Descrição de chapéu Eleições EUA 2020

Gritos e buzinas dominam ruas de Washington com vitória de Biden

Multidões correram para a Casa Branca para celebrar eleição de democrata

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Washington

Quem não estava assistindo à TV ao vivo em Washington soube da vitória de Joe Biden pelos gritos e buzinas ensurdecedoras nas ruas. Multidões correram para a frente da Casa Branca para celebrar o que viam como o fim de uma árdua luta pelo futuro do país.

Em paralelo, simpatizantes de Donald Trump também se manifestaram. Sem apresentar qualquer evidência, clamaram que houve fraude na eleição —e se recusaram a aceitar a derrota de seu candidato.

Um dos momentos de maior catarse em Washington foi quando manifestantes soltaram um balão de hélio no formato de Trump e acenaram para ele enquanto desaparecia, aos poucos, no céu azul da capital.

Era a imagem que queriam ver. Gritavam algumas obscenidades, mas também entoavam cânticos pedindo por mais unidade em meio à crescente polarização.

Pessoas carregam balão com forma do presidente Donald Trump, em Washington, em comemoração da vitória de Joe Biden
Pessoas carregam balão com forma do presidente Donald Trump, em Washington, em comemoração da vitória de Joe Biden - Michael A. McCoy/Reuters

Eram várias as mensagens em camisetas, pôsteres, broches, adesivos e máscaras. Uma delas, por exemplo, descrevia Trump como um “perdedor de um mandato só”. Afinal, não foi reeleito.

Outra anunciava: “Votei pela minha mãe, que é uma migrante”. Um homem abria uma garrafa de champanhe enquanto um grupo escalava um ponto de ônibus e dançava sem camiseta.

Esmagados entre os manifestantes, jornalistas de todo o mundo se posicionavam diante de suas câmeras, com microfone em mãos, para repassar as notícias do dia. Foi o anúncio de diversos canais de TV que, neste sábado (7), pôs fim a uma longa espera —e a dias de pouco sono no país.

Americanos haviam votado na terça-feira (3). Com uma lenta apuração, porém, tardaram a saber se tinham de fato selado o destino de Trump. Foram dias de ansiedade. Nas ruas, os moradores da capital caminhavam sem olhar para os próprios pés. Miravam a tela de seus celulares, esperando para ver se algum dos estados indefinidos viraria azul, marcando a vitória do Partido Democrata neste pleito.

Houve celebrações semelhantes por todo o país no sábado. Festas se espalharam, por exemplo, por diversos bairros de Nova York —cidade natal de Trump e onde o republicano construiu sua carreira.

Em algumas regiões da cidade, como o Harlem, as ruas pareciam bloquinhos de Carnaval. Os moradores de estados como Pensilvânia, Califórnia e Michigan também saíram de casa. Não estava claro se comemoravam mais a vitória de Biden ou a derrota de Trump.

Ainda que os atos tenham se espalhado, Washington é um caso especial. A capital americana é uma bolha democrata —nunca elegeu um republicano desde 1961, quando ganhou o direito de nomear três delegados para o Colégio Eleitoral, o sistema indireto que escolhe o presidente nos Estados Unidos.

Em 2016, por exemplo, Trump teve apenas 4% dos votos ali, o equivalente a menos de 13 mil. Nestas eleições, a projeção é de que ele tenha recebido 5,2% dos votos, somando 15 mil. Simpatizantes de Trump, assim, são raros. Washington é particularmente simbólico, também, porque a praça diante da Casa Branca foi batizada neste ano de Black Lives Matter Plaza (vidas negras importam, em inglês).

Foi ali, afinal, que manifestantes se reuniram por meses a fio desde que um policial branco estrangulou o homem negro George Floyd em Minneapolis, em maio. A sensação, nas ruas, é de que as eleições desta semana fazem parte desse contexto mais amplo de mobilização popular.

Desde a terça-feira, dia da eleição, manifestantes têm se reunido nessa região da capital. Protestavam, mas também celebravam, mesmo antes de o resultado ser oficial. Um carro de som tocava músicas de go-go, um estilo de funk típico de Washington, enquanto os presentes dançavam até o chão.

Ativistas distribuíam panfletos com os dizeres “Trump acabou” ou “Trump, fora agora!”. Pichavam muros com mensagens de que o presidente, famoso por seu programa de TV, estava por fim demitido.

Repetiam diversas vezes o mantra que marcou o ano na capital americana: “Vidas negras importam”.

Apesar de toda a celebração, no entanto, ativistas insistiam no sábado que era cedo para baixar a guarda.

“Estamos festejando, como temos de festejar, mas a luta ainda não terminou”, disse Collin Reese, uma das organizadoras do movimento social ShutDownDC. “Há manifestações de republicanos em todo o país pedindo para que os votos não sejam contados, e Trump já afirmou ter vencido a eleição.”

Os protestos pró-Trump ganharam fôlego nos estados tradicionalmente republicanos em que o presidente perdeu por margens pequenas. Na Geórgia, manifestantes bradavam que as eleições haviam sido fraudadas. Repetiam um dos mantras de Trump: “Fake news!”. Cenas semelhantes aconteceram no estado do Arizona, onde a disputa entre os candidatos também foi bastante acirrada.

No sábado, Biden tinha uma vantagem de cerca de 20 mil votos ali, e a contagem ainda não tinha terminado. Havia relatos, durante o dia, de estranhamentos entre simpatizantes de Trump e de Biden nas ruas. Contrariando as expectativas das semanas anteriores, no entanto, não houve nenhum embate sério.
Ainda assim, Reese afirmou que seguiria atenta. “Vamos ficar de olho para ver se precisaremos reagir.”

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