Descrição de chapéu Coronavírus

Pandemia amplia embates de prefeitos e governadores com líderes nacionais

Em NY, governador contrariou negacionismo de Trump; em Madri, governadora se negou a restringir atividades

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São Paulo

Na pandemia, prefeitos e governadores ganharam protagonismo pelo mundo, ao serem os responsáveis por decidir e comunicar aberturas e fechamentos de atividades. E, em muitos casos, os líderes locais tiveram fortes atritos com os governos nacionais sobre a melhor forma de agir diante da crise sanitária.

Em Nova York, por exemplo, o governador Andrew Cuomo foi contra a política negacionista do presidente Donald Trump. Já em Madri, foi o exato contrário: a governadora Isabel Ayuso se negou a restringir as atividades na capital, como queria o Ministério da Saúde.

Esses embates, assim como alguns bons resultados alcançados na pandemia, dão força aos governantes regionais para se firmarem como líderes da oposição e possíveis candidatos nas eleições nacionais dos próximos anos. Veja como atuaram alguns deles:

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Andrew Cuomo

Governador de Nova York

O governador de Nova York, Andrew Cuomo - 23.nov.20/Reprodução via Reuters

No começo do ano, Nova York foi o epicentro da pandemia dos EUA . Cenas de hospitais lotados e ruas desertas marcaram aquele período. E enquanto o presidente Donald Trump minimizava a doença e pedia que as pessoas seguissem com as atividades, o governador do estado de Nova York, o democrata Andrew Cuomo tomava decisões e fazia discursos na direção oposta.

Cuomo, 63, determinou um lockdown em março. As atividades foram paralisadas por algumas semanas, mas foram sendo retomadas aos poucos a partir do mês de abril.

O estado fez também uma grande quantidade de testes de detecção —chegou a mais de 200 mil por dia, para detalhar o avanço da doença.

Apesar da crise inicial, que somou em torno de mil mortes diárias, Nova York não teve uma segunda onda da doença no fim de 2020, e adotou novas restrições pontuais.

Já o embate entre Coumo e Trump seguiu ao longo do ano. O presidente chegou a sugerir que o estado demoraria mais a receber vacinas, por conta da divergência política.


​Anne Hidalgo

Prefeita de Paris

A prefeita de Paris, Anne Hidalgo - Gonzalo Fuentes - 14.dez.20/Reuters

No cargo desde 2014, Hidalgo, 61, vinha aumentando os espaços para pedestres e ciclistas, enquanto diminuía as vantagens dos carros. Ela aproveitou a pandemia para acelerar esse plano, que propõe que Paris seja uma “cidade de 15 minutos”: que qualquer morador tenha todos os serviços de que precisa a 15 minutos a pé ou de bicicleta.

A ideia agradou a muitos parisienses, e ela foi reeleita nas eleições realizadas em julho, para mais seis anos de mandato. No entanto, há rumores de que ela dispute a Presidência em 2022.

Nos últimos meses, a prefeita deu sinais de que tem interesse em ser o nome da esquerda na disputa, em que o centrista Emmanuel Macron deverá buscar a reeleição. A prefeita e o presidente têm uma relação distante.

Em um dos embates, Hidalgo defendeu que as livrarias parisienses ficassem abertas, por serem um negócio essencial, enquanto a Presidência determinou que elas fossem fechadas bem no fim do ano, época de alta nas vendas.


Claudia López

Prefeita de Bogotá

A prefeita de Bogotá, Claudia López, no dia do anúncio de sua vitória na eleição - Raul Arboleda - 27.out.19/AFP

López, 50, foi a primeira mulher a ser eleita prefeita de Bogotá, em outubro de 2019. Com poucos meses no cargo, deparou-se com a pandemia. Ela apostou em restrições duras à circulação, mas também em algumas formas de alívio.

A prefeita criou um programa de renda básica, que beneficiou cerca de 500 mil famílias pobres, e implantou cerca de 100 km de ciclovias temporárias para facilitar o deslocamento individual de modo mais seguro. Boa parte delas deverá ser convertida em pistas permanentes.

De centro-esquerda, a prefeita teve fortes atritos com o presidente Álvaro Duque, que buscou pressionar pela retomada mais rápida das atividades econômicas. Ela concordou com o alívio das restrições só em agosto, quando a ocupação das UTIs baixou.

No entanto, em setembro, veio outra crise: uma onda de protestos eclodiu depois que o taxista Javier Ordoñez, 45, foi agredido e morto por policiais, em uma abordagem que fiscalizava o cumprimento das regras de isolamento social.

Em seguida, protestos destruíram bases da polícia pela cidade, houve confrontos e ao menos 14 manifestantes morreram. López se solidarizou com as vítimas e fez críticas à polícia. O governo de Duque prometeu mudanças, mas pediu que as forças de segurança não fossem estigmatizadas.


Horácio Larreta

Prefeito de Buenos Aires

o prefeito da cidade de Buenos Aires, Horacio Larreta
O prefeito de Buenos Aires, Horácio Larreta, durante visita a São Paulo, em 2017 - Nelson Antoine - 25.ago.17/Folhapress

Buenos Aires viveu uma quarentena prolongada, que só foi relaxada a partir de julho. No início da crise, o prefeito Horacio Larreta, e o presidente Alberto Fernández mantinham boas relações. Inclusive, participaram juntos de várias coletivas de imprensa, mesmo sendo de partidos rivais.

Larreta, 55, é do PRO, legenda do ex-presidente Maurício Macri, que perdeu a reeleição para Fernández em 2019.

No entanto, nos últimos meses, os dois se afastaram. A crise começou depois que o governo federal decidiu suspender um repasse de recursos para a cidade, que era direcionado para custear a polícia.

O velório de Maradona, em novembro, foi outro ponto de atrito: coube à polícia portenha dispersar a multidão que tentava ver o caixão do ídolo na Casa Rosada. Prefeitura e Presidência trocaram acusações pelos erros na organização do evento, e um ministério fez uma denúncia penal contra o governo de Larreta, pela truculência da ação policial contra o público naquela ocasião.

As polêmicas acabam projetando Larreta como opositor de Fernández. O prefeito está no cargo desde 2015 e tem mandato até 2023, mesmo ano em que ocorrem as próximas eleições presidenciais. Pesquisas de opinião mostram que ele tem avaliação positiva superior à do presidente.


Isabel Ayuso

Governadora de Madri

A governadora de Madri, Isabel Ayuso - Governo de Madri - 8.out.20/AFP

Em meio a uma alta de casos de coronavírus, em setembro, o governo da Espanha queria tomar medidas duras e, na prática, fechar a região de Madri. A governadora, Isabel Ayuso, 42, bateu de frente, em público, e disse não.

Ela preferiu adotar fechamentos regionais, como bloqueios à circulação em áreas com alta de infecções, além da ampliação do número de testes. Assim, foi reduzido o impacto sobre o setor de lazer, que gera muitos empregos na capital espanhola.

Nos últimos meses, Madri manteve a estabilidade no número de casos, embora a queda seja lenta. Já a Espanha como um todo teve uma forte alta no final de outubro. Naquele período, o país chegou a 25 mil novos registros diários. Em dezembro, esse índice baixou para 10 mil, dado similar ao de setembro.

Com a proeminência, Ayuso pode subir degraus na escala de seu partido, o conservador PP, e tentar disputar o comando do país, hoje governado por uma coalizão de partidos de esquerda. Ela comenta com frequência temas nacionais em suas redes, como mensagens a favor da monarquia espanhola e contra os separatistas da Cataluña. Sobram também ataques aos regimes de Cuba e Venezuela.


Zhou Xianwang

Prefeito de Wuhan

O prefeito de Wuhan, Zhou Xianwang - India in China no Twitter

Zhou, 57, foi o primeiro prefeito a se tornar famoso por conta da pandemia, mas não por uma boa razão. Os primeiros casos de Covid-19 foram registrados na cidade de Wuhan, administrada por ele.

Em janeiro, ele admitiu que seu governo escondeu informações sobre a gravidade da doença, e que 5 milhões de pessoas deixaram a cidade antes do isolamento ser adotado, o que pode ter sido crucial para o espalhamento global do vírus.

Wuhan adotou um lockdown muito forte, mas já estava reaberta na metade do ano. No verão chinês, em julho, houve festas ao ar livre, com centenas de pessoas.

Ao admitir o erro, em janeiro, Zhou ofereceu sua renúncia. Mas seguiu no cargo. Nos últimos meses, o prefeito tem participado de eventos para atrair investimentos e debater novos projetos para cidade, que busca se posicionar como referência de retomada após a pandemia.

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