A consumação do brexit (separação do Reino Unido da União Europeia) na virada deste ano tornou mais importante que nunca a independência da Escócia, defendeu a primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, nesta sexta (1º).
“A Escócia estará de volta em breve, Europa. Mantenha a luz acesa”, escreveu ela em rede social, nas primeiras horas do dia.
Sturgeon, que lidera o Partido Nacional Escocês (SNP) nas eleições para o Parlamento nacional em maio deste ano, vai colocar o assunto no centro de sua campanha, ciente de que a rejeição ao brexit é majoritária entre os escoceses.
Dos países que formam o Reino Unido, a Escócia foi o que mais se opôs à ruptura com a UE no referendo que aprovou o brexit em 2016: 62% dos escoceses votaram contra o divórcio.
O mesmo sentimento europeísta deu vitória expressiva ao partido de Sturgeon nas eleições de dezembro de 2019 para o Parlamento britânico —e a realização de um novo referendo sobre a independência escocesa esteve sempre no foco da campanha.
Numa consulta semelhante realizada na Escócia em 2014, a maioria votou pela permanência no Reino Unido, mas um dos motivos era justamente a intenção de continuar a fazer parte da União Europeia. Com a aprovação do brexit, em 2016, esses escoceses se sentiram traídos pelo governo britânico.
Na saída negociada pelo primeiro-ministro Boris Johnson, deixa de existir a livre circulação de pessoas e bens, afetando cidadãos e empresas dos dois lados do canal da Mancha.
Se fosse realizada hoje, a consulta aos escoceses sobre a independência levaria à separação, de acordo com pesquisa do instituto Ipsos Mori realizada em novembro. Entre os que já tinham opinião formada, 56% eram pela independência e 44%, contrários. Do total, 6% estavam indecisos —mas, se todos esses fossem contra a independência, o sim ainda venceria com 53%.
Após o sucesso na eleição de 2019, na qual ampliou a participação de seu partido de 35 para 48 cadeiras, Sturgeon afirmou que a votação lhe conferia um mandato para oferecer aos escoceses uma nova possibilidade de escolha.
Desde então, ela aumentou seu prestígio político entre os escoceses, ao implantar uma política de combate à Covid-19 mais segura e eficaz que a de Boris Johnson.
Segundo ela, a questão principal não é se desligar do Reino Unido, mas fazer respeitar a vontade dos escoceses. “Trata-se do direito das pessoas de decidirem a forma de governo mais adequada às suas necessidades. Esse direito nunca foi tão importante, dada a ameaça que o brexit representa para o internacionalista”, voltou a defender ela em artigo publicado nesta sexta no site jornalístico Politico.
“Por muito tempo, sucessivos governos do Reino Unido levaram a Escócia na direção errada, culminando no brexit”, escreveu a primeira-ministra. “Estamos comprometidos com um caminho legal e constitucional para nos tornarmos um estado independente.”
A líder escocesa diz que o acordo negociado por Boris, que submete os cidadãos do Reino Unido às regras de imigração de cada país-membro da UE, deixa os escoceses menos seguros, “e o seu direito de trabalhar, estudar e viver noutro local da Europa será restringido”.
Entre os atingidos estão estudantes, que não poderão mais participar do programa de intercâmbio Erasmus —mais de 2.000 escoceses se beneficiaram do programa a cada ano, segundo Sturgeon. O brexit também prejudica mais de 230 mil cidadãos europeus que moram hoje na Escócia, diz ela.
Apesar da promessa da primeira-ministra de levar adiante uma consulta pela independência, Boris tem afirmado desde que assumiu o cargo de premiê, em meados de 2019, que não permitirá uma nova votação.
Ele tem poder para impedir o referendo, “mas, com cada vitória sucessiva do SNP, será mais difícil para Londres continuar dizendo não”, afirma Charles Grant, diretor do Centro para Reforma da Europa. “O brexit tornou a independência mais provável.”
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