Descrição de chapéu Governo Biden

Em sua 1ª ação militar, Biden ordena ataque a grupos apoiados pelo Irã na Síria

Ataque aéreo atingiu instalações no leste do país de milícias ligadas a Teerã, segundo Pentágono

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São Paulo

Na primeira ação militar diretamente ordenada pelo presidente Joe Biden, o governo americano mirou um inimigo notório: o Irã. O democrata ordenou um ataque aéreo nesta quinta-feira (25) no leste da Síria contra instalações que o Pentágono disse pertencer a milícias apoiadas pelo país persa.

Os ataques aparentam ser de escopo limitado, diminuindo assim o risco de uma escalada de tensões. Eles foram uma resposta dos EUA a uma iniciativa contra uma base militar americana no Iraque há dez dias, que acabou com um civil morto, além de seis feridos, entre eles um soldado americano.

Joe Biden discursa durante evento em celebração à vacinação contra Covid-19 nos EUA
Joe Biden discursa durante evento sobre vacinação contra Covid-19 nos EUA - Jonathan Erns/Reuters

A decisão de Biden de atacar apenas na Síria e não no Iraque, ao menos por enquanto, também dá a Bagdá um respiro enquanto conduz investigações da empreitada do dia 15 de fevereiro.

A Síria reagiu à ação, que descreveu como uma indicação negativa das políticas da nova administração americana, e criticou a gestão do democrata. “[A gestão Biden] Deveria se ater à legitimidade internacional, não à lei da selva como [fez] a gestão anterior”, disse o Ministério do Exterior, em comunicado.

O Irã também condenou fortemente a empreitada, por meio do porta-voz da chancelaria, Saeed Khatibzadeh, que classificou a iniciativa como uma agressão ilegal e violação dos direitos humanos e da lei internacional, de acordo com a mídia estatal do país.

Já os porta-vozes da Casa Branca, Jen Psaki, e do Pentágono, John Kirby, ressaltaram o caráter protetor dos ataques. Psaki disse que eles foram uma mensagem de que o mandatário vai agir para defender os americanos. “Ao mesmo tempo, agimos de forma deliberada que visa desescalar a situação tanto no leste da Síria como no Iraque’, afirmou Kirby.

Ele acrescentou que os ataques destruíram completamente nove instalações e danificaram outras duas no ponto de controle de fronteira utilizado por grupos como Kata’ib Hezbollah e Kata’ib Sayyid al-Shuahada.

Nesta sexta (26), o Observatório Sírio de Direitos Humanos e a TV estatal iraniana disseram que a ação deixou 17 combatentes mortos —um médico de um hospital na região reportou o mesmo número à agência de notícias Reuters, sob condição de anonimato. O Kata’ib Hezbollah, porém, confirma a morte de apenas um integrante de seu grupo, identificado como Sayyid Rahi Salam Zayid al-Sharifi.

“O inimigo americano persiste na sua criminalidade e mata os protetores da nação e do povo honorável do país, não sendo dissuadido de derramar o sangue de inocentes contanto que as ondas de assassinato sejam recebidas da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos”, afirmou o grupo, em comunicado.

Autoridades americanas ouvidas pelo New York Times afirmaram que a ação militar foi uma pequena demonstração: uma bomba lançada sobre um aglomerado de edifícios na fronteira entre a Síria e o Iraque, usado para o trânsito de milícias e armamentos.

Outro oficial de Washington, falando sob condição de anonimato à Reuters, afirmou que a decisão de levar a cabo os ataques era para ser entendida como um sinal de que os EUA não querem que a situação se torne uma espiral maior de conflito, ainda que tenham punido as milícias.

A ação foi na fronteira justamente para evitar um contra-ataque diplomático ao governo iraquiano. O Pentágono ofereceu uma gama com alvos maiores a Biden, mas o presidente aprovou o de menor escala, afirmaram as autoridades ao jornal americano.

De lados opostos no conflito sírio, já que a Rússia apoia do governo de Damasco, o chanceler do país, Serguei Lavrov, afirmou que os EUA avisaram com vários minutos de antecedência que realizariam o ataque, período que ele considerou inadequado, segundo a agência de notícias RIA.

Lavrov também pediu a Washington que renove os contatos com Moscou com relação à Síria, para esclarecer a posição de Biden na questão, reportou a agência Interfax.

A França, em comunicado do Ministério do Exterior, disse que apoiava a ação dos EUA. “Tendo em vista esses inaceitáveis ataques, os quais condenamos firmemente, nos posicionamos com nossos aliados americanos.”

O ataque à base militar americana em 15 de fevereiro ocorreu dias antes de os EUA fazerem seu primeiro movimento oficial para voltar ao acordo nuclear com o Irã —Washington deixou o tratado em 2018, na gestão de Donald Trump.

Visando proteger o aliado americano, Kirby disse que o Iraque conseguiu ajudar os EUA a determinar quem foram os responsáveis pelas ações recentes, mas que não houve auxílio para determinar os alvos na Síria.

Militares iraquianos divulgaram um comunicado em que afirmam não terem trocado informações com os EUA sobre os alvos na Síria e que a cooperação se limita a lutar contra o Estado Islâmico.

Ainda não está claro como e se a escalada de tensões terá impacto nos esforços para a retomada do pacto de 2015.

Em 15 de fevereiro, foguetes atingiram a base militar americana no Aeroporto Internacional de Erbil, uma região do Iraque comandada por curdos. Dias depois, outro ataque atingiu uma base que recebe forças dos EUA no norte de Bagdá. Ainda no início desta semana, mais foguetes atingiram a Zona Verde de Bagdá, onde fica a embaixada americana e outras missões diplomáticas.

O Kata’ib Hezbollah negou envolvimento nos ataques. Algumas autoridades ocidentais e iraquianas dizem que as iniciativas, muitas vezes reivindicadas por grupos pouco conhecidos, estão sendo feitas por militantes com ligações com esse grupo, como uma forma de os aliados iranianos perseguirem as forças dos EUA sem serem responsabilizados.

Com Reuters e The New York Times

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