Eleição de Biden segura por pouco ponteiro do Relógio do Juízo Final

Corrida nuclear, clima e desinformação agravam situação; Covid não é vista como risco existencial

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São Paulo

A eleição do democrata Joe Biden para a Presidência do Estados Unidos evitou que o Relógio do Juízo Final tivesse seus ponteiros aproximados para a fatídica meia-noite que indica o fim do mundo.

Criado em 1947 pelo Boletim dos Cientistas Atômicos, uma organização de especialistas que haviam trabalhado na criação da bomba e entenderam o problema criado, o Relógio simboliza o risco de aniquilação global.

Imagem de TV norte-coreana mostra míssil com capacidade nuclear do regime de Kim Jong-un
Imagem de TV norte-coreana mostra míssil com capacidade nuclear do regime de Kim Jong-un - KCNA - 10.out.2020/AFP

Desde 2007 ele incluiu outros fatores, além da guerra nuclear, como a crise climática e evoluções tecnológicas disruptivas. Em 2020, atingiu 100 segundos para meia-noite, menor nível da história, mantido nesta quarta (27).

"Os eventos negativos podem justificar mover o relógio para mais perto da meia-noite. Mas vimos alguns desenvolvimentos positivos", disse o em nota o Boletim, citando que Biden já retornou os EUA aos Acordos de Paris, que visam combater a crise climática, e acertou com a Rússia na terça (26) a extensão do Novo Start.

Último tratado de limitação de armas nucleares do mundo, o Novo Start estava para caducar no dia 5 de fevereiro após dificuldades criadas por Donald Trump na negociação com o russo Vladimir Putin.

Um prestigioso painel de 20 cientistas, o Boletim lamentou a crise da Covid-19 e a chamou de um alerta para o mundo, mas não considera o novo coronavírus um evento que traga riscos existenciais à humanidade.

"Suas consequências são graves e duradouras, mas a Covid-19 não vai obliterar a civilização e eventualmente a doença vai ceder", afirma o texto.

Mais grave, contudo, é a desinformação que acompanhou a escalada da epidemia. Sem citar diretamente negacionistas como Trump ou Jair Bolsonaro, que havia figurado nominalmente no relatório do ano passado por sua política climática deletéria, o Boletim foi sombrio.

"Informação falsa e enganosa foi disseminada na internet", diz o texto, citando a minimização de riscos e críticas a máscaras e falsas curas como a hidroxicloroquina, "criando caos social e levando a mortes desnecessárias".

A invasão do Capitólio sob inspiração de Trump, que poderá perder seus direitos políticos por isso, é citada como uma culminação do processo desinformativo —o então presidente mentia ao dizer que a eleição fora roubada.

Em seu campo de origem, o nuclear, o relatório do Relógio só é positivo quando fala na oportunidade de avanço com o Novo Start, que limita a monstruosas 1.550 ogivas operacionais para cada lado, Rússia e EUA, o suficiente para acabar com o planeta várias vezes.

O Boletim afirma que há a possibilidade de novos compromissos a partir da reabertura de negociações. Também é celebrado o Tratado de Proibição de Armas Nucleares, que entrou e vigor na sexta (22), embora seja limitado a países sem a bomba.

"A possibilidade de o mundo descambar para uma guerra nuclear —um perigo sempre presente nos últimos 75 anos— aumentou em 2020. Um fracasso global extremamente perigoso em tratar de ameaças existenciais reforçou seu jugo no campo nuclear".

São listados então os avanços russos, americanos e chineses em mísseis hipersônicos, os riscos de guerra entre Índia e Paquistão, o desmantelamento do acordo nuclear iraniano e o risco de guerra com os EUA, novos armamentos da Coreia do Norte, entre outros eventos como a Guerra Fria 2.0 entre Pequim e Washington.

No campo climático, é citada a demora das nações desenvolvidas em aderir a metas ousadas de corte de emissão de carbono e o fato de que os estímulos para a economia fóssil superam aqueles para a verde nos planos do G20.

Em 2020, no grupo desses países com maiores economias, pacotes de ajuda para setores baseados em energia suja somaram US$ 240 bilhões, antes US$ 160 bilhões para fontes alternativas.

O Brasil é citado lateralmente, como um dos países que apenas fez promessas frágeis de comprometimento com metas de redução de emissões.

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