Especialistas da ONU (Organização das Nações Unidas) fizeram um alerta, nesta quinta (26), sobre os algoritmos de inteligência artificial utilizados para reconhecimento facial e controles policiais. Eles dizem que essas ferramentas podem reforçar discriminações raciais e que países devem estar alertas.
Segundo a especialista jamaicana Verene Shepherd, "existe um grande risco de que [a inteligência artificial] reforce o preconceito e, assim, agrave ou possibilite práticas discriminatórias".
Shepherd é membro do comitê da Organização das Nações Unidas para a eliminação da discriminação racial, composto por 18 especialistas. Nesta quinta, o grupo publicou um relatório com recomendações às autoridades para combater esse problema.
O comitê está particularmente preocupado com os algoritmos usados entre as ferramentas policiais de "prevenção" ou "avaliação de riscos". Esses sistemas de vigilância, que supostamente ajudam na prevenção de crimes e foram implementados pela primeira vez nos Estados Unidos no começo dos anos 2000, são criticados porque reforçam os preconceitos sobre algumas comunidades.
O grupo também chamou a atenção para o motor de busca usado pelas redes sociais, que filtra o conteúdo e pode mostrar aos usuários publicidade preconceitusa.
Ciclo vicioso
"Os dados históricos sobre prisões em um bairro determinado [que alimentam a inteligência artificial] podem refletir muito bem as práticas policiais preconceituosas" e, consequentemente, reproduzi-las, destaca Shepherd.
"Essas informações aumentam o risco de um excesso de presença policial que poderia levar a realizar mais prisões e, desse modo, criar um ciclo vicioso", alerta. "Dados incorretos provocam maus resultados."
Entre as recomendações, o comitê também expressa preocupação pelo uso cada vez mais generalizado do reconhecimento facial ou outras tecnologias de supervisão utilizadas em missões de segurança.
Novamente, em relação a isso, o discernimento da inteligência artificial está intimamente vinculado aos dados usados para "educar" esses sistemas, explica a especialista jamaicana. Estudos realizados demonstraram que esses dados têm dificuldades para reconhecer os rostos de pele escura ou de mulheres.
Um exemplo disso foi a prisão, neste ano, na cidade de Detroit, nos Estados Unidos, de um homem negro americano, Robert Williams, com base em "conclusões" de um algoritmo mal desenvolvido, que o identificou como o suspeito de um roubo.
"Recebemos reclamações sobre esta forma de identificação errônea fruto dessas tecnologias, de quem as desenvolve ou dos exemplos utilizados por esses sistemas", indica Shepherd, que acrescenta: "É uma preocupação real".
O comitê pede aos países que regulamentem as empresas que trabalham neste setor para garantir que tais sistemas respeitem as leis internacionais sobre direitos humanos. O relatório insiste na necessidade de transparência na concepção e na aplicação desses direitos para a população.
As recomendações do comitê não se limitam a essas novas tecnologias. "O desenvolvimento de perfis raciais não começou com elas", lembra Shepherd. Ela espera que "a intensificação e internacionalização do movimento Black Lives Matter (...) e outras campanhas que denunciam a discriminação contra grupos vulneráveis ajudem [a destacar] a importância dessas recomendações".
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