Mais de 6.400 civis foram assassinados por militares na Colômbia de 2002 a 2008

Anúncio foi feito por órgão que investiga crimes cometidos durante conflito com as Farc

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Bogotá | AFP

O tribunal que investiga os crimes cometidos durante os conflitos internos da Colômbia revelou nesta quinta-feira (18) que ao menos 6.402 civis foram assassinados por militares no país entre 2002 e 2008.

O Exército registrou essas mortes como decorrentes de combate, mas segundo a Justiça todas elas na realidade foram execuções extrajudiciais.

A Jurisdição Especial para a Paz (JEP), órgão criado por meio do acordo de paz de 2016 que pôs fim ao enfrentamento entre o Estado colombiano e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), investiga crimes cometidos durante meio século de conflito.

O tribunal teve acesso aos autos da Procuradoria-Geral da República, que informava que 2.248 pessoas tinham sido assassinadas pelos militares no período analisado.

Com a atualização, o número de vítimas, conhecidas no jargão militar como "falsos positivos", quase triplicou. A revelação de que os militares fraudaram os números e mataram inocentes —a maioria camponeses ou moradores de pequenas cidades do interior, entre eles indígenas e crianças— causou um escândalo no país.

Embora a cúpula militar sempre tenha negado que as execuções extrajudiciais fossem uma prática sistemática, soldados e oficiais declararam perante o tribunal de paz que haviam cometido "falsos positivos" para aumentar seus resultados operacionais por pressão de seus superiores.

Respondendo a uma campanha linha-dura na segurança, parte da política do então presidente Álvaro Uribe (2002-2010), as Forças Armadas distribuíram premiações em dinheiro, promoções e outros benefícios para os oficiais que apresentassem grande eficácia na eliminação de guerrilheiros.

Para receber esses prêmios, militares armavam arapucas no interior do país. Mas, em vez de guerrilheiros, civis eram mortos e vestidos de combatentes em cenários montados para simular os conflitos.

Em 2008, porém, uma operação do tipo, em Soacha, perto de Bogotá, foi desmascarada. Familiares de 19 jovens assassinados denunciaram os militares responsáveis pelas mortes dos garotos, mostrando evidências de que eles não faziam parte de organizações armadas.

A partir de então, centenas de denúncias similares passaram a surgir.

Até 2020, o Ministério Público havia reconhecido apenas 2.249 assassinatos de civis por militares entre 1988 e 2014, dos quais 59% ocorreram entre 2006 e 2008, no governo de Uribe. De acordo com a JEP, a maioria dos crimes ocorreu no departamento de Antioquia, no noroeste do país, onde o Exército e os grupos paramilitares de extrema direita combatiam os rebeldes.

Em agosto do ano passado, Uribe foi colocado em prisão domiciliar, mas solto dois meses depois —ele é acusado de ter apoiado paramilitares contra guerrilhas, estimulando a prática dos chamados “falsos positivos”.

Não por acaso, ele e seu afilhado político, o atual presidente, Iván Duque, eram contrários ao acordo de paz —negociado e aprovado na gestão de Juan Manuel Santos (2010-2018)— e à instalação de um tribunal especial para investigar apenas os delitos de direitos humanos cometidos naquele período.

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