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Portugal vota para presidente de olho em quem fica em segundo lugar

Líder com folga nas pesquisas, Rebelo de Sousa vê chance de 2º turno caso medo da pandemia provoque alta abstenção

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Lisboa

Com as pesquisas de intenção de voto indicando uma reeleição confortável do atual presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, Portugal vai às urnas neste domingo (24) de olho em quem ficará na segunda posição.

A vice-liderança é alvo de uma disputa acirrada entre dois candidatos de espectros políticos completamente distintos: a ex-embaixadora Ana Gomes, 66, com décadas de militância socialista, e o deputado André Ventura, 38, líder do partido de direita populista Chega.

A luta pelo segundo lugar, antes uma questão simbólica de força política, ganhou força com as previsões de abstenção recorde, algo que poderia levar a disputa a um até então inesperado segundo turno.

O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, ajusta máscara durante evento em Palmela, região próxima a Lisboa
O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, ajusta máscara durante evento em Palmela, região próxima a Lisboa - Carlos Costa - 13.mai.20/AFP

As eleições acontecem no pior momento da pandemia de coronavírus, com o país voltando para um confinamento geral. Como o voto é facultativo, o medo da Covid-19 deve deixar muitos eleitores em casa, especialmente os idosos, o grupo que mais costuma votar.

Com altos níveis de popularidade e mais de 57% das intenções de voto em todas as sondagens, Rebelo de Sousa ocupa situação confortável, mas já admitiu publicamente a possibilidade de um segundo turno.

Para vencer no primeiro turno, um candidato precisa ter mais do que 50% dos votos, como ocorre no Brasil. Caso isso não ocorra, os dois mais votados disputam uma segunda rodada.

Para a cientista política Paula Espírito Santo, professora da Universidade de Lisboa, os efeitos da crise sanitária na votação são relevantes, mas ela enxerga a declaração do atual presidente como "uma forma de apelo aos eleitores que já dão sua eleição como certa".

O resultado das presidenciais ajudará a demarcar o tamanho da ascensão da direita radical na política lusitana, que durante muitos anos foi considerada, de alguma forma, imune a esse tipo de discurso.

Enquanto vários países europeus viram crescimento expressivo da direita populista na última década –incluindo a vizinha Espanha, com o Vox–, em Portugal essa corrente só conseguiu chegar ao Parlamento nas últimas eleições, em 2019, justamente com Ventura.

Com um discurso antissistema e propostas como a castração química de pedófilos, o deputado e seu partido também se notabilizaram pelas críticas à comunidade cigana, a quem acusam de ser dependentes do RSI (Rendimento Social de Inserção), espécie de Bolsa Família local.

Em meio a um cenário de aumento nas intenções de votos e muitos pedidos de adesão ao partido, o Chega e seu líder acabaram atraindo a atenção de algumas das estrelas da ultradireita europeia.

Líder da legenda francesa Reunião Nacional, Marine Le Pen esteve em Lisboa neste mês para participar de atos de campanha. Ex-ministro e líder da Liga, o italiano Matteo Salvini gravou um vídeo em que até se arrisca no português: “André Ventura é o presidente dos portugueses de bem”, disse.

Na última semana, uma fala de Ventura, que criticava o batom vermelho usado pela também candidata presidencial Marisa Matias (Bloco de Esquerda), levou a uma onda de manifestações nas redes sociais.

A hashtag #VermelhoemBelem, referência ao Palácio de Belém, sede da Presidência de Portugal, chegou até ao Brasil, com o cantor Chico Buarque postando uma imagem em que ele e a namorada aparecem com os lábios pintados com a cor vermelha.

Na reta final da campanha, apesar das polêmicas e do apoio internacional a Ventura, a socialista Ana Gomes aparece à frente nas pesquisas. Quadro histórico do Partido Socialista, a jurista concorre à Presidência como independente. Suas críticas a colegas da legenda –incluindo o premiê, António Costa– acabaram fazendo com que seu nome não fosse consensual nem mesmo entre os socialistas.

Diplomata de carreira, Gomes foi embaixadora na Indonésia e teve papel importante nas negociações para a independência do Timor Leste. Da diplomacia para a política, foi eurodeputada por mais de uma década.

Nos últimos anos, tornou-se uma das principais críticas à evasão fiscal em Portugal e na Europa e defendeu o fim dos vistos gold, que dão autorização de residência a estrangeiros que comprarem imóveis de luxo. O ativismo a aproximou do hacker Rui Pinto, responsável por vazar os documentos do Football Leaks e dos Luanda Leaks, que revelaram transações financeiras suspeitas de diversos empresários.

Em entrevista à imprensa internacional, Gomes criticou Jair Bolsonaro e sua gestão da pandemia, afirmando que, se for eleita, não iria à posse de um eventual segundo mandato do presidente brasileiro.

“O Brasil não está vivendo tempos fáceis. Preocupa-me muito que sofram todos que estão no Brasil, designadamente em consequência da terrível gestão da pandemia, resultado da atitude do presidente Bolsonaro e do desacerto com as autoridades a todos os níveis, por parte de seu governo”, afirmou.

Ex-líder partidário, professor universitário e comentarista político por mais de 30 anos na TV portuguesa, o atual presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, 72, já era uma celebridade antes de chegar ao cargo. Sua postura após assumir a Presidência só aumentou o burburinho em torno de sua imagem.

Ao chegar ao Palácio de Belém, optou por uma relação de proximidade com os portugueses, marcada por selfies e abraços nos eleitores. Esse comportamento, inédito para ocupantes do cargo, rapidamente chamou a atenção e, claro, críticas pela superexposição e um suposto populismo.

O presidente também é o único político tratado pelo primeiro nome e gosta de passar uma imagem de simplicidade: costuma ser visto dirigindo o próprio carro, esperando na fila do supermercado ou dando um mergulho na praia de Cascais.

Apesar de ser ex-líder do PSD (Partido Social-Democrata), de centro-direita, desenvolveu relação estreita com o primeiro-ministro socialista Costa, que já expressou a vontade de ver Rebelo de Sousa reconduzido ao cargo. A proximidade tem sido uma das principais críticas de seus adversários à direita.

Portugal tem um regime parlamentar, no qual o governo é responsabilidade do premiê. O presidente tem função mais institucional, ocupando o posto de chefe de Estado. Ainda assim, o cargo concentra poderes considerados estratégicos, como a possibilidade de dissolver o Parlamento e convocar novas eleições.

O mandato, que começa oficialmente em 9 de março, tem duração de cinco anos.

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