Descrição de chapéu The New York Times

Pequenas faculdades americanas recebem grandes doações de fonte inesperada

Ex-mulher de Jeff Bezos, MacKenzie Scott repassou milhões de dólares para ajudar a educação

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Anemona Hartocollis
The New York Times

Elas chegaram como presentes de um Papai Noel secreto: US$ 20 milhões (R$ 102 milhões) aqui, US$ 40 milhões (R$ 204 milhões) ali, todas para a educação superior, mas não para as universidades de elite que geralmente atraem toda a atenção. Estas doações foram para faculdades e universidades de que muitas pessoas nunca tinham ouvido falar e tendem a beneficiar estudantes regionais, membros de minorias e de baixa renda.

Na terça (15), MacKenzie Scott, a 18ª pessoa mais rica do mundo, revelou publicamente que havia feito as doações para dezenas de faculdades e universidades, parte dos quase US$ 4,2 bilhões (R$ 21,4 bi) que ela deu a 384 organizações nos últimos quatro meses.

FILE -- Outside Prairie View A&M University's student center in Prairie View, Texas, Oct. 30, 2018. MacKenzie Scott, the world?s 18th-richest person, recently donated $50 million to Prairie View A&M University, a historically Black college in Prairie View, Texas. (Todd Spoth/The New York Times)
Fachada da universidade Prairie View A&M, no Texas - Todd Spoth/The New York Times

Scott, que foi casada com o fundador da Amazon, Jeff Bezos, a pessoa mais rica do mundo, prometeu doar quase toda a sua fortuna. Suas ações da Amazon foram avaliadas em cerca de US$ 38 bilhões (R$ 194 bi, na cotação atual) no ano passado, mas teriam valorizado durante a pandemia do coronavírus.

O dinheiro veio depois de semanas ou meses de conversas na surdina em que representantes de Scott procuraram diretores de faculdades para entrevistá-los sobre suas missões, disseram vários deles na quarta-feira (16). Quando souberam quem estava por trás da iniciativa, também ficaram surpresos. Mas isso não poderia ter acontecido em melhor momento, quando a pandemia atinge duramente seus alunos, segundo eles.

"Fiquei perplexa", disse Ruth Simmons, reitora da Universidade Prairie View A&M, faculdade historicamente frequentada por negros em Prairie View, no Texas, ao saber que Scott daria US$ 50 milhões (R$ 255 milhões), a maior doação que a universidade já recebeu. Ela pensou que tinha escutado mal, e a pessoa que telefonou teve de repetir o número: "cinco-zero".

As doações de Scott elevam o total de suas ações beneficentes a quase US$ 6 bilhões (R$ 30,6 bi) neste ano, uma quantia extraordinária. Em outro toque heterodoxo, ela as anunciou em uma postagem no Medium na terça. "Esta pandemia foi uma bola de demolição na vida dos americanos que já enfrentam dificuldades", escreveu ela. "Os prejuízos econômicos e problemas de saúde foram piores para as mulheres, as pessoas de cor e as que vivem na pobreza."

Scott fez doações para mais de uma dúzia de faculdades e universidades tradicionalmente negras, assim como para faculdades e escolas técnicas que atendem a americanos nativos, mulheres, estudantes urbanos e rurais.

Alguns diretores de faculdades disseram que Scott não impôs restrições aos fundos, permitindo que eles decidam como irão usá-los. O dinheiro foi entregue à Prairie View em 20 de outubro, e Simmons disse que foi autorizada a começar a distribuí-lo imediatamente aos estudantes afetados pela pandemia.

Simmons disse que inicialmente lhe pediram para não divulgar a notícia da doação, mas argumentou que torná-la pública enviaria uma mensagem importante.

"Eu já fui presidente de uma dessas grandes faculdades —a Universidade Brown—, e lá, é claro, era comum conversar com pessoas sobre doações desse porte", disse Simmons. "Mas isso raramente acontece em instituições como Prairie View, especialmente para os tipos de estudantes que atendemos."

A escritora MacKenzie Scott, durante evento em Berlim - Jorg Carstensen - 23.abr.18/AFP

Tony Munroe, diretor do Colégio Comunitário do Distrito de Manhattan, instituição frequentada predominantemente por negros e hispânicos no sul de Manhattan (Nova York), que recebeu US$ 30 milhões (R$ 153 milhões) de Scott, lembrou que não foi necessário se inscrever para a doação. Ele simplesmente foi contatado por um representante de Scott, que o envolveu em conversas de sondagem sobre a missão de sua faculdade.

"Quando me contaram quem era a doadora e a quantia, me emocionei. Literalmente comecei a chorar", disse Munroe.

Outra escola do sistema de Cidade Universitária de Nova York, o Lehman College, também recebeu US$ 30 milhões.

"Acho que ela está fazendo uma declaração muito clara: as comunidades a que essas instituições servem orgulhosamente são as que não têm muitos meios, mas têm o desejo; elas têm a garra, a energia", disse ele.

A Universidade Estadual Morgan, em Baltimore, tradicionalmente negra, disse que a doação de US$ 40 milhões (R$ 204 milhões) feita por Scott, a maior de um único doador em sua história, dobrará seu fundo patrimonial.

A Faculdade Técnica e Comunitária do Oeste do Kentucky, em Paducah, disse que usará sua doação de US$ 15 milhões (R$ 76 milhões) —também a maior feita por um só doador— para ajudar adultos e estudantes rurais em más condições econômicas a se prepararem para o mercado de trabalho.

Simmons disse que a Prairie View A&M, com cerca de 9.000 alunos, está usando US$ 10 milhões (R$ 51 milhões) de sua doação para criar o Programa de Bolsas Sucesso da Pantera, para ajudar jovens e adultos que tiveram dificuldades financeiras com a pandemia a pagar suas contas da faculdade.

O resto do dinheiro será alocado ao fundo da universidade, aumentando-o de US$ 95 milhões para US$ 130 milhões (R$ 663 milhões), que sustentará coisas como recrutamento de professores e bolsas de graduação.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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