Marcha de ultradireita do Dia da Independência da Polônia atrai milhares

Evento violou regras para tentar conter a disseminação da Covid-19

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Varsóvia (Polônia) | Reuters

Simpatizantes da ultradireita entraram em confronto com a polícia nesta quarta (11) perto do Estádio Nacional da Polônia, recentemente convertido em hospital de campanha para pacientes da Covid-19, no final de uma marcha do Dia da Independência que ocorreu em violação às regras para conter a pandemia.

Inicialmente planejado para ser uma carreata pelas ruas principais da capital —um recurso para contornar a proibição da prefeitura—, o evento anual tomou outra forma quando milhares de pessoas se juntaram aos carros e marcharam a pé pelo centro de Varsóvia.

Simpatizantes da ultradireita carregam bandeiras em meio à fumaça de sinalizadores vermelhos durante marcha no Dia da Independência da Polônia, em Varsóvia
Simpatizantes da ultradireita carregam bandeiras em meio à fumaça de sinalizadores vermelhos durante marcha no Dia da Independência da Polônia, em Varsóvia - Wojtek Radwanski /AFP

Policiais da tropa de choque usaram spray de pimenta para interromper brigas pontuais ao longo do trajeto. "Onde as pessoas agem de forma brutal, onde há danos à propriedade [...], quando os policiais são hospitalizados e precisam de assistência médica, não há o que possa ser chamado de reunião pacífica", disse o porta-voz da polícia de Varsóvia, Sylwester Marczak.

O oficial afirmou que os agentes foram atacados com pedras e foguetes, o que deixou vários deles feridos.

O evento anual se tornou um ponto de atrito entre grupos de ultradireita e partidários do governo nacionalista do primeiro-ministro Mateusz Morawiecki, de um lado, e seus oponentes liberais, do outro.

Robert Bakiewicz, o chefe da associação que organiza a marcha, culpou a polícia pela violência, dizendo que os agentes provocaram manifestantes perto do Estádio Nacional. Marczak, por sua vez, disse que os policiais bloquearam os participantes do protesto para proteger uma rota usada no transporte de ventiladores para os poucos pacientes com Covid-19 que estão sendo tratados no hospital de campanha.

O país tem visto um número crescente de infecções pelo coronavírus, com o número total de casos mais do que quadruplicando em um mês.

PROTESTOS EM MASSA

Nas últimas semanas, a Polônia viveu intensos protestos de rua após uma decisão do Tribunal Constitucional introduzir uma proibição quase total do aborto na nação predominantemente católica.

Os organizadores da marcha do Dia da Independência procuraram pintar a decisão como parte de sua luta contra os ataques aos valores tradicionais.

"O que restará da marcha pela independência de hoje é o desejo de mostrar que somos um Estado e uma sociedade que se identificam com esses valores tradicionais, conservadores, cristãos e católicos", disse Bakiewicz à emissora estatal TVP Info.

"Não queremos esta revolução neo-bolchevique em nossas ruas", acrescentou.

Os manifestantes carregaram bandeiras polonesas vermelhas e brancas em meio a nuvens de fumaça de sinalizadores vermelhos e ergueram faixas que diziam "nossa civilização, nossas regras".

Outros carregavam símbolos religiosos ou faixas mostrando o emblema comunista do martelo e da foice riscado. Um caminhão com a faixa "não às demandas dos judeus" também foi visto.

A frase é uma referência à oposição de grupos de ultradireita a qualquer devolução de propriedade tomada dos judeus durante o Holocausto. Outro caminhão trazia o slogan "família normal, Polônia forte", usado pelos partidos de direita na Polônia para expressar resistência aos direitos LGBT.

As autoridades de Varsóvia, que tem um prefeito de centro, acusaram a polícia, controlada pelo governo central polonês, de facilitar a marcha. "A lei está sendo violada aqui", disse Karolina Galecka, porta-voz da prefeitura. "A polícia passou 12 horas se preparando para garantir a marcha, não fomos informados sobre isso e neste momento você poderia dizer que a polícia está co-organizando [os protestos]."

Marczak disse que a corporação se preparou para todas as eventualidades. "A polícia é profissional e responsável, por isso não nos preparamos para apenas um cenário possível de um evento", afirmou.

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