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Com UTIs lotadas na capital, Suécia tenta aprovar lei que permite restrições severas contra Covid-19

Limite à autoridade do governo é argumento para posição do país como exceção global na resposta à pandemia

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Estocolmo | Reuters

Em meio a uma nova alta de casos de Covid-19, o governo da Suécia propôs, nesta quarta-feira (9), uma legislação temporária para expandir as possibilidades de combate à pandemia de coronavírus que, se aprovada, dará ao Executivo sueco maior margem de manobra para implementar restrições mais severas.

O projeto de lei será submetido a uma revisão feita por agências especializadas e autoridades sanitárias, bem como lideranças partidárias, antes de uma votação no Parlamento. Se passar, entrará em vigor em 15 de março, com validade de pouco mais de um ano.

Atualmente, a legislação sueca limita a autoridade do governo para implementar medidas de controle epidemiológico —um dos principais argumentos para o país ter se posicionado como uma exceção global ao dispensar restrições muito rígidas.

A ministra da Saúde da Suécia, Lena Hallengren, durante entrevista coletiva em Estocolmo - Henrik Montgomery/ TT News Agency - 11.nov.20/Reuters

De acordo com o texto da nova proposta, o governo passaria a ter mais poderes para adaptar e impôr novas medidas contra o avanço da Covid-19, como coibir aglomerações, alterar horários de funcionamento de estabelecimentos comerciais e, como último recurso, determinar um "lockdown".

"Mas um fechamento é, obviamente, muito intrusivo", disse a ministra da Saúde, Lena Hallengren, em entrevista coletiva. "Esse tipo de decisão precisaria ser submetido ao Parlamento."

Questionada sobre a eficácia da lei temporária, considerando que a Suécia espera começar a vacinar grupos de risco da população em janeiro, a ministra respondeu dizendo que era importante ter regulamentos flexíveis para garantir que as pessoas continuem a seguir as recomendações de segurança mesmo com a vacinação em andamento.

"Não estamos livres da pandemia, embora uma vacina seja uma luz no horizonte", disse Hallengren.

A abordagem pouco ortodoxa que deixou a Suécia na contramão do resto do mundo, ao evitar medidas como bloqueios e obrigatoriedade do uso de máscaras, além de pautar sua resposta à pandemia na adesão voluntária da população, começou a mudar à medida em que uma nova alta de casos acendeu um alerta para as autoridades.

Em novembro, o primeiro-ministro Stefan Lofven deu um sinal da mudança de tom ao reduzir o número de pessoas permitidas em eventos públicos de 300 para 8 e ao convocar a população a assumir "a responsabilidade de impedir a propagação da infecção", sob advertências de que a situação epidemiológica do país ia piorar.

E, de fato, piorou. O país registrou um recorde de 7.935 casos diários nesta quinta-feira (10), de acordo com dados da Agência de Saúde Pública da Suécia. Os óbitos voltaram a subir em novembro, mas ainda estão distantes dos picos registrados em março e abril. Nesta quinta, houve 58 mortes —o maior número diário foi 115, em 14 de abril.

No acumulado, a Suécia confirmou, até esta quinta, mais de 312 mil casos e 7.354 mortes por coronavírus, de acordo com dados compilados pela Universidade Johns Hopkins.

Outro índice crescente que vem preocupando as autoridades é o crescimento do número de pacientes infectados que demandam leitos intensivos. Em Estocolmo, a taxa de ocupação das UTIs chegou a 99% nesta quarta.

"Precisamos de ajuda", disse Bjorn Eriksson, chefe do serviço de saúde da capital sueca, em entrevista coletiva na qual apelou às autoridades nacionais para enviar enfermeiros especializados e outros profissionais de saúde para aumentar a capacidade de atendimento da região.

Eriksson também pediu uma adesão maior da população às diretrizes do governo para ajudar a aliviar a pressão sobre o sistema de saúde. "Já chega. Simplesmente não pode valer a pena tomar drinques depois do trabalho e correr para comprar presentes de Natal. As consequências são horríveis", disse.

Entre os argumentos da Suécia para evitar as restrições mais severas até este momento estavam a legislação do país (que agora pode mudar), a baixa densidade populacional (que reduz o número de encontros entre as pessoas), o fato de que metade dos suecos mora sozinha (evitando a transmissão doméstica) e o alto grau de adesão da população às recomendações do governo.

Em maio, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, citou a Suécia como modelo a ser seguido, embora os números contrariassem seus argumentos. Mesmo assim, o país se tornou referência para grupos políticos que se posicionam contra medidas restritivas de combate à pandemia.

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