Era 0h15 de quarta-feira (4), e Donald Trump já havia garantido a vitória na Flórida, resultado que derrubava a previsão do site FiveThirtyEight, referência americana em análise de pesquisas eleitorais. Não era o único —muitos outros veículos também apostavam no democrata Joe Biden naquele estado.
Assim, vieram à tona recordações da eleição de 2016, quando o republicano também conquistou a região e levou a Presidência, contra as expectativas gerais. Sob ataque no Twitter, o estatístico Nate Silver, fundador do FiveThirtyEight, publicou: “A narrativa aqui é bem burra".
Ainda é cedo, no entanto, para saber quem vai ficar com a fama de burro. Antes da votação desta terça, o FiveThirtyEight dizia que Biden tinha 90% de chances de chegar à Casa Branca.
A metodologia do site é diferente das usadas por institutos de pesquisas brasileiros, pois não representa a proporção dos votos que um candidato teria caso o pleito acontecesse em um determinado dia, mas sim a chance de que, ao fim da votação, ele seja vitorioso.
No caso da eleição americana, esse cálculo envolve ponderar a chance de triunfo em cada estado e o peso deste no resultado final. Se Biden ganhar, Silver e demais especialistas que foram pelo mesmo caminho terão o que comemorar. Mas terão também uma longa guerra de narrativas, porque muitos vão dizer que a previsão apontava para uma lavada do democrata.
Silver, porém, terá ao seu lado a explicação de que sua projeção não falava em vitória avassaladora, mas de uma grande chance de vitória do democrata, independentemente da margem. Mas o que vêm a ser então esses 90% para Biden?
Grosso modo, o modelo apontava que o democrata tinha muitos caminhos para a vitória, por estar muito mais competitivo em estados-chave onde a democrata Hillary Clinton perdeu em 2016.
Era o que se via durante a apuração. Sim, Biden perdeu estados em que as pesquisas o colocavam como favorito ou muito competitivo, como Flórida, Texas e Ohio. Mas ele levou Michigan e pode vencer na Pensilvânia, estados em que Hillary perdeu em 2016.
Caso Biden perca, a vida vai ficar muito dura para especialistas como Silver. Se Trump ganhar, significa que seu método dava apenas uma chance em dez para o republicano e, mesmo assim, ele levou.
Em 2016, o FiveThirtyEight conseguiu uma saída honrosa para o que pareceu um grande erro de projeção. Naquele ano, seu modelo dizia que Trump tinha perto de 30% de chances de vitória.
Ainda que pintasse Hillary como grande favorita —sete chances em dez—, não pode ser considerado desprezível algo que possui três chances em dez.
Explicações para o erro de projeção nas pesquisas da Flórida começaram a aparecer logo depois do resultado deste ano, como, por exemplo, a falha em identificar o apelo do discurso de Trump a latinos em Miami, região fundamental para a vitória do republicano no estado.
Eles parecem ser a versão 2020 dos brancos sem diploma superior, segmento mal estimado há quatro anos. Considerados eleitores de Hillary, estavam com Trump no fim.
O interesse nessas explicações foram diminuindo conforme a quarta-feira avançava, e votos não presenciais e de centros urbanos —majoritariamente democratas— em outros estados iam sendo contabilizados, o que fazia Biden assumir a liderança e restaurava a confiança nas previsões.
Certo mesmo é que ainda vai haver muita discussão sobre pesquisas eleitorais neste pleito.
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