Vitória de Biden é cada vez mais irreversível, diz Mourão

Bolsonaro ainda não reconheceu eleição do democrata nos Estados Unidos

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Brasília

O vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão (PRTB), disse nesta sexta (13), em entrevista à Rádio Gaúcha, que a vitória de Joe Biden nas eleições americanas está “cada vez mais sendo irreversível”.

A posição do vice, assim, é diferente daquela adotada pelo presidente Jair Bolsonaro, que mesmo após seis dias ainda não reconheceu a vitória do democrata nas eleições presidenciais dos Estados Unidos.

Hamilton Mourão, à esq., e Jair Bolsonaro durante cerimônia em Brasília
Hamilton Mourão, à esq., e Jair Bolsonaro durante cerimônia em Brasília - Evaristo Sá - 9.nov.20/AFP

“Como indivíduo, julgo que a vitória do Joe Biden está cada vez mais sendo irreversível”, afirmou Mourão.

O democrata foi declarado vencedor na disputa contra Donald Trump no último sábado (7), após projeções da imprensa americana indicarem que ele atingiu os votos necessários para ser eleito no Colégio Eleitoral —o sistema indireto que define a Presidência nos EUA.

Desde então, Biden já recebeu o cumprimento de uma série de líderes mundiais, entre os quais aliados de Trump, como os premiês de Reino Unido (Boris Johnson) e Israel (Binyamin Netanyahu). Trump, no entanto, ainda não reconheceu o resultado e tenta reverter o resultado na Justiça.

Por isso, Bolsonaro, que desde o início de seu governo desenhou um alinhamento total com o republicano, evita se pronunciar sobre o assunto. Na noite de quinta-feira (12), de forma irônica, o presidente perguntou a uma apoiadora se as eleições americanas já haviam terminado.

Na entrevista desta sexta, Mourão ressaltou, no entanto, que sua opinião sobre o caso era uma posição pessoal e que o reconhecimento do novo presidente dos EUA é responsabilidade de Bolsonaro.

“Como indivíduo, eu reconheço [os números da apuração da eleição americana], mas temos que olhar que eu não respondo pelo governo”, disse. Depois, o vice-presidente voltou a afirmar que a ação de reconhecimento caberia a Bolsonaro e que isso “brevemente vai acontecer”.

Horas mais tarde, ao deixar o gabinete da Vice-Presidência, Mourão comentou outra vez a jornalistas as eleições americanas, ressaltando que se tratava de opinião pessoal, a do "Antônio Hamilton", disse.

"Não é questão de reconhecer [a vitória de Biden]. Hoje, agora, quando terminou essa situação do Arizona, aí o Biden já foi para 306 delegados. Agora ficou complicado, a não ser que o presidente Trump ainda tenha alguma carta na manga que a gente desconhece", afirmou.

Mourão também disse que o reconhecimento da vitória pelo governo brasileiro virá no momento certo e que não haverá "nenhuma hecatombe nuclear por causa disso".

O vice-presidente ainda comentou as condições atuais do Exército brasileiro, assunto que ganhou destaque após Bolsonaro declarar na última terça (10) que o Brasil "tem que ter pólvora" para fazer frente a candidato a chefe de Estado que quiser impor sanções devido às queimadas da Amazônia.

A fala foi entendida como um recado a Biden, que durante a campanha afirmou que poderia punir o país por causa da destruição da floresta. Devido à declaração de Bolsonaro, o poderio bélico do Exército brasileiro virou motivo de questionamentos e alvo de memes nas redes sociais.

Na entrevista à Rádio Gaúcha, ele afirmou que, caso Washington decida entrar em confronto com o Brasil, terá que enfrentar "um cara que pelo menos tem um canivete” e que as Forças Armadas brasileiras nunca iniciam conflitos. A estratégia de defesa nacional, diz ele, se dá pela “presença” e pela “dissuasão”.

“O mais forte, por exemplo, se quiser vir ao Brasil, vai brigar com um cara que pelo menos tem um canivete, que pode ferir ele na barriga, e ele sangrar e morrer”, afirmou. O vice-presidente, por outro lado, afirmou que Brasil e EUA têm uma relação secular e que não há tensão entre as duas nações.

Mourão também voltou a comentar a proposta de expropriação de terras quando há registros de crimes ambientais. A proposta consta em apresentação e documentos elaborados pelo Conselho Nacional da Amazônia Legal —o qual preside— e encaminhados a ministérios.

Após o presidente ter dito que a ideia era um “delírio” e ameaçar com “cartão vermelho” os defensores do projeto, com exceção de quem for “indemissível”, Mourão disse que não conversou com Bolsonaro sobre o assunto, mas que concorda em fazer o que o chefe do Executivo desejar.

Ao comentar as polêmicas recentes envolvendo o presidente, entre as quais a fala sobre usar "pólvora" quando a "saliva" (diplomacia) já não for suficiente, Mourão disse que "a gente tem que prestar atenção mais nas ações [do presidente] do que nas palavras”. Em seguida, usou uma analogia militar: “Paraquedista quando sai do avião não volta mais”.

O ministro da Defesa, Fernando Azevedo, participou nesta sexta de um seminário sobre defesa nacional com os chefes das Forças Armadas e não comentou as declarações de Bolsonaro.

Ele, porém, ressaltou que o Brasil é "um país pacífico, em busca da paz sempre", ainda que tenha ponderado em mais de uma oportunidade que “não existe país pacífico sem ser forte”.

O ministro destacou, ainda, que as Forças Armadas estão inseridas na "democracia plena" e que suas funções estão descritas na Constituição de 1988. Também não deixou de exaltar o papel do Exército, da Força Aérea Brasileira e da Marinha do Brasil para o desenvolvimento do país.

Por fim, Azevedo elencou o que considera realizações do governo Bolsonaro: "Reestruturação da carreira, atualização do Plano Nacional de Defesa, da Estratégia Nacional de Defesa e recuperação da capacidade operacional" das Forças Armadas.

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