Em carta, vice nega pedido de Trump para dar golpe e promete respeitar Constituição

Presidente havia exigido que Pence revertesse resultado da eleição durante sessão no Congresso

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São Paulo

Em uma carta publicada no Twitter no momento em que Donald Trump discursava em um protesto em Washington, o vice dos EUA, Mike Pence, contrariou o presidente e afirmou que respeitará a Constituição durante a sessão conjunta do Congresso para ratificar a vitória de Joe Biden nas eleições de novembro.

Embora ele faça um aceno ao chefe ao escrever que reconhece a preocupação de milhões de americanos sobre a integridade do pleito, o republicano afirma que realizará sua tarefa de garantir que essas preocupações recebam um tratamento justo no Congresso. "Objeções serão feitas, evidências serão apresentadas, e os representantes eleitos pelo povo americano farão suas escolhas", afirmou Pence.

O vice-presidente dos EUA, Mike Pence, antes do início da sessão conjunta do Congresso para ratificar o resultado da eleição, em Washington
O vice-presidente dos EUA, Mike Pence, antes do início da sessão conjunta do Congresso para ratificar o resultado da eleição, em Washington - Saul Loeb/AFP

Pence também escreve que seria "totalmente anti-ético" dar ao vice-presidente autoridade unilateral para decidir sobre objeções a votos do Colégio Eleitoral, contrariando, assim, o desejo de Trump. A posição é reforçada com a lembrança de que nenhum vice na história americana reivindicou essa autoridade.

Na terça (5), o presidente voltou a pressionar o vice a reverter a vitória de Biden, uma vez que Pence terá a função de abrir os envelopes e computar os votos enviados pelos 50 estados americanos. "O vice-presidente tem o poder de rejeitar os delegados escolhidos de forma fraudulenta", escreveu o republicano, em uma publicação no Twitter, a partir de uma premissa falsa.

Segundo o New York Times, no entanto, Pence disse ao presidente, no mesmo dia, durante seu almoço semanal com Trump, que não acreditava ter o poder de bloquear a certificação do Congresso.

Não há nada na Constituição americana que dê ao vice-presidente o poder de desconsiderar, unilateralmente, o resultado das urnas que, neste caso, dão a vitória a Biden. O democrata obteve 306 dos 538 votos do Colégio Eleitoral, contra 232 de Trump.

O republicano, contudo, mantém a narrativa falsa de que sua derrota é resultado de uma fraude generalizada no processo eleitoral americano e se recusa a aceitar a vitória do adversário.

Depois da publicação da carta, Trump, também no Twitter, criticou o vice, dizendo que Pence "não teve a coragem de fazer o que deveria ter feito pra proteger nosso país e Constituição".

Os ritos da democracia americana atribuem ao número dois da Casa Branca a presidência da sessão conjunta entre deputados e senadores que oficializa o resultado. Se houver, alguma oposição à soma oficial, Câmara e Senado terão que votar separadamente a validade da contestação.

Nesse caso, Pence teria a prerrogativa de decidir o impasse se a votação entre os senadores terminar empatada. O que Trump esperava de seu vice é que ele, unilateralmente, desconsiderasse os resultados de estados em que Biden foi vencedor. Esta seria uma situação inédita e uma explícita tentativa de golpe.

Na prática, como há maioria democrata na Câmara e, no Senado, vários republicanos já reconheceram a vitória do Biden, as chances de que contestações sejam aprovadas nas duas Casas são nulas.

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