Presidente da Bolívia nomeia nova cúpula militar e pede garantias a seu governo

Arce decide trocar comando das Forças Armadas oito dias depois de tomar posse

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La Paz e São Paulo | AFP

O novo presidente da Bolívia, Luis Arce, trocou o comando das Forças Armadas do país nesta segunda-feira (16) e pediu aos militares que garantam a estabilidade do seu governo.

A declaração acontece pouco mais de um ano após a renúncia de Evo Morales —de quem Arce era ministro—, que deixou a Presidência depois de um ultimato dado pelos generais.

O novo presidente da Bolívia, Luis Arce, acena para aliados durante cerimônia de posse na Assembleia do país
O novo presidente da Bolívia, Luis Arce, acena para aliados durante cerimônia de posse na Assembleia do país - Freddy Zarco - 8.nov.20/AFP

Agora, o novo presidente pediu aos comandantes militares que trabalhem juntos "para defender a democracia, a paz social, assim como garantir a estabilidade do nosso governo, eleito pela vontade soberana do povo no marco da Constituição política do Estado".

As mudanças na cúpula das Forças Armadas tradicionalmente ocorrem em dezembro ou janeiro, mas Arce optou por fazer a troca dos nove nomes imediatamente, apenas oito dias após tomar posse.

Ele foi eleito presidente em primeiro turno no último dia 19. Desde a renúncia de Evo (que apoiou Arce no pleito), a Bolívia era comandada interinamente por Jeanine Añez, senadora conservadora que rompeu com muitas das políticas de esquerda de seu antecessor.

Durante esse período, Evo e aliados por diversas vezes acusaram a cúpula militar de ter dado um golpe ao pedir a renúncia do então presidente.

Durante a cerimônia pública realizada no Palácio Presidencial nesta segunda, Arce se referiu de maneira indireta ao tema. "Hoje temos o grande desafio de [fazer com] que o povo boliviano volte a confiar nas Forças Armadas, a confiança de que as Forças Armadas respeitarão os processos democráticos”, afirmou.

No ato, o novo comandante militar, o general Jaime Zabala, fez um chamado à reconciliação —algo que o próprio Arce já tinha feito em sua posse. "Deixemos que a unidade nacional, a estabilidade, o interesse coletivo e a integração nos permitam abandonar o ódio e a intolerância", afirmou.

A crise na Bolívia começou em novembro do ano passado, logo após a realização da eleição presidencial. Evo, no poder desde 2006, foi reeleito em primeiro turno, mas houve uma série de denúncias de fraudes.

Isso fez eclodir uma onda de protestos no país. Neste cenário, primeiro os policiais e, depois, os militares romperam com o então presidente e exigiram que ele deixasse o cargo.

Assim, Evo, toda a cúpula de seu governo e parte de seus aliados no Congresso renunciaram, abrindo espaço para Añez assumir à Presidência por meio de uma interpretação pouco ortodoxa da Constituição.

Apoiadores de Evo também iniciaram manifestações em defesa do ex-presidente, que foram reprimidas com violência. Añez inicialmente prometeu que convocaria novas eleições rapidamente, mas o pleito acabou sendo adiado várias vezes devido à pandemia e só aconteceu em outubro de 2020.

Neste período, o ex-presidente primeiro se exilou no México e depois se mudou para a Argentina. Na semana passada, com Arce já empossado, ele enfim retornou à Bolívia.

Nesta terça (17), Evo anunciou pelas redes sociais que assume a presidência do seu partido, o MAS (Movimento ao Socialismo).
"Dirigentes nacionais e departamentais do MAS e de movimentos sociais decidem, por consenso, que eu assuma de maneira ativa a presidência do instrumento político mais importante da Bolívia", escreveu.
Quando voltou ao país, ele disse que se dedicaria à agricultura e a viajar pela Bolívia e ao exterior para compartilhar sua experiência.
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