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Vai ter Natal em 2020, sim, afirma Papai Noel

Velhinho diz que está mantida a distribuição de presentes na madrugada de 24 para 25

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Rio de Janeiro

Num ano marcado pela pandemia de coronavírus, que já matou quase 1,7 milhão de pessoas e alterou rotinas e planos no mundo todo, até a visita anual do Papai Noel foi colocada em dúvida.

À Folha, por videoconferência, claro, ele disse que o Natal de 2020 está confirmado.

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Em 2020, várias crianças mandaram cartinhas pedindo uma vacina para que possam logo dar um abraço em seus vovôs e vovós. Também disseram que estavam muito preocupadas comigo. Na TV dizem que velhinhos e gorduchos que nem eu são parte do grupo de risco desta nova pandemia.

A molecada quer muito ganhar presente, mas também não quer que eu me ponha em perigo. Decidi então procurar a Folha para avisar a todo mundo que vai ter Natal, sim!

Conversei com a querida Maria van Kerkhove. Antes de virar uma epidemiologista, que é a médica que estuda epidemias, ela era uma mocinha curiosa que muitos anos atrás me pediu um kit de cientista. Aqui no polo norte a gente já tem wifi, e Mamãe Noel me mandou pelo WhatsApp um vídeo da Maria, que hoje trabalha numa instituição muito importante, a OMS (Organização Mundial da Saúde).

A gente fez uma chamada por Zoom, e eu expliquei a ela que a magia do Natal me garante imunidade excepcional contra a Covid-19 —eu, minha esposa e os nossos ajudantes. Depois eu a vi explicando que, por conta disso, poderei distribuir presentes na madrugada do dia 24 para o 25.

"Compreendo a preocupação sobre o Papai Noel porque ele é idoso, e potencialmente faz parte de uma faixa etária com mais riscos para desenvolver a forma grave do novo coronavírus", Maria falou na OMS.

Mas logo veio a boa notícia: "Posso dizer que Papai Noel é imune a esse vírus. Ele está bem e sua esposa também está bem e estão muito ocupados atualmente". Isso é verdade, estamos trabalhando dobrado para atender a criançada do mundo todo. Se eu chegar tossindo, juro que é pela fuligem das chaminés dos países frios, ho, ho, ho!

Minha amiga cientista, aliás, esclareceu que não terei problemas com as restrições de visita que algumas nações impuseram: "Ele poderá entrar e sair do espaço aéreo".

Inclusive uma das minhas casas fica na Lapônia, uma terra bem gelada lá na Escandinávia. Ficamos aflitos quando o pessoal do Ministério do Turismo finlandês, um dos países por onde o povo lapão se espalha, veio nos procurar. Todos estamos preocupados que a Covid-19, além de fazer algumas pessoas ficarem bem doentes, também faça um estrago na economia da região, que depende muito de mim.

Posso até estar protegido dessa doença, mas é importante dar o exemplo, então as autoridades locais sugeriram que eu só aparecesse em público atrás de vidros, e que meus assistentes elfos usassem máscaras. Achei uma ótima ideia.

No dia 10 de dezembro, a Finlândia anunciou que vizinhos europeus poderão entrar para ficar 72 horas no país, mas com uma condição: mostrar testes feitos três dias antes da viagem, e eles, claro, têm que dar negativo. Já morreram quase 500 finlandeses, o que é sempre muito triste, mas nada perto das mais de 185 mil vítimas brasileiras.

Lá na Nova Zelândia, onde quem manda é a primeira-ministra Jacinda Ardern, ganhei permissão especial. "Depois de muita consideração, o ministro da Saúde determinou que o polo norte está sem casos de Covid, até onde sabemos", disse.

Sempre uma garotinha estudiosa, ela acrescentou que, pelo fuso horário do planeta, seu país seria o segundo pelo qual eu passaria na minha maratona natalina, então as chances de o vírus pegar carona no meu trenó eram mínimas. "Noel tem passe-livre."

Em Ontario, no Canadá, o governo arranjou uma solução que eu adorei. Por lá quase tudo está fechado, uma nova quarentena para impedir o vírus de machucar as pessoas que a gente mais ama. Na quinta (17), a governadora Elizabeth Dowdeswell assinou uma proclamação que incluiu como atividade essencial a entrega de presentes, a oficina de brinquedos dos elfos e as nove renas que puxam meu trenó.

O Boris Johnson, que eu conheci quando era um menino traquinas que todo Natal pedia que o Reino Unido saísse da União Europeia, me telefonou em novembro. Contou que Monti, 8, lhe escreveu para perguntar se eu cruzaria mesmo o mundo na noite de Natal. Talvez deixar, ao lado dos biscoitos que os ingleses sabem que eu amo, um frasco de álcool para eu desinfetar as mãos ajudaria?

O primeiro-ministro britânico leu um trechinho da carta do Monti: "Eu entendo que você é muito ocupado, mas você e os cientistas podem, por favor, falar sobre isso?" Disse pro Boris: vai, fala pra eles!

"Só para ter certeza, liguei para o polo norte e posso te dizer que o Papai Noel está pronto e ansioso para ir, assim como Rudolph e todas as outras renas", respondeu o premiê. "Deixar o desinfetante com os biscoitos é uma excelente ideia para ajudar a prevenir a propagação do vírus —e usá-lo você mesmo. Lavar suas mãos regularmente é exatamente o tipo de coisa que vai colocar você e seus amigos na lista de bons meninos."

Boris, que no começo da pandemia foi um mau menino que minimizava o risco de contaminação, ganhou pontos comigo.

Alguns governantes, contudo, não têm sido bons meninos. Ouvi cada besteira... Que o coronavírus era só uma gripezinha, que a crise já estava acabando quando um monte de criança continuava perdendo seus avós. Me deixa muito triste, porque fico com medo pelos vários senhorzinhos de barba branca que me dão uma força em dezembro e se vestem como eu para ajudar a espalhar a alegria natalina.

Na Geórgia, um sósia meu e outra da Mamãe Noel descobriram que estavam com Covid após tirarem foto com 50 crianças.

Teve uma história também na Bélgica, um cover que estava doente e contaminou 61 residentes e 14 funcionários de um lar de idosos. Nem todo mundo estava de máscara, e não mantiveram os 2 metros de distância uns dos outros, duas coisas importantíssimas quando saímos de casa.

Eu já sou bem velhinho, vivi o bastante para saber que os tempos difíceis sempre passam. Quem ri por último, crianças, ri melhor. Ho, ho, ho! Feliz Natal!

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