Após 3 dias, presidente da Itália encerra negociações inclinado a reviver coalizão

Depois de renunciar ao cargo, premiê interino tenta recuperar a posição, mas futuro político do país segue indefinido

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Roma | Reuters

O presidente da Itália, Sergio Mattarella, encerrou nesta sexta-feira (29) as negociações com líderes partidários para tentar encontrar uma solução para a crise política que teve na renúncia do primeiro-ministro Giuseppe Conte o seu mais recente capítulo.

Desde quarta-feira (27), Mattarella testou as águas políticas da Itália e, diante das alternativas de tentar formar uma nova coalizão com Conte no poder, indicar um novo líder capaz de reunir a maioria dos parlamentares ou convocar eleições antecipadas, deu sinais de que está inclinado a ficar com a primeira opção.

O presidente italiano disse acreditar que a coalizão naufragada ainda pode ser revivida e destacou a urgência para chegar a uma rápida resolução de modo que a Itália não fique carente de lideranças em meio às crises econômica e sanitária causadas pela pandemia de coronavírus.

No início da noite desta sexta, Mattarella convocou Roberto Fico, presidente da Câmara dos Deputados da Itália, para uma conversa, e atribuiu a ele a função de mediar o diálogo entre os partidos que formavam a coalizão governista a fim de ajudar a resolver suas diferenças.

O presidente da Itália, Sergio Mattarella, durante pronunciamento no palácio presidencial, em Roma - Alessandra Tarantino - 29.jan.21/AFP

A renúncia do primeiro-ministro na última terça-feira (26) foi o resultado de uma manobra política que pode fazer com que, apesar de sua saída, Conte volte ao poder, mas sobre os ombros de uma nova coalizão.

Agora como premiê interino, ele disse que não teve escolha a não ser deixar o posto depois que o pequeno partido Itália Viva, liderado pelo ex-primeiro-ministro Matteo Renzi, abandonou o barco governista com duras críticas à gestão.

A saída do partido de Renzi deixou a coalizão que mantinha Conte no poder sem a maioria absoluta do Senado, o que, na prática, comprometeria a governabilidade do país.

Por isso, jogando dentro das regras do parlamentarismo, Conte optou pela renúncia com o intuito de voltar ao cargo apoiado por uma nova aliança de partidos, como ele próprio fez em 2019.

Mas a repetição do feito desta vez não está garantida. Conte chegou a fazer esforços para atrair senadores independentes e de centro para a coalizão na tentativa de preencher o vácuo deixado por Renzi, mas não teve sucesso —o que indica que, se quiser voltar ao cargo ao qual renunciou, certamente precisará da ajuda do Itália Viva.

Renzi critica a forma como Conte gerencia a resposta à pandemia de coronavírus —que infectou 2,5 milhões de pessoas e causou mais de 87 mil mortes na Itália— e acusa o premiê de centralizar as decisões sobre como gastar os recursos concedidos pela União Europeia no plano de recuperação econômica para o período pós-pandemia.

Criou-se, portanto, um impasse que, em tese, o presidente Mattarella tentou resolver ao longo dos últimos três dias. Conte afirma que não quer mais alianças com Renzi, mas sem seu apoio, seu retorno torna-se inviável.

Tentando amenizar as divergências entre os dois, está Vito Crimi, líder do Movimento Cinco Estrelas, partido que se posiciona como antissistema. A legenda é um dos pilares da coalizão de apoio a Conte, a quem Crimi considera "a única pessoa capaz de liderar o país com seriedade e eficiência", e foi a responsável por sua indicação ao cargo de primeiro-ministro em 2018.

"Expressamos nossa vontade de criar um governo político que tenha como ponto de partida as forças da coalizão que trabalharam juntas no último ano e meio", disse Crimi nesta sexta-feira, após um encontro com Mattarella.

Embora tenha se afirmado disposto a reatar os laços entre Conte e Renzi, Crimi defende a permanência do primeiro como premiê, posição que o segundo se recusa a endossar.

A tentativa de reaproximação com Renzi, entretanto, gerou atritos dentro do Cinco Estrelas. Alessandro Di Battista, um dos principais nomes do partido, afirmou que, diante de uma aliança com Renzi, pode deixar a legenda.

"Não mudei minha posição. Se voltar à posição anterior [de apoio a Conte], estou dentro. Do contrário, é adeus e obrigado", disse.

O Partido Democrata (PD), de centro-esquerda, outro pilar da coalizão de Conte, manteve o apoio a um novo mandato do premiê, reconhecendo, porém, que essa expectativa está longe de se concretizar sem que haja uma reconciliação com Renzi e seu partido.

Enquanto isso, na ala conservadora da política italiana, os partidos de direita pedem que Mattarella desista de formar uma nova coalizão e convoque um pleito antecipado.

"Confirmamos ao presidente nosso pedido de que ele considere a opção de dissolver o Parlamento e convocar eleições", disse o populista Matteo Salvini, líder do partido de ultradireita Liga Norte, depois de se reunir com o chefe de Estado.

Representando uma aliança de partidos de direita que inclui o Força Itália, do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, Salvini insinuou o risco de uma cisão na política italiana ao afirmar que cada partido tomaria sua própria decisão sobre como reagir se Mattarella tentar instalar um novo governo sem eleições.

Salvini e Conte vivem uma relação de troca de hostilidades, embora tenham assumido juntos o governo da Itália em 2018. À época, a Liga Norte foi o partido mais votado nas eleições, mas não conseguiu formar maioria para liderar o governo sozinha. Ao se aliar ao Cinco Estrelas, a legenda viu Conte ser indicado ao cargo de primeiro-ministro e Salvini tornar-se seu vice.

Pouco mais de um ano depois, porém, o populista aproveitou sua crescente popularidade entre os italianos e resolveu romper com a base governista, tentando forçar a realização de novas eleições —o mesmo cenário que tenta repetir agora.

Na ocasião, as pesquisas indicavam que a Liga poderia conquistar a maioria das cadeiras no pleito, o que faria de Salvini o novo premiê. O plano, entretanto, deu errado e o partido acabou ficando à margem do governo, embora as pesquisas mais recentes apontem que o bloco de direita pode ser o mais beneficiado se Mattarella decidir convocar um novo pleito.

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