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Ao receber Nobel da Paz, agência da ONU diz que pandemia de fome pode ofuscar Covid-19

Programa Mundial de Alimentos, maior agência humanitária de combate à fome do planeta, recebe prêmio em cerimônia virtual

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Oslo | AFP

O Programa Mundial de Alimentos (PMA) recebeu o prêmio Nobel da Paz nesta quinta-feira (10) em uma cerimônia virtual, e seu diretor advertiu a comunidade internacional de que a "pandemia de fome" pode ter efeitos mais graves que a de coronavírus —que já deixou mais de 1,5 milhão de mortos em todo o mundo.

"Devido às guerras, às mudanças climáticas, ao uso generalizado da fome como arma política e militar e a uma pandemia mundial que agrava tudo isto, 270 milhões de pessoas vão passar fome", afirmou o americano David Beasley, diretor do PMA. "Falhar em atender suas necessidades causará uma pandemia de fome que ofuscará o impacto da Covid-19."

A entidade, ligada à Organização das Nações Unidas (ONU) e considerada a maior agência humanitária de combate à fome do mundo, foi anunciada como vencedora do Nobel da Paz em outubro pelos esforços em combater a fome e evitar que ela seja usada como arma em conflitos, afetando sobretudo os civis.

O diretor do Programa Mundial de Alimentos, David Beasley, durante cerimônia virtual em que recebeu Nobel da Paz - Rein Skullerud - 10.dez.20/Reuters

Em um discurso transmitido da sede do PMA, em Roma, Beasley disse que o prêmio é "muito mais que um agradecimento, é um apelo à ação". O americano também não escondeu a irritação com a triste ironia de que, com toda a riqueza produzida no mundo, a fome ainda esteja "nas portas da humanidade".

"Quando não temos dinheiro nem o acesso de que precisamos, temos que decidir quais crianças comem e quais crianças não comem, quais crianças vivem e quais crianças morrem", disse. "Por favor, não nos peçam para decidir quem vai viver e quem vai morrer. Vamos alimentar todos!"

A presidente do comitê do Nobel, a norueguesa Berit Reiss-Andersen, disse que o PMA "representa exatamente o tipo de cooperação e de compromisso internacional de que o mundo precisa de maneira desesperada hoje".

Em outubro, ao anunciar a premiação, Reiss-Andersen afirmou que “a necessidade de solidariedade internacional é mais importante que nunca” e que "até que tenhamos uma vacina [contra o coronavírus], comida é a melhor vacina contra o caos".

A pandemia alterou os planos da premiação neste ano. Houve uma cerimônia mínima em Oslo, na Noruega, onde acontece a entrega do Nobel da Paz, e em Estocolmo, na Suécia, onde são entregues os demais prêmios (Literatura, Medicina, Física, Química e Economia).

Os jantares de gala e outras solenidades foram substituídos por discursos virtuais e modestas entregas de medalhas nos locais de residência dos premiados. O comitê do Nobel espera a possibilidade de realizar eventos presenciais nos próximos meses.

Na edição de 2020, a láurea de Medicina foi para a descoberta do vírus da hepatite C. Foram premiados Harvey Alter, dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH), Michael Houghton, da Universidade de Alberta, e Charles Rice, da Universidade Rockefeller.

Já a láurea de Física ficou com os pesquisadores Roger Penrose, Reinhard Genzel e Andrea Ghez, que melhoraram o entendimento humano sobre buracos negros.

O prêmio da Química foi para Emmanuelle Charpentier, do Instituto Max Planck, da Alemanha, e Jennifer Doudna, da Universidade da Califórnia, em Berkeley, pelo desenvolvimento do método Crispr/Cas9 (pronuncia-se "crísper") de edição do genoma utilizada na busca da cura para doenças genéticas e câncer.

A láurea de Literatura foi para a poeta americana Louise Glück, por sua "voz poética inconfundível que, com beleza austera, torna universal a existência individual".


Quando o Programa Mundial de Alimentos começou?
O PMA foi criado em 1961 a pedido do então presidente dos Estados Unidos, o republicano Dwight Eisenhower. A princípio, tratava-se de um experimento para testar a capacidade da ONU de entregar ajuda humanitária alimentar.

A primeira operação aconteceu em 1962, no Irã, quando um terremoto que atingiu a região noroeste do país deixou mais de 12 mil mortos.

Em 1965, o PMA ganhou status permanente. Sua sede fica em Roma, na Itália.

O que o PMA faz?
Ele é o braço da ONU dedicado à entrega de assistência alimentar em emergências humanitárias. Ele também desenvolve trabalhos com comunidades de todo o mundo para melhorar os índices de nutrição e garantir segurança alimentar.

Segundo a ONU, o programa tem 5.600 caminhões, 30 navios e quase 100 aviões entregando alimentos todos os dias.

Em 2019, o PMA ajudou 97 milhões de pessoas.

Durante a pandemia do novo coronavírus, o programa enviou ajuda médica a mais de 120 países, além de transportar trabalhadores humanitários e da saúde em regiões onde os voos comerciais foram suspensos.

Onde ele atua?
Atualmente, o PMA atua em emergências alimentares em duas regiões e quatro países: Sahel (África) e nordeste da Nigéria; República Democrática do Congo, Sudão do Sul, Síria e Iêmen.

De onde vêm os recursos?
O PMA tem o segundo maior orçamento entre as agências da ONU, ficando atrás apenas do Departamento de Operações de Paz. Em 2018, recebeu US$ 6,8 bilhões (R$ 37,5 bilhões no câmbio atual), o equivalente a 13% do orçamento total das Nações Unidas.

O PMA é financiado também por doações voluntárias, principalmente de governos, mas também de empresas e doadores privados. Em 2019, arrecadou US$ 8 bilhões (R$ 44,2 bilhões)

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