Manifestantes põem fim a raro protesto em Cuba após autoridades aceitarem dialogar

Artistas e ativistas se reuniram com vice-ministro da Cultura para discutir repressão à liberdade de expressão

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Sarah Marsh
Havana | Reuters

Um raro protesto público em Cuba, com mais de 300 artistas e ativistas do lado de fora do Ministério da Cultura, terminou neste sábado (28) após manifestantes dizerem que as autoridades aceitaram dialogar.

Trinta dos participantes do ato, incluindo a artista Tania Bruguera e o diretor de cinema Fernando Pérez, reuniram-se por mais de quatro horas com o vice-ministro Fernando Rojas e afirmaram que houve um acordo para começar uma série de encontros para resolver diferenças.

De acordo com o grupo, Rojas também se comprometeu a revisar os casos de um rapper condenado a oito meses de prisão devido a acusações de desobediência e de uma artista detida desde quinta-feira (26).

Ativistas e artistas cubanos usam luzes de telefones celulares para protestar em frente ao Ministério da Cultura, em Havana
Ativistas e artistas cubanos usam luzes de telefones celulares para protestar em frente ao Ministério da Cultura, em Havana - Yamil Lage - 28.nov.20/AFP

A ditadura comunista da ilha havia chamado ambos os acusados de mercenários controlados pelos EUA, classificação com frequência dada a dissidentes, e os manifestantes do lado de fora do ministério não ficaram convencidos de que as garantias dadas serão respeitadas.

Ainda assim, a reunião foi considerada uma conquista histórica, por forçar o regime a dialogar com aqueles que pensam de maneira diferente e, para alguns, por representar uma quebra no medo de expressar publicamente seus descontentamentos.

"É uma chama especial que se acendeu hoje", afirmou o ativista e promotor musical Michael Matos, que participou do encontro com Rojas. "Falamos sobre liberdade de expressão e de associação, censura e repressão física. Não acho que tenha havido um diálogo como esse em um ministério em 60 anos."

A ditadura não emitiu nenhum comunicado e não respondeu a pedidos de comentários sobre a reunião.

As manifestações abrigaram cidadãos que evitam falar publicamente sobre política, mas que se sentiram impulsionados a participar após a circulação de imagens dos protestos em redes sociais, revelando o quanto a expansão da internet na ilha está dificultando a cotenção de dissidentes pelo governo.

Enquanto seus representantes se reuniam com as autoridades dentro do ministério, ativistas cantavam e batiam palmas a cada dez minutos para expressar solidariedade. "Sem a pressão que vocês fizeram, sem os aplausos enquanto falávamos, sem os gritos, não teríamos chegado a esses acordos", disse Bruguera.

Policiais e membros das forças de segurança circularam a área. Embora tenha havido o lançamento de uma bomba de gás para evitar que ativistas chegassem ao ministério, não houve outras intervenções.

O protesto foi desencadeado pela repressão das autoridades ao Movimento San Isidro, de artistas dissidentes e ativistas, formado há dois anos para protestar, muitas vezes por meio de performances irreverentes, contra restrições à liberdade de expressão.

A situação chegou ao limite após autoridades sitiarem a sede do movimento. Depois, na quinta-feira, artistas iniciaram uma greve de fome para chamar a atenção da comunidade internacional.

Policiais removeram à força e detiveram brevemente as cinco pessoas em greve de fome e outras nove que estavam na casa, alegando violações dos protocolos contra a disseminação do coronavírus.

Os detidos disseram que seus telefones celulares foram apreendidos para que eles não pudessem transmitir nenhum registro da ação policial. Alguns cubanos afirmaram que as redes sociais no país, onde o estado tem o monopólio das telecomunicações, foram brevemente derrubadas para evitar o compartilhamento de notícias da operação.

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