Descrição de chapéu The New York Times

Nikolai Antoshkin, que ajudou a controlar desastre de Tchernóbil, morre aos 78 anos

General comandou missão por helicópteros em que ele e outros pilotos se expuseram a radiação

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Moscou | The New York Times

O general Nikolai T. Antoshkin, comandante de uma perigosa missão de combate a incêndios por helicópteros em que ele e outros pilotos se expuseram a radiação para conter o desastre nuclear de Tchernóbil, morreu no domingo (17). Tinha 78 anos.

O general morreu após uma “doença difícil”, segundo comunicado do presidente do Parlamento russo, no qual Antoshkin era deputado do partido governista desde 2014. O chefe da bancada da legenda na Casa disse que Antoshkin foi hospitalizado com Covid-19.

Antoshkin foi um dos líderes dos chamados liquidadores, equipes de militares e civis formadas às pressas e enviadas ao local do desastre. Corajosamente enfrentando riscos enormes, eles viraram heróis. Hoje são admirados na Rússia por terem impedido que um desastre já terrível se tornasse ainda pior.

O general Nikolai Antoshkin, deputado da Duma, o Legislativo russo
O general Nikolai Antoshkin, deputado da Duma, o Legislativo russo - Vladimir Fedorenko/RIA Novosti

O reator número 4 da usina nuclear de Tchernóbil, ao norte de Kiev, na Ucrânia, explodiu no dia 26 de abril de 1986, lançando radiação na atmosfera e ameaçando emitir muito mais. Um incêndio se alastrou pelo núcleo aberto do reator, lançando fumaça radioativa.

Os trabalhos de combate ao incêndio e limpeza do local começaram em segredo, mas vieram a público mais tarde. O objetivo era conter o máximo possível de radiação no próprio local, para evitar que contaminasse campos e levasse pessoas em toda a Europa a adoecer. Quando membros de uma equipe de bombeiros que se aproximaram por terra na noite do acidente adoeceram gravemente pela radiação, a tática mudou, e o incêndio passou a ser combatido desde o ar, com helicópteros.

Antoshkin servia em uma unidade da Força Aérea soviética em Kiev na época. Ele se tornou o piloto comandante da operação. Não estava claro se os pilotos conseguiram se proteger da radiação melhor do que as equipes de terra. Durante 15 dias, helicópteros sobrevoaram o núcleo aberto do reator, lançando sobre ele 5.000 toneladas de areia, argila, chumbo e boro para extinguir o incêndio e conter a radiação.

Os voos expuseram os pilotos à fumaça contaminada e à radiação que emanava do reator.

Os pilotos também fotografaram o local desde o ar e mediram a radiação. Um helicóptero caiu depois de se chocar com um guindaste acima do reator. Os materiais lançados pelos helicópteros conseguiram apagar o incêndio. Além de comandar a operação, Antoshkin pilotou helicópteros ele próprio dentro da missão e foi exposto à radiação, segundo a RIA, a Agência Russa de Informação.

Como o coronavírus hoje, a radiação emitida pela usina representava uma ameaça invisível e misteriosa. A exposição a ela encerrava riscos geralmente impossíveis de flagrar na época e que se mostraram letais para alguns e insignificantes para outros.

Após as operações de combate ao incêndio e de contenção da radiação, os helicópteros estavam tão radioativos que foram abandonados no local do acidente. Alguns foram enterrados posteriormente. A parte inferior da fuselagem, que havia sido exposta ao núcleo aberto do reator, era motivo de preocupação especial. Segundo testemunhas, nos casos em que os helicópteros foram abandonados em campos, a vegetação debaixo deles amarelou.

Foi uma experiência lancinante para os pilotos. Ao todo 28 liquidadores, incluindo membros da equipe que combateu o incêndio em terra, morreram envenenados pela radiação em questão de dias ou semanas depois de serem expostos. As consequências de mais longo prazo sofridas pelos pilotos em termos de câncer e outras doenças são incertas. Um dos pilotos dos helicópteros, Anatoly Grishchenko, morreu em 1990 de leucemia que atribuiu à radiação.

Mas Antoshkin sobreviveu. Apesar de ter sido exposto à radiação, teve uma carreira de três décadas na Força Aérea russa e depois chegou ao Parlamento como deputado do partido governista Rússia Unida, até contrair o coronavírus no final do ano passado.

Segundo sua biografia oficial, Antoshkin nasceu durante a Segunda Guerra Mundial numa vila em Bashkortostão, uma região do sul dos Montes Urais. Foi recrutado pelas Forças Armadas aos 19 anos e mais tarde escolhido para cursar a escola de aviação. Ele combateu em várias das guerras de seu país, incluindo a invasão da Tchecoslováquia em 1968, a guerra de fronteiras com a China em 1969 e a do Afeganistão em 1979, de acordo com a biografia, publicada pela RIA.

Mas conquistou as maiores honrarias pelos sobrevoos de Tchernóbil, em reconhecimento dos riscos extraordinários aos quais se expôs. Por comandar os voos de helicóptero sobre o reator em chamas e por ter pilotado alguns deles pessoalmente, Antoshkin foi condecorado como Herói da União Soviética.

O líder do partido Rússia Unida no Parlamento, Sergei Nevrov, disse no domingo que Antoshkin havia sido hospitalizado com Covid-19. “Nosso camarada morreu depois de uma doença difícil”, disse o presidente do Parlamento, Vyacheslav Volodin, em comunicado. “Colocando a própria vida em risco, ele salvou a vida de outros”, apagando o incêndio na usina nuclear de Tchernóbil.

Tradução de Clara Allain

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