Renúncia de ministras mergulha Itália em crise política e ameaça primeiro-ministro

Governo perde maioria no Parlamento com saída da coalizão do partido do ex-premiê Renzi

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Roma | Reuters e AFP

A renúncia, nesta quarta (13), de duas ministras do gabinete do premiê da Itália, Giuseppe Conte, mergulhou numa crise política o país que enfrenta uma terceira onda de infecções da pandemia que já matou mais de 80 mil pessoas.

O ex-primeiro-ministro Matteo Renzi, líder do partido Itália Viva, anunciou a saída das ministras Teresa Bellanova (Agricultura) e Elena Bonetti (Família) —deixando a coalizão governista sem maioria no Parlamento.

O primeiro-ministro italiano Giuseppe Conte durante uma sessão no Senado, em Roma
O primeiro-ministro italiano Giuseppe Conte durante uma sessão no Senado, em Roma - Remo Casilli - 9.dez.2020/Reuters

Com o rompimento, Renzi, que é senador, cumpre ameaças que vinha disparando havia algumas semanas numa investida contra o atual premiê, líder da coalizão que inclui o movimento antissistema 5 Estrelas, o Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, e o Livres e Iguais, de esquerda.

O acordo foi firmado no fim de 2019, após meses de crise política no país. Os outros membros criticaram a saída de Renzi e disseram que sua decisão prejudicaria a Itália, atolada na pior recessão desde o período pós-Guerra e com a segunda pior marca de mortos por Covid na Europa, atrás apenas do Reino Unido.

Nicola Zingaretti, líder do Partido Democrático, descreveu a ruptura como um "erro grave" que “vai contra os melhores interesses do país”. O enfrentamento da pandemia é a principal causa das desavenças entre o ex-premiê e o atual. Renzi criticou Conte por sua gestão da crise sanitária e sobre o plano para usar os mais de 200 bilhões de euros concedidos pela União Europeia para recuperar as economias do bloco.

Ele diz que o plano é centralizado em Conte, com pouco poder de participação dos outros partidos da coalizão. "Não vamos permitir que ninguém na Itália tenha plenos poderes. Isso significa governar com decretos-leis, que por sua vez se transformam em outros decretos-leis, como já vem acontecendo há meses. É uma violação das regras do jogo. Exigimos respeito pelas regras democráticas", afirmou Renzi.

O plano de recuperação foi aprovado pelo gabinete na noite de terça-feira (12), mas ainda precisa do aval do Parlamento. Em uma entrevista a uma rede de notícias italiana, o líder do Itália Viva disse que a versão final já era “um passo à frente”. Ele também prometeu que não vai bloquear a aprovação do plano para não atrasar a chegada dos fundos europeus.

No entanto, mantendo a pressão sobre Conte, ele levantou outras queixas e insistiu que a Itália deveria solicitar um empréstimo do fundo de resgate da zona do euro, conhecido como Mecanismo Europeu de Estabilidade (ESM), para ajudar seu serviço de saúde.

Até agora, nenhum país demonstrou interesse e tomar empréstimos do ESM, temendo elevar suas dívidas.

Com a movimentação, Renzi foi acusado de fazer política numa tentativa de reavivar seu pequeno partido que está fracassando nas pesquisas —o Itália Viva é uma dissidência do Partido Democrático e teve apenas 3% dos votos nas eleições legislativas de 2018.

Antes do anúncio desta quarta, Conte havia feito um último apelo a Renzi para permanecer na coalizão, dizendo que estava convencido de que a unidade do governo poderia ser restaurada se houvesse boa vontade de todos os lados.

“Parecia claro que Renzi queria se livrar de Conte e estava procurando um motivo para justificá-lo", disse Lorenzo Pregliasco, da empresa de pesquisas e análise política YouTrend. "Esta crise não é sobre política, é sobre os esforços de Renzi para conseguir um novo governo que lhe dê mais peso político."

Renzi diz que está agindo pelo bem do país, mas a maioria dos italianos afirma não acreditar em suas palavras. Em uma pesquisa da Ipsos divulgada na terça (12), 73% dos eleitores disseram que ele estava perseguindo seus próprios interesses, e 13% afirmaram que ele estava perseguindo os do país.

Ainda assim, Renzi deixou em aberto a possibilidade de retornar ao gabinete se suas demandas por uma reforma política e maior responsabilidade forem postas em prática.

"Pode ser feito um novo governo Conte? Não temos vetos sobre ninguém, nem preconceitos, nem presumimos dizer ao primeiro-ministro o que fazer", disse o ex-premiê, após descartar qualquer tipo de aliança com a ultradireita do antigo ministro Matteo Salvini.

Após a retirada das ministras do gabinete, o bloco de oposição pediu ao premiê que renunciasse. Em um comunicado em conjunto, a coligação italiana de extrema direita Liga, de Salvini, dos ultranacionalistas Irmãos da Itália e da conservadora Forza, disse que a melhor forma de garantir um governo estável seriam as eleições antecipadas.

Não está claro o que o primeiro-ministro e seus aliados remanescentes devem fazer a seguir.

Um cenário possível seria tentarem renegociar um novo pacto com o Itália Viva, o que quase certamente abriria o caminho para uma grande remodelação do gabinete, com ou sem Conte no comando.

Se a coalizão não conseguir chegar a um acordo sobre um caminho a seguir, o presidente Sergio Mattarella poderá tentar formar um governo de unidade nacional para lidar com a emergência sanitária.

Se isso falhar, a única opção seria uma votação nacional.

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