Países vetam voos e isolam Reino Unido para tentar frear mutação do coronavírus

Com maior risco de contágio, nova variação do patógeno já foi encontrada em vários lugares

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São Paulo

Começou com a Holanda, mas a disseminação foi rápida: entre a noite de sábado (19) e este domingo (20) diversos países suspenderam as viagens oriundas do Reino Unido.

Os vetos vieram um dia após o governo britânico endurecer o lockdown em Londres e em outras cidades, para tentar conter uma mutação do coronavírus.

Estação de St.Pancras, em Londres, horas antes de bloqueio entrar em vigor - Reprodução/Twitter

Até às 20h deste domingo, ao menos 13 países haviam determinado restrições a viajantes vindos do Reino Unido: Alemanha, Arábia Saudita Bélgica, Bulgária, El Salvador, França, Holanda, Irã, Irlanda, Israel, Itália, Suíça e Turquia.

O Conselho Europeu fará uma reunião na manhã desta segunda (21) para debater um plano de ação conjunto no continente.

A França anunciou que vai barrar todos os passageiros vindos do território britânico por pelo menos 48 horas a partir da noite de domingo —tanto os que chegam por ar quanto os que viajam pelo mar, por ferrovias ou estradas.

Alemanha e Itália seguiram os holandeses e vetaram os voos, enquanto a Irlanda restringiu aviões e balsas chegando do vizinho. A Bélgica fechou as portas aos aviões e aos trens —incluindo o Eurostar.

A Áustria anunciou que estuda adotar medida semelhante, e a Espanha pediu que os países tomem ações coordenadas sobre o assunto.

Na noite de domingo, a Arábia Saudita fechou o país para todos os voos comerciais internacionais, por uma semana. A medida também veta a entrada de estrangeiros por terra ou mar, pelo mesmo período.

Passageiro no aeroporto Fiumicino, em Roma (Itália), após o governo suspender voos vindos do Reino Unido
Passageiro no aeroporto Fiumicino, em Roma (Itália), após o governo suspender voos vindos do Reino Unido - Resmo Casilli/Reuters

As suspensões foram anunciadas no dia seguinte ao que o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, endureceu as restrições ao contato social em Londres e partes do sudeste da Inglaterra até 30 de dezembro, citando como razão a disseminação da nova variação identificada do patógeno.

Essa nova versão do vírus é 70% mais infecciosa, segundo o governo do Reino Unido. No entanto, ainda é preciso fazer estudos mais aprofundados para confirmar esse dado.

Pesquisas iniciais apontam que a nova mutação tem maior habilidade para entrar nas células humanas, o que aumenta seu poder de contágio. Essa vantagem ocorre por alterações no chamado “spike”, a parte usada pelo vírus para forçar a entrada nas células.

Mutações em vírus, no entanto, são corriqueiras. Conforme o patógeno se reproduz, as novas versões possuem detalhes levemente diferentes das anteriores, embora a maior parte siga igual. Hoje há várias versões do coronavírus circulando.

Com o tempo, variações mais eficientes acabam se proliferando mais. Um dos pontos que preocupam o governo britânico é que o essa nova variedade já representa dois terços dos novos casos de infecção registrados em Londres.

As vacinas são projetadas para gerar defesas no corpo capazes de atingir o vírus de várias formas. Assim, pequenas mudanças tendem a não afetar a eficácia delas.

As imunizações só precisam ser refeitas em caso de grandes mutações, o que parece não ser o caso atual. Autoridades de saúde disseram neste domingo que as vacinas atuais contra o coronavírus devem dar conta de combater essa nova versão.

Segundo análises iniciais, a mutação não tornou o vírus mais letal ou com maior capacidade de gerar complicações.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) disse que não há evidências de qualquer alteração na gravidade da doença, embora esse ponto também esteja sendo investigado.

A instituição afirmou, no entanto, que a cepa em questão “também pode afetar a eficácia de alguns métodos de diagnóstico, segundo dados preliminares”, disse um porta-voz.

A entidade pediu aos seus membros europeus que fortaleçam suas ações de controle contra a pandemia.
Fora do território britânico, alguns casos foram notificados na Dinamarca, na Holanda e na Austrália.

O ministro da Saúde da Itália também confirmou caso da mutação do vírus naquele país, em um paciente que chegou a Roma vindo do Reino Unido há alguns dias. Ele já está em quarentena, de acordo com o governo.

Autoridades na África do Sul, que também relataram uma variante diferente na sexta (18), acreditam que a mutação estaria por trás do aumento das infecções. De acordo com a OMS, essa é uma hipótese em investigação.

O ministro da Saúde britânico, Matt Hancock, alertou a população que os próximos meses podem ser difíceis até que pessoas mais velhas e vulneráveis sejam vacinadas. Ele disse que o governo não teve escolha depois que dados mostraram uma mais rápida propagação da Covid-19 devido à mutação do vírus.

“É um desafio enorme. É o que enfrentaremos nos próximos meses”, afirmou Hancock ao canal Sky News.

As atuais restrições, que foram desenhadas para separar Londres e as cidades ao redor dela do resto do Reino Unido, levaram a uma corrida às estações de trem. No terminal de St. Pancras, na capital, de onde sai a concorrida linha Eurostar, milhares de viajantes tentavam assegurar lugares no últimos trens do sábado.

“Conseguimos as duas últimas passagens de hoje”, disse à agência de notícias Reuters um francês chamado Leny. “Tínhamos tíquetes para segunda e terça, mas dada a situação e o que está ocorrendo não quisemos arriscar. E fomos os últimos a conseguir.”

Anunciadas às vésperas do Natal, as medidas são as mais severas que o governo britânico já tomou desde o lockdown nacional que vigorou em março e refletem o medo de que a nova variante pudesse aumentar a transmissão do vírus durante o inverno.​

Alarmado, o premiê britânico mudou radicalmente a estratégia de enfrentamento da pandemia no sábado (19) e impôs o novo lockdown.​

A decisão veio depois de o governo ser informado sobre novas evidências de uma variante do vírus que já havia sido detectada em Kent, ao sudeste de Londres.

Os moradores dessas regiões agora estão sob o nível de alerta mais alto: a orientação é para que todos fiquem em casa e que os comércios considerados não essenciais permaneçam fechados.

Pubs, restaurantes e museus já estão proibidos de abrir desde o final de semana passado, e os deslocamentos para fora dessa área estão suspensos.

Também não será possível realizar reuniões com moradores de outras casas —nas áreas que não estão em alerta máximo, os encontros devem acontecer em um único dia.


Entenda a mutação


O que é essa variação?
Uma versão do novo coronavírus que tem maior facilidade para entrar nas células, o que a torna mais contagiosa. O governo britânico disse que essa versão é 70% mais transmissível do que as anteriores, mas os estudos ainda são preliminares.

Como ela surgiu?
Os vírus se multiplicam dentro das células humanas, fazendo novas versões de si mesmos. Essas “cópias” costumam ser ligeiramente diferentes da versão que as originou. Assim, o surgimento de novas variações já era esperada pelos cientistas.

Essa versão é mais letal?
Segundo dados iniciais, não.

As vacinas darão proteção contra essa nova mutação?
Há quase certeza que sim. Uma mudança capaz de fazer o vírus resistir às vacinas deve levar anos para ocorrer.

Onde essa nova mutação já foi encontrada?
Reino Unido, Holanda, Dinamarca e Austrália.

Com AFP e Reuters  

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