Descrição de chapéu Governo Biden

Biden acende alerta de conflito de interesses ao escolher membros de influente consultoria

Nomeações geram desconfiança sobre atuação empresarial de autoridades do alto escalão do governo

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Washington | AFP

A decisão do presidente eleito dos EUA, Joe Biden, de escolher diversos membros de uma consultoria privada de Washington para ocupar cargos em seu governo levanta dúvidas se as nomeações abrem brechas para a prática de lobby dentro da Casa Branca. Os indicados ao alto escalão do gabinete do democrata atuaram, nos últimos anos, como consultores de empresas da área de segurança nacional.

O indicado para ser o chefe da diplomacia dos EUA, Antony Blinken, a nomeada à posição de diretora de Inteligência, Avril Haines, e a porta-voz do governo, Jen Psaki, por exemplo, trabalharam para a empresa de consultoria WestExec Advisors.

Além disso, o general aposentado Lloyd Austin, escolhido pelo democrata para chefiar o Departamento de Defesa, não é apenas um conselheiro da companhia, mas um dos diretores do fundo de investimentos da WestExec Advisors, o Pine Island Capital Partners.

Caso confirmado no cargo, Austin, que liderou as forças americanas no Iraque entre 2010 e 2011, será o primeiro homem negro a se tornar secretário de Defesa e comandará todo o aparato militar dos EUA.

O general aposentado Lloyd Austin durante audiência no Senado americano
O general aposentado Lloyd Austin durante audiência no Senado americano - Brendan Smialowski - 8.mar.16/AFP

Mas há resistências ao nome dele, principalmente entre senadores democratas, devido ao histórico militar. A lei americana diz que o secretário de Defesa deve preferencialmente ser um civil para garantir o equilíbrio no comando da segurança do país.

De acordo com a imprensa americana, Biden também pensa em convidar outro conselheiro do WestExec, David Cohen, para ser seu diretor da CIA, a principal agência de Inteligência dos Estados Unidos.

Após quatro anos de denúncias de conflito de interesses contra Donald Trump, o novo presidente tem sido criticado por recorrer a nomes da consultoria privada, que tem laços estreitos com a indústria de defesa.

"Agora cabe ao governo Biden e a esses indicados mostrar que tomarão medidas prudentes para evitar qualquer conflito de interesses", disse o diretor da ONG anticorrupção Citizens for Responsibility and Ethics (cidadãos pela responsabilidade e ética), Noah Bookbinder.

Para ele, o próximo governo deve tirar lições do desprezo que Trump demonstrou por regras éticas.

A WestExec, cujo nome vem de West Executive Avenue, uma pequena rua que separa a Casa Branca do grande edifício que abriga a maioria dos escritórios do Executivo americano, o Eisenhower Executive Office Building, foi criada em 2017 para acolher membros do governo Barack Obama após a eleição de Trump. A empresa oferece assessoria estratégica a companhias em questões de segurança e defesa.

Alguns veem as práticas dessa firma como uma forma de lobby, ou seja, o uso de redes de influência para convencer altos funcionários e parlamentares a modificarem projetos de lei para beneficiar seus clientes.

Nos EUA, escândalos de corrupção levaram o Congresso a impor regras rígidas a esses grupos de pressão, incluindo a obrigação de identificar as empresas para as quais trabalham. Mas consultorias e seus funcionários ficaram de fora dessa norma e não precisam divulgar os nomes de seus clientes.

A revista especializada The American Prospect e o jornal The New York Times identificaram alguns clientes da WestExec que têm ligações com o governo, caso do fabricante de drones Shield AI, contratado pelo Pentágono; da Schmidt Futures, administrada pelo ex-presidente do Google Eric Schmidt; ou da empresa israelense Windward, especialista em inteligência artificial.

O fundo de investimento da WestExec, o Pine Island, levantou US$ 283 milhões (R$ 1,4 bilhão, na cotação desta quinta) para investir em empresas da área de defesa. O fundo é dirigido por Blinken e Austin.

Para Richard Painter, ex-conselheiro jurídico da Casa Branca, o problema é a falta de transparência das empresas de consultoria estratégica. "Brechas legais como essa se multiplicaram sob Trump e devem ser removidas. Os nomes dos clientes devem ser divulgados pelo menos para os encarregados das questões éticas, caso não sejam tornados públicos", escreveu ele no Twitter.

Painter afirma que ex-clientes dos integrantes do governo Biden deveriam revelar suas conexões. E, se eles se recusarem a fazê-lo, deveriam ser proibidos de participar de reuniões com esses funcionários.

Para Bookbinder, as consultorias têm ganhado mais espaço que os lobistas tradicionais, mas esse movimento não tem resultado em maior transparência nas relações.

Segundo ele, os integrantes do novo governo terão de divulgar seus bens, vendê-los e se declarar incompetentes em caso de conflito de interesses: "Vamos observar tudo isso com atenção", alerta.

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