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Após crítica de grupos antiaborto, Vaticano defende uso de vacina contra Covid

Alguns imunizantes usam linhagens celulares criadas a partir do tecido de embriões, o que despertou oposição de conservadores

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Cidade do Vaticano | Reuters

O Vaticano comunicou aos católicos que considera "moralmente aceitável" o uso de vacinas contra a Covid-19. O anúncio acontece depois de ativistas contra o aborto criticarem os imunizantes.

Esses grupos alegam que cristãos não deveriam usar as vacinas porque elas seriam feitas a partir de fetos abortados —o que não é exatamente verdade.

Na realidade, o que são usadas no desenvolvimento dos imunizantes são duas linhagens celulares diferentes, que são produzidas a partir de tecido retirado do rim de um feto abortado em 1972 e da retina de um feto abortado em 1985.

Papa Francisco sentado em um cadeira acompanhando de alguns cardeais romanos
O papa Francisco, 84, durante um encontro em que ele concedeu a benção de Natal para a cúpula da igreja, no Vaticano - 21.dez.2020 - Vincenzo Pinto/AFP

A partir desses tecidos, os cientistas cultivam por anos uma linhagem de células, que por sua vez são utilizadas nas pesquisas —nenhuma célula dos fetos abortados é usada nas vacinas, portanto, apenas o material derivado deles.

Essas linhagens de células já foram utilizados nos desenvolvimento de diversos imunizantes, incluindo para catapora, hepatite e rubéola.

Para o Vaticano, o uso de tais vacinas "não constitui em si uma legitimação, mesmo indireta, da prática do aborto".

Uma nota da Congregação para a Doutrina da Fé, responsável pela doutrina da Igreja Católica, publicada nessa segunda-feira (21), disse que o uso de tais vacinas era permitido desde que não houvesse alternativas.

No início deste mês, Andrea Arcangeli, chefe dos serviços de saúde do Vaticano, disse que começará a vacinar moradores e funcionários da cidade no começo do ano que vem.

Sem apresentar provas, a Conferência de Bispos Católicos dos EUA (USCCB) disse que as vacinas da Pfizer e da Moderna —que foram aprovadas para o uso no país— têm alguma conexão com as linhas de células que se originaram com tecido de abortos no século passado.

Segundo a revista Science, atualmente ao menos cinco vacinas em desenvolvimento contra a Covid-19 utilizam alguma das linhagens de células derivadas dos embriões, mas os produtos da Pfizer e da Moderna não estão na lista.

A nota do Vaticano disse que a concessão de legitimidade moral está relacionada ao princípio "diferentes graus de responsabilidade da cooperação no mal".

Isso significa que, como a pandemia é um perigo tão grave, tais vacinas "podem ser usadas em sã consciência, com a certeza de que [isso] não constitui cooperação formal com o aborto do qual derivam as células usadas na produção das vacinas", diz o texto.

A igreja pede ainda que a indústria farmacêutica desenvolva vacinas totalmente éticas e que os governos e organizações internacionais tornem esses imunizantes acessíveis às nações mais pobres.

A nota do Vaticano foi publicada no mesmo momento em que dois cardeais de Roma, incluindo um que passa a maior parte do tempo ajudando os sem-teto, foram diagnosticados com coronavírus, disse uma fonte nesta terça-feira (22) à agência de notícias Reuters.

O cardeal Konrad Krajewski, um polonês de 57 anos que administra as instituições de caridade do papa Francisco, foi hospitalizado para tratar o início de uma pneumonia.

Já o cardeal italiano Giuseppe Bertello, 78, governador da Cidade do Vaticano, recebeu o diagnóstico de Covid-19 e teria se isolado em sua casa.

O Vaticano não informou se algum dos dois religiosos se encontrou recentemente com o papa Francisco, 84.

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