Descrição de chapéu Coronavírus Natal

No Natal vazio da pandemia, Terra Santa amarga perdas com turismo e comércio

Após anos de crescimento no turismo natalino, israelenses e palestinos enfrentam queda drástica

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Tel Aviv

Se, em dezembro do ano passado, a Terra Santa recebia o maior número de visitantes de sua história, as festas de fim de ano de 2020 serão como tudo mais na era coronavírus: estranhas e com muito distanciamento social.

Nada de celebrações de Natal para milhares de peregrinos cristãos, procissões e multidões de fiéis em missas nas Igrejas da Natividade, do Santo Sepulcro e da Anunciação. Nada de encontros das famílias cristãs para a ceia de Natal e judaicas para acender as velas de Chanucá (a Festa das Luzes). E nada de festas de Ano-Novo em bares e restaurantes.

No dia 28 de novembro, o padre franciscano Francesco Patton, custódio da Terra Santa, deu o pontapé inicial para as festividades de Natal na região com uma missa numa quase deserta Igreja da Natividade, em Belém, na Cisjordânia.

O patriarca latino de Jerusalém, Pierbattista Pizzaballa, admitiu que o Natal de 2020 será “menos festivo” por causa das restrições. “Mas nada nos impedirá de expressar o verdadeiro significado do Natal que é fazer um ato de amor”, ponderou.

Lojista almoça diante de loja vazia por conta da pandemia em Belém - Hazem Bader - 20.dez.20/AFP

Em 2019, israelenses e palestinos se regozijaram com um aumento histórico no turismo após anos de conflito regional que afastou peregrinos e turistas em geral. Os hotéis nas cidades santas de Jerusalém, Nazaré e Belém bateram 100% de lotação.

Neste 2020, porém, tudo isso parece estar num passado distante. De um eufórico auge de recordes turísticos, a montanha-russa da Covid-19 levou a indústria da peregrinação religiosa ao fundo do poço.

A situação só pode ser comparada a 2002, no auge da Segunda Intifada palestina, quando atentados terroristas afugentaram os turistas da Terra Santa, e a região era considerada altamente perigosa. Naquele ano, 860 mil turistas visitaram Israel e os territórios palestinos.

Em 2020, Israel deve fechar o ano com só um pouco mais do que isso: cerca de 1 milhão —mas apenas porque janeiro e fevereiro foram excelentes. Em março, com o fechamento das fronteiras por causa do coronavírus, a queda foi absoluta.

Desde o fim da Segunda Intifada, em 2005, o turismo na Terra Santa galgava patamares cada vez mais altos em meio a uma queda drástica nos números de atentados e da violência em geral. Em 2019, Israel registrou 4,5 milhões de turistas —grande parte deles peregrinos cristãos que também visitaram Belém, na Cisjordânia (ajudando a indústria do turismo palestina).

Só para o Natal do ano passado, desembarcaram ali 165 mil peregrinos (de um total de 350 mil turistas no mês de dezembro). Neste ano, em contraste, nem existe estatísticas oficiais, já que o número é próximo a zero.

“O ano de 2019 estabeleceu que o turismo é um motor de crescimento econômico muito significativo para a economia local. É por isso que a crise deste ano é extremamente severa”, diz o diretor-geral do Ministério do Turismo de Israel, Amir Halevi. “Todos os envolvidos no turismo passaram de uma atividade de alta intensidade a nada.”

Entre os palestinos, a situação é ainda mais trágica. Em Belém, onde, segundo a tradição cristã, nasceu Jesus, cerca de 80% dos residentes dependem do turismo para viver. Em 2019, a cidade recebeu mais de 100 mil peregrinos só para a época do Natal e 1,5 milhão de janeiro a dezembro. Novos hoteis e pousadas foram construídos para abrigar tanta gente.

Desde março de 2020, no entanto, quase nenhum peregrino ou fiel visitou a praça da Manjedoura e Igreja da Natividade.

“Trabalho com turismo há 30 anos. Tivemos altos e baixos por causa do conflito israelense-palestino, mas nunca algo assim”, disse o empresário palestino Elias al-Arja, presidente da Associação Árabe de Hoteis.

Segundo o Ministério do Turismo palestino, as perdas com a queda total no turismo serão de US$ 1,5 bilhão (cerca de R$ 7,8 bilhões). Pela primeira vez em décadas, a árvore de Natal oficial da cidade foi inaugurada, em 5 de dezembro, sem a presença de público.

“Doeu muito ver o vazio na praça da Manjedoura”, disse o prefeito de Belém, Anton Salman. “Estávamos acostumados a ver nossas famílias, colocar um sorriso no rosto de nossas crianças e receber milhares de peregrinos estrangeiros. Mas, à luz das condições sanitárias e da difícil realidade epidemiológica em Belém, tivemos que tomar a decisão correta de transmitir a celebração através da mídia e das redes sociais. Não foi fácil, mas necessário.”

Além de Jerusalém, a cidade de Nazaré (a maior cristã de Israel) também sofre os efeitos do Natal do ano da Covid-19. Nos arredores da Igreja da Anunciação, pouca gente tem circulado, o que afetou os comerciantes locais. “Se você viesse ano passado aqui, não teria lugar para andar”, disse o vendedor de sucos Abu Maruf. "Agora está tudo fechado. Quase todos os cafés e restaurantes não aguentaram a crise e fecharam.”

A única esperança, neste momento, é que a vacinação em massa prometida para os próximos meses leve ao fim do pesadelo do coronavírus e à volta da normalidade a partir de 2021. Israel recebeu nesta quarta-feira (9) o primeiro carregamento de vacinas da Pfizer e anunciou que a vacinação começará em 27 de dezembro.

Enquanto isso, seguem em vigor as medidas para evitar aglomerações e manter o distanciamento.

Para celebrar a festa judaica de Chanucá (entre 10 a 18 de dezembro), as famílias costumam se encontrar e acender oito velas —uma por dia— para relembrar a vitória dos macabeus contra os gregos em 164 a.C, cantando e comendo comidas típicas.

Neste ano, o governo israelense orientou as pessoas a festejarem em suas casas —sem visitar família ou amigos.

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