Nova geração de bombardeiros das potências mundiais começa a chegar em 2021

EUA, Rússia e China trabalham em projetos que ganharam fôlego com competição renovada

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São Paulo

Se 2020 foi o ano em que brilharam nos campos de batalha do Cáucaso drones, representando uma alternativa barata e eficaz para países menos capazes de manter uma Força Aérea, 2021 promete ser pontificado por antigas estrelas da guerra moderna: os bombardeiros estratégicos.

Imagem feita por artista mostra como deverá ser o novo bombardeiro americano, o B-21
Imagem feita por artista mostra como deverá ser o novo bombardeiro americano, o B-21 - Divulgação/Força Aérea dos EUA

Uma nova geração desses aviões está em desenvolvimento, não por acaso nas três principais potências nucleares do mundo: Estados Unidos, Rússia e China.

Essas nações, mais a Índia, mantêm a chamada tríade nuclear: capacidade de lançar suas ogivas atômicas do solo, de submarinos e de aviões. Os indianos utilizam caças franceses Mirage-2000 como seu vetor, enquanto os outros países têm frotas mais amplas.

A ideia é garantir a capacidade retaliatória em caso de um ataque. Dificilmente o inimigo poderá destruir todos os componentes da tríade em um primeiro assalto: se tiver seus silos terrestres alvejados, o bombardeiro e o submarino poderão dar o troco.

A doutrina surgiu na Guerra Fria, quando soviéticos e americanos mantinham o equilíbrio do terror com um estoque que chegou a quase 70 mil ogivas nucleares. O fim do império comunista em 1991 fez a França abandonar sua tríade, focando submarinos e aviões. Já a emergente Índia integrou o time.

O crescimento no gasto militar mundial, a partir dos anos 2000, somou-se a dois fatores apontados em relatório do Pentágono em dezembro: a ascensão da China como potência rival dos EUA em nível estratégico e a volta da capacidade militar da Rússia, que, se economicamente não tem como competir com Washington, renovou suas Forças Armadas e tem arsenal nuclear comparável.

Assim, ressurgiram grandes programas de bombardeiros. Os modelos de uso estratégico no mundo hoje têm desenho que remontam aos anos 1950 em alguns casos, amplamente modernizados.

A joia da coroa é o B-21 Raider, bombardeiro da americana Northrop Grumman criado para substituir seus 20 legendários B-2 Spirit, a asa voadora com características furtivas ao radar que ganhou o exagerado apelido de avião invisível.

Só há dois desenhos conhecidos, um de 2016 e outro do ano passado, de como o avião deverá ser. O programa começou há quatro anos e prevê um custo de cerca de US$ 600 milhões por unidade —uma fábula, mas três vezes menos do que o B-2.

A previsão do Pentágono é que ele faça o chamado "roll-out", ou seja, deixe seu hangar para testes em solo, em 4 de dezembro deste ano. O primeiro voo deverá ser em 2022.

Já a Rússia, segundo especialistas militares do país, deverá fazer o mesmo em algum momento deste ano com o protótipo do PAK-DA, que está sendo desenvolvido pela tradicional fabricante de bombardeiros Tupolev.

Há dúvidas sobre esse cronograma e o plano de ver o avião operacional em 2027, dada as dificuldades econômicas russas. A empresa, de todo modo, construiu no ano passado uma nova fábrica só para o modelo em Kazan.

Pouco se sabe sobre o PAK-DA, exceto que ele deverá seguir o desenho de asa voadora consagrado pelo B-2, mas em estudo no mundo desde a Segunda Guerra Mundial. Como os rivais americanos, seria furtivo ao radar e subsônico, com grande autonomia (até 12 mil km).

O véu de segredo é igual na China, cuja asa voadora H-20 deverá ser testada em solo também neste ano, segundo previsão do Departamento de Defesa americano. Em comunicado recente, a fabricante Aviation Industry Corporation disse que os ensaios começariam "logo".

O avião, segundo analistas chineses, também será subsônico e deverá levar uma carga de até 10 toneladas, inclusive de bombas nucleares, a talvez 8.500 km —o suficiente para atingir o Alasca e o Havaí sem reabastecimento.

Enquanto as novidades não chegam, contudo, os três países apostam em modernização de suas frotas existentes. O mais icônico avião da Guerra Fria, o americano B-52 Stratofortress, vai receber em junho um lote de 608 novas turbinas para 76 unidades ainda em uso —58 delas em prontidão. O avião tem oito motores sob suas enormes e ameaçadoras asas.

Embora tenha voado pela primeira vez há 68 anos e tenha parado de ser produzido em 1962, o modelo foi constantemente atualizado. Passou a ser capaz de disparar mísseis de cruzeiro e será testado para uso com armas hipersônicas.

O terceiro modelo da frota estratégica americana, o B1-B Lancer, deverá ter 17 unidades desativadas neste ano, visando assim destinar recursos para a modernização dos 45 restantes.

Os russos mantêm no ar também três modelos da Tupolev em versões modernizadas: o Tu-95, o Tu-22 e o maior e mais pesado supersônico do mundo, o Tu-160. Chamado de Blackjack no Ocidente, o modelo tem sido visto com frequência em patrulhas de longa duração no entorno estratégico russo.

Já a China deu dois passos simbólicos em sua envelhecida frota de bombardeiros, baseada no Xian H-6, basicamente variantes do Tu-16 entregue pelos soviéticos ao regime comunista em 1958.

A versão mais modernizada do bombardeiro foi postada em aeródromos do mar do Sul da China, região disputada que Pequim clama para si, aumentando e muito o risco para navios americanos na área.

Apesar de o avião ser antigo, além da modernização ele foi adaptado para receber mísseis antinavio que são lançados a dezenas de quilômetros do alvo, dificultando sua neutralização no ar.

Os chineses apresentaram em 2019 versão N do H-6K, para uso de armas nucleares, ampliando sua capacidade de tríade —que existia na forma de aviões de combate táticos, como o russo Su-30 e suas variantes nacionalizadas.

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