Com apuração lenta, líder indígena acusa fraude para decidir 2º turno no Equador

Yaku Pérez disputa segunda vaga com margem apertada; Andrés Arauz lidera contagem

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Quito | Reuters e AFP

O líder indígena Yaku Pérez, que disputa voto a voto com o banqueiro Guillermo Lasso uma vaga no segundo turno das eleições presidenciais no Equador, denunciou nesta segunda-feira (8) uma suposta tentativa de fraude para excluí-lo da disputa.

Com 98,70% dos votos apurados, segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), o economista Andrés Arauz, herdeiro político do ex-presidente socialista Rafael Correa (2007-2017), aparece como o vencedor do primeiro turno, realizado no domingo (7), com 32,12% dos votos.

O líder indígena Yaku Pérez durante o comício de encerramento de sua campanha antes da votação, em Cuenca - Fernanda Garcia - 4.fev.2021/Reuters

Em seguida, vêm Pérez, com 19,96%, e Lasso, com 19,57%.

“Ele tem pânico de entrarmos no segundo turno”, acusou, referindo-se a Correa.

Segundo Pérez, "se conspira uma fraude (...) para nos impedir de chegar ao segundo turno".

Ele diz, sem apresentar provas, que 15 pontos percentuais de seus votos foram transferidos para outros candidatos —nenhuma autoridade comprovou as irregularidades apontadas até agora.

O candidato propôs a abertura das urnas nas três províncias com maior eleitorado, incluindo Pichincha, onde fica a capital Quito. Pérez e seus companheiros de partidos começaram uma vigília ainda na noite de domingo em frente a um hotel de Quito onde as autoridades eleitorais estavam contando os votos, prometendo evitar a fraude eleitoral.

Em um comício de comemoração em sua cidade natal, Guayaquil, Lasso disse que uma revisão completa das declarações das pesquisas mostraria que ele chegaria ao segundo turno. Pela lei equatoriana, qualquer um dos candidatos pode solicitar recontagens manuais.

Há uma preocupação com a contagem dos votos no país, pois na última eleição presidencial houve um “apagão”, quando o sistema de apuração saiu do ar e gerou dúvidas sobre se todos os votos haviam sido contabilizados.

A presidente da CNE, Diana Atamaint, disse que “cada candidato tem o direito de esgotar todas as instâncias legais para contestar os resultados”. "Se tivermos de abrir as urnas, abriremos", afirmou.

O CNE disse que está revisando 13,96% dos registros eleitorais, o que atrasou a divulgação dos resultados. Assim, será preciso esperar a contagem voto a voto.

Atamaint acrescentou ainda que divulgará os resultados oficiais quando tiver "100% das atas analisadas".

A missão de observadores da Organização dos Estados Americanos (OEA), que acompanha o pleito, pediu calma até a divulgação final dos números, já que a contagem mostra uma “estreita margem entre os candidatos que ocupam o segundo e o terceiro lugar”.

Os Estados Unidos ecoaram os pedidos de calma durante o processamento dos dados eleitorais.

“Pedimos que mantenham a calma e sejam pacientes enquanto as instituições equatorianas terminam a contagem dos votos e trabalham para resolver os conflitos de forma pacífica e transparente, de acordo com a Constituição do Equador e as normas e processos estabelecidos”, disse o porta-voz do Departamento de Estado americano, Ned Price.

No domingo, os equatorianos foram às urnas numa eleição marcada por filas e demora para a abertura das mesas no interior do país.

Como já apontavam as pesquisas de boca-de-urna, o esquerdista Andrés Arauz, apadrinhado do ex-presidente Rafael Correa, garantiu sua vaga no segundo turno —marcado para 11 de abril.

Se Yaku Pérez terminar a contagem na frente, o Equador terá um segundo turno inédito entre candidatos de esquerda. O país, muito afetado pela pandemia, agora vive um novo aumento de casos de Covid e enfrenta uma grande dívida econômica provocada pela queda dos preços do petróleo.

Pérez, que tem 50 anos e é da etnia indígena Kichwa-Kañari, tem uma trajetória de militância em sindicatos indígenas e defende um Estado plurinacional, que reconheça e valorize as distintas etnias que compõem a população do país.

Na política, foi governador da província de Azuay, cuja capital é a cidade histórica de Cuenca, e participou dos protestos indígenas de 2019 contra a política de ajustes do governo do atual presidente, Lenín Moreno —que, com uma aprovação de 7%, sequer tentou a reeleição.

Estudou direito e fez doutorado na Universidade Católica de Cuenca, especializando-se em direito indígena. Em entrevista à Folha, disse que sua candidatura “também é a da juventude, a da ecologia, das bandeiras esquecidas [...] que agora se mostram mais importantes do que nunca, com a ameaça da mudança climática e das pandemias”.

Ele já conquistou o feito de ter tido o melhor resultado de todos os tempos para um candidato presidencial indígena e abriu uma disputa que havia sido definida há meses pela cisão ideológica entre defensores do livre mercado e socialistas.

Já Arauz, que completou 36 anos no sábado (6), ainda é pouco conhecido no país por ter morado muito tempo fora. Cursou economia na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. Depois, voltou ao Equador para seu mestrado na Flacso (Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais).

Recentemente, estava realizando seu doutorado na Unam (Universidade Nacional Autônoma do México). E, por conta disso, ele não pode votar nesta eleição, pois seu domicílio eleitoral está no México. Nascido em Quito, é filho de um dirigente de uma companhia petrolífera e de uma agente de turismo.

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