Descrição de chapéu Portugal

'Não iria à posse de Bolsonaro', diz candidata à Presidência de Portugal

Segunda colocada nas pesquisas, Ana Gomes ganhou notoriedade devido ao papel nas negociações pela independência do Timor Leste

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Lisboa

Segunda colocada nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência de Portugal, a ex-eurodeputada Ana Gomes, 66, afirmou que não compareceria à posse de um eventual novo mandato de Jair Bolsonaro.

Diplomata de carreira e com décadas de experiência em negociações internacionais, Ana Gomes ganhou notoriedade em seu país devido ao papel ativo nas negociações pela independência do Timor Leste. Entre 1999 e 2003, foi chefe de missão e embaixadora de Portugal na Indonésia.

“Não, eu não iria à posse do presidente Bolsonaro. Manteria a relação que a cortesia diplomática exige e apostaria tudo no desenvolvimento das relações entre Portugal e o Brasil no plano da sociedade civil”, afirmou ela, em entrevista a jornalistas estrangeiros na manhã desta segunda-feira (18).

A candidata à Presidência de Portugal Ana Gomes durante debate em evento realizado no Parlamento Europeu, em Bruxelas
A candidata à Presidência de Portugal Ana Gomes durante debate em evento realizado no Parlamento Europeu, em Bruxelas - 19.set.12/Connect Euranet/Divulgação

“O Brasil é, sem dúvida, um país mais do que amigo, é irmão. A nossa relação é intensa, e gostaria que ela fosse ainda mais intensa, em todos os planos. Agora, não posso ignorar, neste momento, que é presidente do Brasil um indivíduo que, no Congresso, glorificou os torturadores da presidente Dilma”, afirmou a jurista, cujo marido foi embaixador de Portugal no Brasil entre 2001 e 2004.

O atual presidente português e candidato à reeleição, Marcelo Rebelo de Sousa, foi um dos poucos chefes de Estado que estiveram em Brasília quando Bolsonaro assumiu o governo brasileiro, em 2019.

Ana Gomes disse ainda identificar semelhanças entre o discurso do presidente brasileiro, "divisionista e anticientífico, que quer instigar a desunião entre os cidadãos e que só semeia insegurança e violência”, e o do líder da ultradireita em Portugal, o deputado André Ventura (Chega), também candidato à Presidência.

O enfoque aqui [das ações da extrema direita em Portugal] é o ataque à comunidade cigana, que tem cerca de 50 mil pessoas e que precisa de um esforço de inclusão, e não de discriminação", afirma.

"Chegou-se ao ponto de pedir o confinamento da comunidade, o que é absolutamente intolerável. Se hoje são os ciganos, nós sabemos como se começa por uma comunidade... Depois são os imigrantes, o que é absolutamente intolerável num país de emigrantes.”

Militante histórica do Partido Socialista, o mesmo do atual primeiro-ministro, António Costa, Ana Gomes concorre às eleições como independente. A postura crítica da ex-embaixadora a muitas das ações do governo ajudou a azedar a relação com o premiê, que, embora não tenha declarado apoio formal ao atual presidente, já deixou claro que gostaria de ver Rebelo de Sousa, de centro-direita, reeleito.

A candidatura de Ana Gomes, para quem a hora de as mulheres ocuparem mais espaço no centro de decisões de seu país chegou, atraiu alguns nomes dos socialistas e tem o apoio formal de outras duas legendas menores: PAN (Pessoas-Animais-Natureza) e Livre.

“Portugal é um país onde a maioria da população é constituída por mulheres. Mulheres que trabalham, qualificadas, resistentes, que gerem suas casas e suas empresas com grande eficácia. É mais do que tempo de termos a devida representação paritária em todos os órgãos de poder a todos os níveis”, disse.

A eleição acontece no próximo domingo (24), em meio ao pior momento do país na pandemia de Covid-19.

Rebelo de Sousa é favorito à reeleição. De acordo com as pesquisas de intenção de voto mais recentes, ele deve garantir mais cinco anos no Palácio de Belém já no primeiro turno.

Em meio a um crescimento da extrema direita no país, o resultado do segundo lugar é considerado um teste importante para os partidos tradicionais portugueses.

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