Governo palestino anuncia primeiras eleições nacionais em 15 anos

Principal rival doméstico do presidente Mahmoud Abbas, Hamas diz que 'trabalhou' por esse dia

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Ramala | AFP

Após 15 anos sem que a população fosse às urnas, o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, anunciou nesta sexta-feira (15) a realização de eleições legislativas e presidenciais para 22 de maio e 31 de julho, respectivamente.

Abbas, líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), publicou um decreto presidencial das eleições gerais, informou um comunicado da agência oficial Wafa. Uma terceira votação, para eleger o Conselho Nacional Palestino, deve ser realizada em 31 de agosto. As últimas eleições presidenciais palestinas ocorreram em janeiro de 2005, e as legislativas, em janeiro de 2006.

Campo de refugiados palestinos Askar, em primeiro plano, e Beit Fureik, ao fundo
Campo de refugiados palestinos Askar, em primeiro plano, e a cidade de Beit Fureik, ao fundo - Jaafar Ashtiyeh - 26.jan.2021/AFP

O movimento é amplamente visto como uma resposta às críticas à legitimidade democrática das instituições políticas palestinas, incluindo a presidência de Abbas. O anúncio também vem cinco dias antes da posse do presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, com quem os palestinos querem reiniciar as relações depois de terem atingido um ponto baixo sob o governo de Donald Trump.

"O presidente instruiu o comitê eleitoral e todos os aparatos de Estado a lançar um processo democrático em todas as cidades da pátria", disse o decreto, referindo-se a Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental.

Ainda não está claro se Israel vai autorizar os habitantes de Jerusalém Oriental ocupada e anexada a votar —o país proíbe qualquer atividade promovida pela Autoridade Nacional Palestina, dizendo que quebra os acordos de paz provisórios dos anos 1990.

As facções palestinas renovaram os esforços de reconciliação para tentar apresentar uma frente unida desde que Israel chegou a acordos diplomáticos no ano passado com quatro países árabes —que desanimaram os palestinos e os deixaram cada vez mais isolados.

O Hamas, principal rival doméstico de Abbas, saudou o anúncio. "Trabalhamos nos últimos meses para resolver todos os obstáculos para que possamos chegar a este dia", disse o grupo em um comunicado.

Em setembro de 2020, Fatah e Hamas concordaram em organizar eleições "dentro de seis meses", num diálogo entre facções palestinas para enfrentar a normalização entre Israel e os países árabes.

Com Biden assumindo o cargo em 20 de janeiro, "é como se os palestinos estivessem dizendo ao novo governo dos EUA: estamos prontos para o engajamento", disse o analista de Gaza Hani Habib.

Já o analista da Cisjordânia Hani al-Masri é mais cético quanto à possibilidade de eleições.

Ele cita divergências internas dentro do Fatah e do Hamas e a provável oposição de EUA, Israel e União Europeia a qualquer governo palestino, incluindo o Hamas, que eles consideram um grupo terrorista.

"Isso vai acabar com a divisão ou perpetuá-la? E seus resultados [eleitorais] serão respeitados pelos palestinos, israelenses e americanos?", questionou Masri.

Em 2006, a última votação parlamentar dos palestinos resultou em uma vitória surpresa do Hamas, criando uma cisão que se aprofundou quando o grupo tomou o controle militar de Gaza em 2007.

Pesquisas recentes sugerem uma competição acirrada. Em dezembro de 2020, o Centro Palestino para Pesquisa de Políticas e Pesquisas apontou que 38% votariam no Fatah nas eleições parlamentares, e 34%, no Hamas. Previu, no entanto, que o Hamas teria a vantagem em uma votação presidencial, com 50% preferindo o líder do grupo, Ismail Haniyyeh, e 43% escolhendo Abbas.

Embora Abbas tenha vencido a última eleição presidencial em 2005, após o fim da Segunda Intifada palestina e a morte do líder histórico dos Fatah, Yasser Arafat, o Hamas não concorreu contra ele.

O Hamas abandonou seu boicote ao processo político no ano seguinte, realizando uma campanha parlamentar bem organizada sob o lema 'Mudança e Reforma' e derrotando o Fatah, até então dominante, que era amplamente vista como corrupto, nepotista e dividido. Ainda não está claro como Abbas vai superar as dificuldades logísticas de realizar eleições em três áreas, cada uma sob um controle diferente.

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