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Marinha dos EUA será mais agressiva contra China e Rússia em 2021

Documento do Pentágono diz que Pequim é única ameaça estratégica e que Moscou é perigo militar

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São Paulo

A Marinha dos Estados Unidos terá de ser mais agressiva em 2021 para conter as ambições da Rússia e, principalmente, da China.

É o que diz um novo relatório do Pentágono, divulgado nesta sexta (18), e assinado pelos chefes da Marinha, dos Fuzileiros Navais e da Guarda Costeira da maior potência naval do mundo.

O porta-aviões nuclear americano USS Nimitz sendo escoltado pelo cruzador USS Philippine Sea no Índico
O porta-aviões nuclear americano USS Nimitz sendo escoltado pelo cruzador USS Philippine Sea no Índico - Elliot Schaudt - 28.nov.2020/Marinha dos EUA/AFP

"A ordem internacional baseada em regras está novamente sob assalto", afirma o texto, que aponta uma série de eventos indicadores da mudança no ambiente de segurança global desde 2015.

Enquanto a Rússia, única potência com arsenal nuclear comparável ao dos EUA, segue sendo um "rival determinado", o documento foca bastante no desenvolvimento da animosidade entre Washington e Pequim.

"A China é o único rival com potencial econômico e militar combinado que apresenta uma ameaça estratégica compreensiva de longo prazo aos EUA", sentencia o Pentágono.

Mas o país de Vladimir Putin, noves fora sua força nuclear, tem flexionado músculos militares com frequência, inclusive no campo em que é considerado mais fraco, o naval. Para responder a críticas da Otan (aliança militar ocidental), mobilizou no começo de dezembro 2 de suas 4 frotas.

A chegada de Joe Biden à Casa Branca em janeiro poderá mudar o tom do confronto, mas dificilmente a percepção militar da situação será alterada.

Na última década, Pequim engajou-se num programa amplo de renovação e expansão de sua Marinha. Colocou dois porta-aviões no mar e tem outros dois em construção.

Mais importante, militarizou uma série de ilhotas e atóis no mar do Sul da China, dando materialidade à sua questionada pretensão de controlar 85% daquelas águas territoriais.

A região é hoje, ao lado do estreito que separa a ditadura comunista de Taiwan, ilha que considera sua, o principal ponto de atrito geopolítico entre chineses e americanos. O mar do Sul da China é a principal rota de entrada e saída do comércio chinês, e com pontos de fácil bloqueio naval.

Ao longo deste ano, no escopo maior da Guerra Fria 2.0 promovida por Donald Trump contra Xi Jinping, forças americanas fizeram diversas operações de liberdade de navegação naquele mar. No começo do mês, foi anunciada a reativação de uma frota no oceano Índico, aumentando o cerco à China.

Nessas ações, dois ou três navios transitam por águas que consideram internacionais, apesar das reivindicações de Pequim. As Nações Unidas negaram a pretensão chinesa num julgamento em 2016, que o país não reconhece.

Por sua vez, Pequim aumentou o número de exercícios navais e a capacidade de ataque de sua Força Aérea na região. Em agosto, os chineses usaram manobras agressivas de barcos de patrulha para afastar um destróier americano do arquipélago de Paracel, uma das áreas mais disputadas do mar do Sul da China.

Em Taiwan, as incursões que obrigam Taipé a enviar caças para interceptar aeronaves chinesas são quase diárias.

A China, diz o Pentágono, "procura corroer a governança marítima internacional, impedir acesso a entrepostos logísticos tradicionais, inibir a liberdade dos mares, controlar o uso de pontos de estrangulamento, coibir nosso engajamento em disputas regionais e remover os EUA como o parceiro preferido de países em todo o mundo".

Como seria previsível em documentos alarmistas, o Pentágono pede investimentos e aumento de sua frota. Enquanto isso, a Marinha deve "aceitar riscos táticos calculados e adotar uma postura mais assertiva nas nossas operações cotidianas".

Parece um convite para algum erro, já que ninguém espera uma guerra aberta entre as potências. Em novembro, um destróier americano conduzia uma dessas operações de liberdade de navegação no Pacífico quando entrou na baía de Pedro o Grande, um dos pontos mais defendidos da costa oriental russa.

Outro destróier de Moscou foi enviado e ameaçou abalroar o navio americano, obrigando-o a fugir. A levar em conta o tom do relatório naval, incidentes como esse irão se multiplicar em 2021.

O texto afirma que, em caso de uma confrontação militar, tanto russos quanto chineses "provavelmente tentarão tomar territórios", sem especificar de que região estavam falando —a experiência da anexação russa da Crimeia da Ucrânia, em 2014, vem à cabeça e combina com os exercícios ocidentais frequentes no mar Negro.

A Marinha, portanto, deverá estar pronta para dissuadir tais iniciativas.

Os planejadores militares temem vantagens assimétricas, como por exemplo o fato de a China poder usar poderio aéreo contra navios americanos em águas próximas de seu território, ou a interdição da região do mar Báltico pelos sistemas de mísseis russos baseados em Kaliningrado.

Na medição bruta de força, contudo, as Marinhas são incomparáveis. Os EUA têm 110 cruzadores, destróieres e fragatas, ante 83 da China e 32 da Rússia.

Os americanos operam 14 submarinos nucleares, contra 10 russos e 4 chineses, empatando com Pequim em modelos de ataque convencionais (53 contra 54, enquanto Moscou tem 39).

Mas só os EUA têm porta-aviões nucleares no grupo, 11 deles, formando uma inigualável força de projeção de poder. Os chineses operam dois convencionais e os russos mal conseguem tirar o seu único do estaleiro.

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