Group (ICG) afirmou na sexta-feira que milhares de pessoas morreram nos combates.

Devido ao conflito, mais de 43 mil etíopes fugiram para o vizinho Sudão, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidos para os Refugiados. Um número desconhecido de pessoas também está em deslocamento dentro do Tigré e da Etiópia. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha afirmou ter registrado ao menos 2.000 pessoas em busca de um lugar seguro no nordeste do país.

Durante décadas, o TPLF foi um partido dominante na Etiópia. Isso mudou com a chegada de Abiy ao poder, em 2018. Eleito como um reformista, o premiê acusou ex-funcionários do governo de corrupção e abusos aos direitos humanos e expulsou políticos importantes do partido de cargos no governo central.

As tensões se acentuaram em setembro, quando o Tigré realizou eleições regionais, apesar de o pleito ter sido adiado pelo governo federal devido à pandemia. Em resposta, o governo nacional congelou o envio de repasses para a região.

Em 4 de novembro, Abiy anunciou uma ofensiva militar contra a TPLF. O premiê justificou a ofensiva acusando as tropas do Tigré de atacarem uma base militar federal perto de Mekele.

Em 9 de novembro, ao menos 600 pessoas foram mortas num massacre, segundo informações divulgadas por um órgão público de defesa dos direitos humanos. As vítimas eram trabalhadores agrícolas temporários que pertenciam a uma etnia diferente da dos autores do ataque.

Na quinta (26), Abiy ordenou ao Exército o início da última fase da operação militar, a ofensiva contra Mekele, reduto dos líderes da TPLF, que, na sexta, usaram a TV para convocar a população para a luta.

O governo local pede à comunidade internacional que "condene os ataques e os massacres com artilharia e aviões militares cometidos contra civis e infraestruturas" por Abiy e o presidente da Eritreia, Issaias Afeworki, a quem acusa de ajudar o governo da Etiópia.

Ao menos um foguete lançado a partir do Tigré na noite de sexta-feira (27) teve como alvo a capital da Eritreia, Asmara, informaram à AFP quatro diplomatas da região. Um deles afirmou que o projétil caiu ao sul de cidade, mas não foi divulgado se provocou vítimas.

A TPLF não reivindicou a responsabilidade pelos disparos. O grupo acusa a Eritreia de servir de base para o Exército etíope e fez ataques contra o país vizinho no dia 14.

Outros países advertiram o risco de possíveis crimes de guerra na Etiópia e tentam pressionar Abiy a aceitar uma mediação do conflito. A União Africana, cuja sede fica em Adis Abeba, capital da Etiópia, nomeou três enviados especiais para tal, os ex-presidentes Joaquim Chissano (Moçambique), Ellen Johnson-Sirleaf (Libéria) e Kgalema Motlanthe (África do Sul).

Após uma reunião com o trio na sexta-feira, Abiy expressou gratidão, mas recordou que seu governo tem "a responsabilidade constitucional de manter a ordem [em Tigré] e em todo o país".

Neste sábado, o papa Francisco pediu no Twitter que as pessoas rezem pela Etiópia, "onde se intensificaram os confrontos armados e que estão provocando uma situação humanitária grave".

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.