Descrição de chapéu

Apoiadores de Trump parecem, ironicamente, soviéticos de Eisenstein

Imagens de manifestantes nas escadas do Capitólio fazem lembrar filme de 1927 que celebrava a Revolução Russa

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São Paulo

Manifestantes empunhando bandeiras forçam uma barreira numa escadaria, até que conseguem furá-la. A partir daí explodem em gritos e em correria para dentro do Capitólio, sede do Congresso americano.

sombras de homens subindo escadas de palácio suntuoso
Cena do filme "Outubro", de Serguei Eisenstein, de 1927 - Reprodução

A cena desta quarta (6) em Washington faz lembrar uma das mais emblemáticas sequências do russo Serguei Eisenstein, um dos maiores cineastas da história.

Em seu longa "Outubro", de 1927, patrocinado pelo governo soviético para celebrar os dez anos da Revolução Russa, ele reencena a invasão pelos bolcheviques do Palácio de Inverno, antes mansão dos czares e então sede de um governo provisório, na cidade que hoje é São Petersburgo.

Ironicamente, a sequência do filme soviético é muito parecida com o que vimos acontecer nos Estados Unidos, como se reencenássemos o clássico do cinema, mas com a câmera colocada do outro lado da escadaria e sem a edição primorosa de Eisenstein, que mostrou ao mundo o poder da montagem de imagens para gerar significados.

No lugar de bandeiras, os soviéticos empunhavam baionetas e outras armas. Pelo que se seguiu dentro do Capitólio sabemos, porém, que alguns dos manifestantes de 2021 também as tinham, ainda que escondidas.

Ironicamente pois imagino que a última coisa com a qual apoiadores de Trump e conservadores americanos gostariam de ser comparados é com seu bicho-papão de longa data: uma revolução socialista.

É claro que os manifestantes que buscam interromper um processo legítimo democrático que ratificará a vitória de Joe Biden estão distantes —e não só em quase cem anos— dos bolcheviques que lutavam para destronar uma monarquia.

Mas ironias da história não perdoam. A grande figura de liderança em "Outubro" é Lênin. Nesta quarta, foi o tuiteiro Donald Trump. Resta saber se o presidente americano terá um fim também cinematográfico, talvez como o da estátua do líder russo em outro filme, "Adeus, Lênin!".

Os poderosos passam, a arte fica.

estátua de Lênin sendo removida
Cena do filme "Adeus, Lênin!" (2003), de Wolfgang Becker - Divulgação
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