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Assassinatos de jornalistas em países que não estão em guerra aumentam, aponta relatório

Documento da ONG Repórteres Sem Fronteiras registra morte de 50 profissionais de imprensa em 2020

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Carole Guirado
Paris | AFP

Com 50 jornalistas assassinados, a maioria dos quais em países que não estão em guerra, e quase 400 profissionais detidos, segundo a ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), 2020 também será lembrado pelas múltiplas violações do direito à informação.

O número permanece estável em comparação aos 53 jornalistas assassinados no ano passado, embora em 2020 tenham sido realizadas menos reportagens devido à Covid-19, constata a RSF em seu balanço anual, publicado nesta terça-feira (29). Em 10 anos, a ONG registrou 937 jornalistas assassinados.

O percentual de profissionais de imprensa mortos em países em guerra diminui desde 2016, passando de 58% a 32% nos últimos quatros anos em países como Síria, Iêmen ou outras "zonas afetadas por conflitos de intensidade baixa ou média", como Afeganistão ou Iraque.

O secretário-geral da ONG Repórteres Sem Fronteiras, Christophe Deloire, discursa durante protesto em Paris
O secretário-geral da ONG Repórteres Sem Fronteiras, Christophe Deloire, discursa durante protesto em Paris - Stephane de Sakutin - 15.out.10/AFP

Em 2020, no entanto, 34 jornalistas (68% do total) morreram em países que estão em paz, destaca a RSF, que estabeleceu o balanço de 1º de janeiro a 15 de dezembro. O México foi o país com mais jornalistas assassinados, com oito, seguido por Índia (4), Paquistão (4), Filipinas (3) e Honduras (3).

Entre os jornalistas mortos em 2020, 84% foram assassinados de maneira deliberada —em 2019 o índice foi 63%. "Alguns morreram em condições particularmente bárbaras", lamenta a RSF.

Foi o caso dos repórteres mexicanos Julio Valdivia Rodríguez, do jornal El Mundo de Veracruz, decapitado na região sudeste do país, e Víctor Fernando Álvarez Chávez, esquartejado na cidade de Acapulco.

Na Índia, o jornalista Rakesh Singh "Nirbhik" foi queimado vivo, e o repórter Isravel Moses, correspondente do canal de televisão de Tamil Nadu, assassinado com um machado. O Irã também condenou à morte e executou por enforcamento Ruhollah Zam, diretor do canal de Telegram Amadnews.

"Uma parte da população considera que jornalistas são vítimas dos riscos da profissão, apesar de cada vez mais serem alvos de ataques quando estão investigando temas sensíveis. O que acaba sendo enfraquecido é o direito à informação", afirma Christophe Deloire, secretário-geral da RSF.

Quase 20 repórteres investigativos foram assassinados nos últimos 12 anos. Dez estavam investigando casos de corrupção local, quatro trabalharam em reportagens sobre a máfia e o crime organizado e três sobre temas relacionados ao meio ambiente.

A RSF também registrou a morte de sete jornalistas no momento em que cobriam manifestações no Iraque, na Nigéria e na Colômbia, um "fato novo", destaca a ONG.

Na primeira parte do balanço anual, publicado em meados de dezembro, a RSF já havia lamentado a detenção de 387 jornalistas durante o ano, um "número historicamente elevado". A ONG também destacou as consequências da pandemia, com um "pico nada desprezível de violações da liberdade da imprensa", favorecido por "leis de exceção ou pelas medidas de emergência adotadas" na maioria dos países.

De acordo com a RSF, que em março criou o Observatório 19, dedicado ao tema, as detenções quadruplicaram entre março e maio. "De mais de 300 incidentes diretamente relacionados com a cobertura jornalística da crise de saúde entre fevereiro e o fim de novembro, nos quais estiveram envolvidos quase 450 jornalistas, as detenções e as prisões arbitrárias representam 35% dos abusos registrados" (à frente da violência física ou psíquica)".

"A liberdade de imprensa está em declínio em todas as partes", adverte também em seu relatório anual a Federação Internacional de Jornalismo, que contabiliza 2.658 profissionais mortos desde 1990.

Segundo a organização, 90% dos assassinatos "foram pouco investigados ou não foram investigados".

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