Descrição de chapéu Venezuela

Eleição na Venezuela tem guerra de narrativas e baixa participação

Com boicote da oposição, pleito deve dar a Maduro maioria no Legislativo

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Buenos Aires

Centros eleitorais vazios, avenidas cercadas pela Guarda Nacional Bolivariana e lojas e restaurantes cheios. Essas foram as imagens mostradas pela imprensa independente da Venezuela neste domingo (6), durante o pleito legislativo no país.

Já as emissoras e os veículos que apoiam o regime do ditador Nicolás Maduro, como o canal Telesur, pintavam um quadro bem diferente, com longas filas e eleitores com camisetas e bandeiras em celebração ao chavismo.

Segundo o Observatório Contra a Fraude, vinculado à atual Assembleia Nacional —de maioria opositora—, a abstenção foi de 80%. Já o regime aponta que essa cifra foi de 69%.

Mesários aguardam eleitores em centro de votação na capital neste domingo (6)
Mesários aguardam eleitores em centro de votação na capital neste domingo (6) - Cristian Hernandez/AFP

De acordo com o PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela), sigla de Maduro, a população havia “comparecido de modo massivo, com tranquilidade e organização, aos centros de votação”.

O chanceler Jorge Arreaza, ao votar, disse que a eleição seria um “exemplo para a região” e que “mandaria um recado à nova administração dos EUA de que a Venezuela é uma democracia soberana”.

A presidente do CNE (Conselho Nacional Eleitoral, alinhado ao regime), Indira Alfonso, provocou Washington e afirmou que o resultado seria conhecido rapidamente, “ao contrário do que se viu na eleição americana”. Os números iniciais foram divulgados na madrugada de segunda (7) e apontaram vitória da coligação ligada ao regime de Maduro.

Em suas redes sociais, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, criticou a votação. “A fraude na Venezuela já foi cometida. Os resultados anunciados pelo regime ilegítimo de Maduro não vão refletir a vontade real do povo venezuelano.”

Maduro votou pela manhã, no Fuerte Tiuna, uma instalação militar, e não em seu centro de votação tradicional, no bairro pobre de Catia. “A partir de hoje, nasce uma nova era, nos damos a oportunidade de iniciar um processo verdadeiramente democrático em nossa pátria.”

O ditador também mostrou um relógio que disse ter recebido do argentino Diego Armando Maradona, morto no último dia 25. Segundo ele, o presente do ex-jogador, que era um apoiador do chavismo, costuma lhe trazer sorte.

O pleito escolherá os 227 novos integrantes da Assembleia Nacional. A votação foi boicotada pela maioria das siglas e lideranças opositoras, incluindo Juan Guaidó e seus aliados.

Além disso, houve casos em que partidos e políticos foram proibidos de concorrer, e o ditador vetou a presença de parte dos observadores internacionais. Só foi liberada a entrada de nomes simpáticos ao regime, como os dos ex-presidentes Rafael Correa (Equador) e Evo Morales (Bolívia) e o do ex-premiê espanhol José Luis Rodríguez Zapatero.

Também foram enviados representantes de Turquia e Irã, aliados de Caracas.

A isso, soma-se o fato que a eleição foi convocada por um CNE escolhido pelo regime e sem a chancela do Parlamento, ignorando assim o que determina a Constituição. Assim, a expectativa tanto de analistas quanto da oposição é a de que o chavismo conquiste a maioria das vagas na nova legislatura.

Nesse cenário, será permitida na Assembleia apenas a presença de partidos opositores menores, que aceitam as regras do regime. Seria uma situação similar à que ocorreu em 2005, quando a oposição decidiu não participar da votação, e o então presidente, Hugo Chávez, pôde adotar medidas para centralizar o poder.

“Chegou o dia, chegou a hora, tivemos a paciência e a sabedoria para esperar essa hora e esse dia para tirarmos de cima de nós essa Assembleia Nacional nefasta, que trouxe a praga das sanções, da crueldade e da dor”, disse Maduro, no meio da tarde deste domingo.

Entre os opositores que participaram do pleito, Claudio Fermín, do Ação Democrática, defendeu o voto: “Sou contra o boicote, porque quero ter a certeza de que fiz todo o possível para participar das mudanças em meu país. Não quero depois ter de reclamar sem ter exercido meu direito e meu dever”.

Já Delsa Solorzano, do partido Primeiro Justiça, que ficou de fora do pleito, disse que “os cidadãos sabem que participar de uma fraude é ser cúmplice de corruptos responsáveis pela fome, pela desolação da falta de qualidade de vida, de água, de gás e de internet".

"Não há ninguém na rua votando, essa não é uma votação legítima.”

A atual Assembleia Nacional foi eleita em 2015 com maioria opositora, em um pleito considerado justo por observadores internacionais. Em janeiro do ano passado, ela escolheu Guaidó como seu líder e, na sequência, ele se proclamou presidente interino .

A medida teve como base artigos da Constituição que estabelecem que o presidente do Legislativo deve assumir a chefia do Executivo caso o cargo de presidente fique vago.

A oposição considera que isso aconteceu porque o pleito que reelegeu Maduro em 2018 foi marcado por fraudes —assim, Guaidó seria o comandante legítimo do país.

A estratégia até recebeu apoio de parte da sociedade venezuelana e da comunidade internacional, mas não foi suficiente para tirar o chavista do cargo. Agora, com a votação deste domingo, Guaidó e o restante da Assembleia terão que deixar oficialmente suas posições no próximo dia 5.

A eleição deste domingo foi marcada, também, pela presença dos quiosques conhecidos como “pontos vermelhos”. Depois de votarem, famílias pobres puderam comparecer a esses locais para receber caixas de comida extras.

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