Depois de protesto, Cuba bloqueia redes sociais e coloca ativistas em prisão domiciliar

Ação foi tomada após manifestação contra regime em frente ao Ministério da Cultura

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Havana | Reuters

Autoridades cubanas colocaram cerca de uma dezena de artistas e ativistas em prisão domiciliar e interromperam temporariamente o acesso às redes sociais no país após um raro protesto pelos direitos humanos há duas semanas.

As informações foram dadas nesta quinta-feira (10) respectivamente por dissidentes e pela organização NetBlocks, que monitora a liberdade da internet no mundo.

Artistas e ativistas participam da manifestação contra o regime na frente do Ministério da Cultura, em Havana
Artistas e ativistas participam da manifestação contra o regime na frente do Ministério da Cultura, em Havana - Yamil Lage - 27.nov.20/AFP

Centenas de pessoas participaram de uma manifestação em 27 de novembro na frente do Ministério da Cultura de Cuba para pedir maior liberdade de expressão. Protestos contra o regime são bastante incomuns na ilha.

O ato mostrou fortalecimento da sociedade civil cubana na esteira da chegada da internet móvel ao país, há dois anos, e conseguiu atrair amplo apoio na classe artística. Representantes do Ministério da Cultura conversaram com um grupo de manifestantes na noite de protesto e chegaram a iniciar um diálogo com os ativistas, em uma ação sem precedentes por parte do regime.

No dia seguinte, porém, o Estado —que detém o monopólio da mídia de massa no país— deu início a uma série de críticas e ataques retóricos contra os manifestantes, acusando-os de serem mercenários dos Estados Unidos com o objetivo de desestabilizar o governo. Na semana passada, o regime interrompeu as negociações com os manifestantes.

Os ativistas, em sua maioria jovens usuários de novas tecnologias, acusam o governo de usar tática dos tempos da Guerra Fria. Assim, eles recorrem às redes sociais —que têm alcance limitado na ilha— para documentar as ações repressoras do Estado, que poderiam passar despercebidas.

O site de jornalismo de dados Inventario, por exemplo, publicou mapas que mostram as casas das pessoas mantidas em prisão domiciliar desde o protesto, como a da artista Tania Bruguera.

O governo cubano não respondeu a um pedido da agência de notícias Reuters para comentar o assunto.

Ativistas disseram esperar que o regime afrouxe um pouco o controle após o Dia dos Direitos Humanos, comemorado nesta quinta, quando os dissidentes costumam convocar manifestações.

"O governo cubano não tem meios políticos para lidar com a situação atual e está recorrendo a estratégias que não funcionam mais", disse Bruguera. A artista afirmou também que foi detida brevemente pela polícia quando tentou sair de casa em três ocasiões desde a noite do protesto. "Fui avisada que não posso sair e não sei até quando [isso vai continuar]."

De acordo com a NetBlocks, o acesso às redes sociais em Cuba foi parcialmente interrompido por diversas vezes desde a realização do protesto. Michael Kozak, secretário-adjunto interino para assuntos do Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado dos EUA, afirmou na quarta (9) que era o momento em Cuba para um acerto de contas entre o governo e a população.

Alguns ativistas disseram que o comentário acabou prejudicando os dissidentes, pois ele ajuda a apoiar a narrativa do regime cubano de que há intervenção americana nos protestos.

Autoridades da ilha disseram nas últimas duas semanas que a comunidade cubana que vive nos EUA tem buscado usar o protesto para fomentar uma agitação, contratando cubanos para realizar sabotagens, como atirar pedras em uma loja estatal.

Cuba também acusa Washington de ser cúmplice do terrorismo por não perseguir esses indivíduos.

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