Dono de casa onde Trump passou a infância organiza vaquinha para doá-la a presidente

Tentativas anteriores de vender a residência em Nova York, avaliada em R$ 15 milhões, fracassaram

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Sarah Maslin Nir
Nova York | The New York Times

Quando a casa onde Donald Trump viveu na infância, na região de Queens, na cidade de Nova York, foi posta à venda, quatro anos atrás, o então candidato a presidente aventou publicamente a possibilidade de comprá-la.

Agora é possível que ele não precise: o dono mais recente do imóvel está lançando uma campanha de vaquinha online para dar a residência em estilo Tudor no bairro de Jamaica Estates de presente para o presidente –assim que for alcançado o preço de US$ 3 milhões (R$ 15,3 milhões).

A manobra imobiliária incomum procura capitalizar em cima da devoção de alguns dos seguidores de Trump, na esperança de que o mesmo engajamento que os levou a comparecer aos comícios dele no meio de uma pandemia também os convença a abrirem seus bolsos.

Os vendedores do imóvel esperam que as doações também sejam movidas pelo desejo de apaziguar o republicano com um presente personalizado de despedida no momento em que seu mandato presidencial chega ao fim.

Casa de infância do presidente Donald Trump no Queens, no estilo Tudor e com cinco quartos
Casa de infância do presidente Donald Trump no Queens, em 19 de agosto de 2017. O mais recente proprietário da casa está lançando uma campanha de crowdfunding com o objetivo de dar de presente ao presidente o imóvel em estilo Tudor de cinco quartos em Jamaica Estates - uma vez que atinja a meta de US$ 3 milhões - Sam Hodgson / The New York Times

A campanha de levantamento de fundos também pode resolver outro problema que o proprietário da residência vem encarando: a incapacidade de encontrar um comprador.

A casa foi posta em leilão no outono passado, mas não alcançou o preço de reserva, disse Misha Haghani, presidente da imobiliária Paramount Realty USA, que representou o imóvel em três leilões passados.

A tentativa mais recente pede que doadores comprem a casa como presente ao presidente através da plataforma de arrecadação de fundos para fins beneficentes GoFundMe. Para Haghani, a ideia é que seja “um gesto de agradecimento”.

“Você ama Trump?”, diz a mensagem da campanha, lançada na terça-feira (8). “Agradeça ao presidente Trump, contribuindo para esta campanha para comprar a casa onde ele passou sua infância, em sua homenagem!”

A Casa Branca não respondeu a um pedido de comentário na terça-feira.

Antes da tentativa mais recente de vender o imóvel, a residência de tijolo e estuque foi adquirida por uma série de compradores especulativos que lucraram com a ascensão política de Trump.

Quarto com uma cama beliche dentro da casa de infância do presidente americano Donald Trump
Quarto dentro da casa de infância do presidente Donald Trump no Queens, em 19 de agosto de 2017. - Sam Hodgson/The New York Times

Pouco antes da posse do presidente, em 2017, a casa foi vendida por US$ 1,4 milhão (R$ 7,1 milhões), cerca de 78% acima do valor pelo qual foi vendida em 2008, US$ 782.500 (R$ 3,7 milhões). Em um leilão, o comprador a revendeu rapidamente ao proprietário mais recente por US$ 2,14 milhões (R$ 10,92 milhões) –mais que o dobro de seu valor avaliado com base em imóveis comparáveis na mesma área.

É claro que Trump já possui dezenas de imóveis, e, após anos de trocas de insultos com líderes de sua cidade natal, ele recentemente transferiu sua residência oficial para a Flórida. A esperança do proprietário não é necessariamente que Trump volte a morar em 85-15 Wareham Place, onde viveu até os 4 anos de idade, mas que doe o imóvel a uma entidade beneficente de sua escolha ou, possivelmente, instale uma biblioteca presidencial ali. A casa foi construída em 1940 pelo incorporador imobiliário Fred C. Trump, pai do atual presidente.

“Tecnicamente falando, Trump pode aceitar a casa e dizer ‘que ótimo, acabo de ganhar mais um imóvel para somar ao meu império’, mas ele não fará isso”, disse Haghani. “Acredito que se o presidente aceitar a casa, fará com ela alguma coisa para honrar sua presidência. Ou isso ou ele a doará a alguma organização beneficente.”

A casa da infância de Trump não é a única residência presidencial à venda na cidade: o apartamento de três quartos e dois banheiros na rua West 114th, em Manhattan, onde o ex-presidente Barack Obama viveu quando estudou na Universidade Columbia, foi posto à venda no mês passado. O preço pedido é US$1,45 milhão (R$ 7,4 milhões).

Um recorte de papelão do presidente Donald Trump em sua casa de infância no Queens, com uma televisão sobre um móvel de madeira, um sofá vermelho e uma escada lateral de acesso ao primeiro andar
Um recorte de papelão do presidente Donald Trump na entrada de sua casa de infância no Queens, em 19 de agosto de 2017 - Sam Hodgson/The New York Times

Quanto a quem é o dono atual da casa de infância de Trump, Haghani se negou a dizer. A identidade do proprietário está oculta atrás de uma empresa de responsabilidade limitada chamada Trump Birth House (Casa Natal de Trump).

Mas a transação de 2017 na qual a Trump Birth House adquiriu o imóvel foi realizada com a ajuda de um advogado especializado em representar compradores chineses em transações imobiliárias internacionais.

Vizinhos do imóvel amarelo claro contaram na época que quando a casa foi posta à venda, recebeu muitas visitas de interessados que falavam chinês e tiravam fotos da residência. A imagem de empresário bem-sucedido de Trump lhe valeu muita admiração na China.

Pouco após a venda de 2017, uma pessoa com conhecimento do negócio mas que não está autorizada a falar sobre seus detalhes confirmou que a pessoa que adquiriu a casa onde o presidente viveu na infância é uma mulher chinesa. Mas ele não revelou o nome dela.

Por algum tempo enquanto esteve nas mãos da Trump Birth House a residência foi oferecida para aluguel na Airbnb, por US$ 815 (R$ 4.150) por noite. Um recorte de papelão de Trump saudava os visitantes, e os hóspedes podiam dormir num quarto com uma placa informando que era onde “o presidente Donald J. Trump provavelmente foi concebido”.

Mas nos últimos anos o imóvel passou boa parte do tempo vazio. Algumas das únicas pessoas a entrar nele parecem ter sido funcionários de empresas de eletricidade que desligaram a energia devido às contas não pagas.

Em novembro de 2019 o imóvel voltou a ser posto em leilão pela Paramount Realty, agora com outro atrativo –a chance de observadores ganharem dinheiro adivinhando o preço correto de venda—, mas não chegou a ser vendido.

Desta vez, porém, há outros incentivos sendo oferecidos: os donos concordaram em doar para entidades beneficentes qualquer valor levantado que supere o preço de venda pedido, US$ 3 milhões. E, se a meta não for alcançada, informações na página da GoFundMe dizem que todo o dinheiro levantado será doado a entidades beneficentes. Mas os vendedores não revelaram qual entidade sem fins lucrativos pode ser beneficiada nem por quanto tempo a campanha de crowdfunding vai continuar ativa.

Trump é profundamente impopular em Nova York, onde 72% dos eleitores votaram em Joe Biden na eleição presidencial e onde protestos têm sido promovidos diante do edifício Trump Tower, no centro de Manhattan, ao longo de sua presidência. Haghani disse que não se preocupa com a possibilidade de isso afetar a venda.

“Há gente de sobra que ama Trump, incluindo as mais de 70 milhões de pessoas que votaram nele”, ele comentou.

Haghani explicou que também tem suas próprias motivações, que não são de natureza política: “Não quero ter que vender este imóvel de novo”.

Tradução de Clara Allain

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