Descrição de chapéu The New York Times

Afetadas pela pandemia, mulheres recorrem ao OnlyFans e seguem em dificuldades

Plataforma que permite venda de conteúdo explícito exclusivo teve grande crescimento durante crise sanitária

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Gillian Friedman
The New York Times

Em junho, Savannah Benavidez parou de trabalhar como cobradora na área médica para cuidar de seu filho de 2 anos, depois que a creche do menino fechou. Em busca de um meio de pagar suas contas, ela criou uma conta no OnlyFans —uma plataforma de rede social cujos usuários vendem conteúdo original para assinantes mensais— e começou a postar fotos dela nua ou de lingerie.

Benavidez, 23, ganhou US$ 64 mil (R$ 334 mil) desde julho, o suficiente não apenas para pagar suas contas, como para ajudar sua família e amigos no pagamento de aluguel e carro. "É mais dinheiro do que eu jamais ganhei em qualquer emprego", diz ela. "Tenho tanto dinheiro que não sei o que fazer com ele."

Lexi Eixenberger esperava um resultado semelhante quando abriu uma conta no OnlyFans em novembro.

Savannah Benavidez, que se tornou uma produtora de conteúdo na plataforma OnlyFans após ficar desempregada, em Albuquerque, no estado do Novo México
Savannah Benavidez, que se tornou uma produtora de conteúdo na plataforma OnlyFans após ficar desempregada, em Albuquerque, no estado do Novo México - Adria Malcolm/The New York Times

Uma funcionária de restaurante em Billings, no estado de Montana, Eixenberger, 22, foi demitida três vezes durante a pandemia e, em outubro, precisava tanto de dinheiro que teve de abandonar a escola de higiene dental. Depois de doar plasma e fazer bicos, ela ainda não tinha o bastante para pagar as contas e, por sugestão de amigos, recorreu ao OnlyFans. Até agora ganhou apenas cerca de US$ 500 (R$ 2.600).

"As pessoas acham que tirar fotos nuas e postar online é fácil, mas é trabalho duro; é um emprego em tempo integral", disse Eixenberger, confessando que às vezes se sente "suja".

O OnlyFans, fundado em 2016 e sediado na Grã-Bretanha, disparou em popularidade durante a pandemia. Em dezembro, tinha mais de 90 milhões de usuários e mais de 1 milhão de criadores de conteúdo, contra 120 mil em 2019. A empresa não quis fazer comentários para esta reportagem.

Com milhões de americanos desempregados, alguns, como Benavidez e Eixenberger, estão recorrendo ao site na tentativa de se sustentar. A pandemia cobrou um preço especialmente devastador de mulheres e mães, eliminando partes da economia onde elas predominam: comércio, restaurantes e creches.

"Muita gente está migrando para o OnlyFans por desespero", diz Angela Jones, professora-associada de sociologia na Universidade Estadual de Nova York em Farmingdale. "São pessoas preocupadas em como se alimentar, preocupadas com manter a luz ligada, com não ser despejadas."

Mas para cada pessoa como Benavidez, que consegue usar o OnlyFans como fonte principal de renda, há outras dezenas, como Eixenberger, que esperam um grande resultado e acabam com algumas centenas de dólares e temores de que as fotos as prejudiquem para conseguir um emprego no futuro.

"Já é um mercado incrivelmente saturado", afirma Jones sobre o conteúdo explícito online. "A ideia de que as pessoas vão abrir uma conta no OnlyFans e começar a ganhar muito dinheiro é totalmente errada."

Os criadores de conteúdo mais bem sucedidos são muitas vezes modelos, estrelas pornô e celebridades que já têm grande número de seguidores nas redes sociais. Eles podem usar suas plataformas online para orientar seguidores para suas contas no OnlyFans, onde oferecem conteúdo exclusivo para os que se dispõem a pagar uma taxa mensal —até conteúdo personalizado em troca de gorjetas.

Lexi Eixenberger, que perdeu três empregos na pandemia e passou a vender conteúdo no OnlyFans, em Billings, no estado de Montana
Lexi Eixenberger, que perdeu três empregos na pandemia e passou a vender conteúdo no OnlyFans, em Billings, no estado de Montana - Janie Osborne/The New York Times

O OnlyFans cobra comissão de 20% sobre qualquer pagamento, mas alguns produtores de conteúdo recebem gorjetas por meio de apps de celular, que não estão sujeitas a cobrança; Benavidez ganha a maior parte de seu dinheiro dessa maneira.

Muitas criadoras que entraram na plataforma por grande necessidade financeira, porém, não têm grande público nas redes sociais ou qualquer maneira de gerar negócios consistentes.

Elle Morocco, de West Palm Beach, na Flórida, foi demitida do emprego como gerente de escritório em julho. Seus cheques de auxílio-desemprego não cobrem seu aluguel de US$ 1.600 (R$ 8.350), as contas de água e luz e a alimentação. Por isso, ela entrou para o OnlyFans em novembro.

Morocco, 36, não tinha presença nas redes sociais quando entrou na plataforma e teve de conquistar assinantes um a um —postando fotos dela no Instagram e no Twitter e seguindo as pessoas que gostaram e comentaram suas fotos, incentivando-as a assinar o OnlyFans. É mais desafiador e exige mais tempo do que ela esperava, e menos recompensador financeiramente.

"É um emprego em tempo integral, além do trabalho em tempo integral de procurar emprego", diz ela. "Os fãs querem que você poste diariamente. Você está sempre apressada, sempre tirando fotos para postar."

Ela ganhou apenas US$ 250 (R$ 1.300) na plataforma até agora, apesar de às vezes passar oito horas por dia criando, postando e promovendo seu conteúdo. Morocco também se preocupa que sua presença na plataforma torne mais difícil sua contratação para empregos tradicionais no futuro.

"Se você está procurando um emprego das 9h às 17h, eles poderão não contratá-la se descobrirem que você tem um OnlyFans. Eles podem não querer você se souberem que é uma trabalhadora sexual", diz.

"O trabalho sexual online é uma alternativa muito mais atraente a muitas pessoas do que ir para a rua ou vender serviços sexuais diretamente", afirma Barb Brents, professora de sociologia na Universidade de Nevada em Las Vegas. "Dito isso, qualquer pessoa que entre nesse trabalho deve saber que há perigos."

Em abril, uma mecânica de Indiana perdeu o emprego numa revenda Honda depois que a gerência soube que ela tinha uma conta no OnlyFans. Os criadores podem ser alvo de "doxxing" —uma forma de assédio online em que usuários publicam informação privada ou delicada sobre alguém, sem sua permissão.

Em dezembro, o New York Post publicou uma reportagem sobre uma paramédica de Nova York que usava o OnlyFans para complementar sua renda. Ela afirmava acreditar que a publicação, veiculada sem seu consentimento, prejudicaria sua reputação e a faria ser demitida do emprego.

Outras dizem que a experiência foi empoderadora. Melany Hall, mãe solteira de três crianças, ganha US$ 13,30 (R$ 69,40) por hora como paramédica no norte de Ohio, o que quase não cobre seus gastos. Ela começou no OnlyFans em dezembro. "Tenho três filhos. Nunca pensei que alguém pagaria para me ver nua", disse Hall, 27. "Está dando um reforço na minha autoestima."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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