Descrição de chapéu África

Final feliz para uma mãe que se perdeu da filha em meio a bombardeios na Etiópia

Otash levou um mês para reencontrar Shalom, enquanto fugia para o Sudão ao lado de milhares de refugiados

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Hamdayet (Sudão) e Genebra | AFP

Otash, uma mulher etíope, perdeu sua filha Shalom, 7, durante um bombardeio em sua cidade. E, durante semanas, procurou a menina em meio a uma guerra em andamento.

O sumiço ocorreu no dia 7 de novembro, três dias depois do início da ofensiva militar do governo da Etiópia contra dissidentes na região do Tigré.

Milhares de pessoas morreram na ofensiva ordenada pelo primeiro-ministro Abiy Ahmed, ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 2019, para lutar contra a Frente de Libertação do Povo Tigré.

Shalom ao lado de sua mãe, Otash, após se reencontrarem em campo de refugiados em Hamdayit, no Sudão - Yasuyoshi Chiba - 8.dez.20/AFP

Otash, com cerca de 30 anos, era dona de um restaurante na cidade de Humera. "Quando começaram os bombardeios e disparos, saí de casa para ver minha irmã, que está grávida", conta. "Não a encontrei e, quando voltei para casa, Shalom não estava. Procurei ela em todas as partes, mas não a encontrei. Caía uma chuva de bombas, e não tive outra opção a não ser fugir", prossegue Otash.

Ela caminhou por cerca de 30 km, até chegar à fronteira, em meio a milhares de etíopes que também buscavam um lugar seguro. Segundo a ONU, cerca de 50 mil pessoas fugiram rumo ao Sudão devido ao conflito. Quase metade deles é composta por crianças.

"Uma mulher da nossa cidade ajudava as pessoas a encontrar informações sobre pessoas desaparecidas. Disseram-me que minha filha podia estar no Sudão, então vim para cá", disse.

Duas semanas depois, ela recebeu uma ligação. Shalom não tinha saído de Humera e estava com uma família que decidiu ficar. E, apesar dos combates, estava em segurança.

Otash então ligou a um amigo, Haftom Kahsai, 29, e pediu ajuda. Ele pediu a um conhecido que levasse a menina de moto até a fronteira. "Esperei [na fronteira], e quando Shalom chegou com meu amigo, atravessei o rio em uma barca com ela. No começo, ela tinha medo, chorava", conta Kahsai. "Mas eu estava feliz de ajudar a pequena."

Finalmente, na terça (8), Shalom reencontrou a mãe no campo de Hamdayet. Otash sorria, e seus olhos se encheram de lágrimas ao acariciar de novo os cabelos de sua filha.

Na quarta (9), Michelle Bachelet, alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, disse que o conflito na Etiópia segue fora de controle. "A situação é realmente preocupante e volátil", disse Bachelet em entrevista coletiva em Genebra. "A luta continua no Tigré, apesar de o governo federal dizer o contrário."

Os refugiados no Sudão estão em acampamentos precários, isolados e sem ajuda. Segundo Bachelet, há confirmação de que ocorrem graves violações dos direitos humanos, sequestros e violência sexual.

"Foi relatado que jovens do Tigré estão sendo recrutados à força para lutar contra sua própria comunidade", afirmou a alta comissária, destacando a urgência de visitar o país para fazer uma avaliação independente da situação.

Bachelet também denunciou os entraves colocados à distribuição da ajuda. "Apesar de um acordo entre o governo e as Nações Unidas, o acesso não tem sido possível", acrescentou.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.