Mergulhado em uma nova crise política agravada por divergências no combate à pandemia de Covid-19, o premiê italiano, Giuseppe Conte, conquistou um voto de confiança na Câmara dos Deputados nesta segunda (18) e ganhou 24 horas de respiro. Se tivesse perdido, teria sido forçado a renunciar.
Na terça, Conte vai enfrentar outra rodada —mais dura— no Senado, onde o governo já tinha maioria estreita antes da atual contenda disparada na quarta (13) pelo ex-premiê Matteo Renzi, líder do partido Itália Viva, que anunciou a saída das ministras Teresa Bellanova (Agricultura) e Elena Bonetti (Família).
O movimento deixou a coalizão governista sem maioria no Parlamento, enquanto o país é abatido por uma terceira onda de infecções da doença que já matou mais de 82 mil pessoas. Depois de apelar para que a oposição o apoiasse na esteira da saída do Itália Viva, Conte ganhou a votação por 321 a 259 —a margem foi maior que a esperada e deu ao governo maioria absoluta na Casa.
De olho nos votos dos deputados de centro, o premiê prometeu reformular sua agenda política e reformar seu gabinete, dizendo que gostaria de modernizar a Itália e acelerar a implementação de um plano de recuperação da economia fortemente afetada pela recessão. "Peço um apoio claro e transparente, baseado na força e na clareza da proposta", disse ele ao abrir o debate do voto de confiança.
Conte condenou o pequeno partido de Renzi por ter abandonado a coalizão costurada 17 meses atrás.
"Sejamos francos, não podemos desfazer tudo o que aconteceu, não podemos reconquistar a confiança e a segurança, condições essenciais para se trabalhar junto. Agora temos que virar a página", afirmou, aparentemente incendiando as pontes de uma possível reconciliação com o ex-premiê.
O partido Itália Viva alegou que não concordava com a forma como Conte enfrenta as duas crises simultâneas: a sanitária e a econômica. Sem mencionar o nome de Renzi, o atual premiê disse que não havia "justificativa plausível" para a saída do governo neste momento.
As atenções agora se voltam para votação no Senado na terça —quando 321 legisladores devem tomar uma decisão até o fim da tarde. O resultado é bastante imprevisível, mas a maioria dos analistas afirma acreditar numa vitória de Conte, apoiada em um número importante de ausências e abstenções.
Se isso acontecer, ele continua no cargo, mas agora chefiando um governo de minoria, numa posição precária para aprovar questões sem consenso. A conta mais otimista, segundo os analistas, dá a Conte 157 votos (quatro a menos do que a maioria absoluta).
"Governos de minoria não são novidade na Itália, mas o que será sem precedentes será um governo de minoria que vai tentar tirar o país da maior crise econômica desde a Segunda Guerra no meio de uma pandemia", disse o analista Wolfango Piccoli, da consultoria de risco Teneo.
O ministro das Relações Exteriores, Luigi Di Maio, no entanto, uma das estrelas do maior partido da coalizão, o movimento antissistema 5 Estrelas, insiste que uma maioria relativa já será suficiente.
"É uma maioria. A maioria absoluta só é necessária para votar mudanças no orçamento e poucas outras questões. E, quando precisarmos dela, a encontraremos", disse em entrevista ao jornal Corriere della Sera.
A expectativa de Conte é a de que, se vencer o voto de confiança no Senado, conseguirá atrair mais parlamentares e manter sua posição.
Representantes do Itália Viva já disseram que poderiam voltar a fazer parte da coalizão se seus pedidos forem atendidos, mas tanto o 5 Estrelas quanto o Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, disseram que não querem novo acordo com Renzi, a quem acusam de traição.
Renzi foi criticado pelos outros membros da coalizão por abandonar o acordo estabelecido em 2019, após meses de crise política no país. Nicola Zingaretti, líder do Partido Democrático, descreveu a ruptura como um "erro grave" que “vai contra os melhores interesses do país”.
O enfrentamento da pandemia é a principal causa das desavenças entre o ex-premiê e o atual. Renzi criticou Conte por sua gestão da crise sanitária e sobre o plano para usar os mais de 200 bilhões de euros concedidos pela União Europeia para recuperar as economias do bloco.
Ele diz que o plano é centralizado em Conte, com pouco poder de participação dos outros partidos da coalizão. "Não vamos permitir que ninguém na Itália tenha plenos poderes. Isso significa governar com decretos-leis, que por sua vez se transformam em outros decretos-leis, como já vem acontecendo há meses. É uma violação das regras do jogo. Exigimos respeito pelas regras democráticas", afirmou Renzi.
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