Alemanha, Polônia e Suécia expulsam diplomatas em resposta a Rússia

Moscou determinou saída de representantes após acusação de terem participado de atos pró-Navalni

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Berlim | AFP

Após a expulsão da Rússia de diplomatas de Alemanha, Suécia e Polônia por terem participado de protestos em apoio ao opositor Alexei Navalni, os três países europeus anunciaram nesta segunda (8) que irão fazer o mesmo com os representantes de Moscou.

O anúncio por parte do Ministério das Relações Exteriores de cada país, que declarou os diplomatas russos “personae non gratae”, foi feito quase simultaneamente.

Russos participam de protesto pró-Navalni em São Petersburgo
Russos participam de protesto pró-Navalni em São Petersburgo - Anton Vaganov - 23.jan.21/Reuters

A reação de Moscou veio imediatamente. "Esta decisão é infundada e hostil", declarou a porta-voz da chancelaria russa, Maria Zajarova, mais uma vez denunciando a interferência do Ocidente nos assuntos internos do país.

Ao anunciar a expulsão dos diplomatas europeus, na sexta (5), a Rússia afirmou que eles teriam participado de protestos a favor do opositor de Putin Alexei Navalni em 23 de janeiro, em Moscou e São Petersburgo, o que considerou ações "inaceitáveis e incompatíveis com o status diplomático".

Segundo a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, eles foram pegos "em flagrante delito". O total de pessoas que terá de deixar o país não foi informado.

Pela lei russa, atos públicos precisam ser autorizados pelo governo. Como as manifestações em apoio a Navalni não receberam essa permissão, elas foram consideradas ilegais pela Justiça.

Os russos anunciaram as expulsões depois que o chefe da política externa da União Europeia, Josep Borrell, pediu a liberação imediata de Navalni durante uma entrevista coletiva com o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov.

Lavrov não respondeu diretamente ao pedido, mas reclamou que a UE era um parceiro pouco confiável.

As expulsões dos europeus foram consideradas inaceitáveis pela ministra das Relações Exteriores da Suécia, Ann Linde, para quem o diplomata sueco expulso "estava apenas cumprindo suas obrigações".

A Suécia confirmou na sexta que um de seus diplomatas havia observado uma manifestação em São Petersburgo como parte de suas funções, mas rejeitou qualquer participação ativa.

O Ministério das Relações Exteriores da Alemanha também afirmou que seu representante expulso procurava "averiguar pelos meios legais a evolução da situação no local". A chancelaria polonesa considerou a decisão de Moscou injustificada.

A Alemanha já havia prometido, na sexta, consequências se a expulsão não fosse revista. "A decisão da Rússia de expulsar vários diplomatas europeus, incluindo um funcionário da embaixada em Moscou, não se justifica de forma nenhuma e prejudica as relações com a Europa", disse Heiko Maas, ministro das Relações Exteriores do país.

Uma onda de protestos começou na Rússia em 23 de janeiro, contra a prisão de Navalni, crítico do governo de Vladimir Putin. Mesmo em meio a um inverno rigoroso, houve atos em cerca de 100 cidades, e milhares de pessoas foram presas.

Navalni foi envenenado em agosto de 2020 e acusou diretamente Putin pela tentativa de assassinato. Ele foi tratado em Berlim, onde os médicos afirmaram ter encontrado o famoso veneno dos serviços secretos russos Novitchok (novato) em seu corpo.

Depois, Navalni divulgou a gravação de um trote que deu em um dos agentes do FSB (Serviço Federal de Segurança, sucessor da KGB) apontados como autores do ataque —nele, o espião acha que fala com um superior e admite ter colocado veneno na cueca do ativista no quarto de hotel.

O Kremlin nega qualquer envolvimento, e Putin brincou no fim do ano que, se a Rússia quisesse matar Navalni, o teria feito.

Navalni foi preso ao voltar à Rússia, em 17 de janeiro. Ele é acusado formalmente de violar os termos de sua liberdade condicional —teve uma sentença de prisão por fraude comutada em 2014, em uma ação que classifica como perseguição judicial. Embora nominalmente independente, o Judiciário russo é usualmente alinhado ao Kremlin.

Na última terça (2), o ativista foi condenado a cumprir mais dois anos e oito meses de prisão, em uma colônia penal.

Na sexta, ele voltou ao tribunal para outro julgamento, desta vez acusado de caluniar um veterano da Segunda Guerra que participou de um vídeo de apoio a Putin. A próxima audiência está marcada para o dia 12.

Blogueiro e advogado, Navalni surgiu na cena pública nos protestos contra Putin em 2012. No ano seguinte, candidatou-se a prefeito de Moscou e amealhou enormes 27% dos votos.

Mas foi em 2017 que ele apareceu para o mundo, ao comandar via internet a convocação de uma jornada de protestos que uniu milhares nas ruas da Rússia. Devido a acusações judiciais, foi barrado de concorrer contra Putin em 2018.

Passou então a uma tática dentro da política: fomentar qualquer candidatura em nível regional que fosse contrária ao Rússia Unida, o partido do regime.

Ele logrou sucessos simbólicos importantes nos pleitos locais de 2019 e 2020, e sua volta à Rússia era vista como uma preparação para o embate das eleições parlamentares de setembro. Agora, com ele preso, há a expectativa de que sua esposa, Iulia Navalnaia, possa ganhar destaque na oposição a Putin.

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