Quais são os grupos de extrema direita que encheram as ruas da Polônia

Agremiações têm origem em movimentos nazistas e fascistas dos anos 1930; partido político obteve cerca de 7% dos votos

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Bruxelas

Os milhares de poloneses que encheram as ruas de Varsóvia apesar das restrições do governo polonês devido à pandemia de coronavírus pertencem a grupos de ultradireita diferentes, mas com muitos pontos em comum, segundo sociólogos que acompanham suas atividades.

Um dos pontos de contato é o ultranacionalismo, que se traduz em xenofobia e em atos contra imigrantes e o reassentamento de refugiados na Polônia. A "defesa da pátria" é o principal slogan da marcha do Dia da Independência, organizada há cerca de dez anos e que chegou a ter 100 mil participantes em 2019.

Neste ano, o número foi menor, porque o governo proibiu aglomerações para conter a Covid-19 . Ainda assim, além das passeatas, houve carreatas de apoio, e os manifestantes atacaram apartamentos que exibiam símbolos dos direitos LGBT, como bandeiras arco-íris.

Bandeiras pretas e vermelhas e brancas, em frente a prédio grande branco
Manifestantes antissemitas do ONR fazem ato em frente ao palácio presidencial, em Varsóvia, em apoio à chamada Lei do Holocausto, que tornou crime 'acusar, publicamente e contra os fatos, a nação polonesa ou o estado polonês de ser responsável ou cúmplice dos crimes nazistas cometidos pelo terceiro reich alemão' - Dawid Zuchowicz - 5.fev.18/Agencja Gazeta/Reuters

Grupos de extrema direita têm se envolvido em confrontos com progressistas em manifestações de rua, que eclodiram após decisão do Tribunal Constitucional introduzir proibição quase total do aborto no país.

Segundo o sociólogo e cientista político Rafal Pankowski, 44, presidente da associação antirracista Nunca Mais, os grupos de ultradireita têm se expandido nos últimos anos e se tornado mais agressivos. Em grande parte, seus integrantes são homens jovens que participam de torcidas organizadas de futebol.


Veja os principais grupos de extrema direita na Polônia

Juventude Polonesa (Mlodziez Wszechpolska)

Com nome que vem de um grupo antissemita dos anos 1920 e 1930, o grupo foi recriado em 1989 com uma pauta católica e ultranacionalista de extrema direita. Seu lema é “depois de Deus, a pátria”, e eles combatem "doutrinas que promovem o liberalismo, a tolerância e o relativismo”.

É adversário radical dos direitos LGBT e contra o aborto. Seus membros já atacaram vários protestos. Faz parte do partido Movimento Nacional, ligado ao partido de extrema direita Confederação. Em 2006, o Ministério Público polonês lançou uma investigação contra o grupo por atividades neonazistas.

Acampamento Nacional-Radical (Obóz Narodowo-Radykalny, ONR)

O nome foi usado originalmente na década de 1930 por uma organização ultranacionalista, anticomunista e antissemita e retomado em 1993. O Comitê da ONU para Eliminação da Discriminação Racial considera a organização um grupo fascista. Um de seus ramos foi banido pelo governo em 2009, e sua bandeira é considerada símbolo explicitamente racista. Usa a cruz céltica, também utilizada pelos nazistas.

Em 2015, membros do ONR queimaram a efígie de um judeu ultraortodoxo, e o grupo foi processado por "insultar pessoas com base em religião, etnia, raça ou nacionalidade". Em 2019, a Promotoria de Lublin-Poludnie processou o grupo por "propagação pública de um regime totalitário" após post na internet que elogiava um oficial da SS.

Associação da Marcha da Independência

Criada para organizar as marchas ultranacionalistas de 11 de novembro, também mobiliza militantes de extrema direita em outros protestos e atividades. Seu presidente, Robert Bakiewicz, tornou-se o porta-voz dos protestos contra as marchas feministas das últimas semanas. Declara-se patriota e adversário dos manifestantes contra o banimento do aborto.

Falange (Ruch Narodowo Radykalny-Falanga)

Criado nos anos 1930, trata-se de grupo de extrema-direita menor, mas com experiência em treinamento paramilitar e conexões com separatistas na Ucrânia e na Síria. Sua ideologia se aproxima da do ONR.

Confederação (Konfederacja)

Partido político de extrema direita da Polônia criado em julho de 2019. Recebeu 4,55% dos votos na eleição para o Parlamento Europeu, não atingindo o limite mínimo para ocupar cadeiras. Em outubro de 2019, no entanto, obteve 6,81% no pleito parlamentar polonês, elegendo 11 deputados.

Seu candidato a presidente em 2020, Krzysztof Bosak, é ex-membro do Juventude Polonesa e recebeu 1.317.380 votos (6,78% do total), ficando em quarto lugar. Sua plataforma defende a posse de armas e a pena de morte, critica aulas de educação sexual, é contra o reassentamento de refugiados, contra o aborto e contra as regras da União Europeia relacionadas a mudanças climáticas.

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