Mianmar registra atos menores após Exército enviar tropas para reprimir protestos

Os atos, que chegam ao 12º dia seguido, pedem o fim do regime militar instaurado no golpe de 1º de fevereiro

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Rangoon (Mianmar) | AFP e Reuters

Manifestantes pró-democracia voltaram às ruas de Mianmar nesta segunda-feira (15), mas em número reduzido depois que as Forças Armadas anunciaram o envio de tropas e veículos blindados para reprimir os protestos.

Os atos, que chegaram ao 12º dia seguido, pedem o fim do regime militar instaurado no golpe de 1º de fevereiro, bem como a libertação da líder civil deposta Aung San Suu Kyi e de outros presos políticos.

Manifestante pró-democracia na frente de veículo blindado durante protesto em Rangoon - Ye Aung Thu/AFP

“Esta é uma batalha pelo nosso futuro, pelo futuro do nosso país”, disse a ativista Esther Ze Naw durante protesto em Rangoon, a maior cidade do país. “Nós não queremos viver sob uma ditadura militar. Queremos instaurar uma união federativa verdadeira, onde todos os cidadãos e todas as etnias sejam tratadas de forma igualitária”.

Ao menos duas pessoas ficaram feridas em confrontos com as forças de segurança nesta segunda na cidade de Mandalay. Na capital, Naypyitaw, dezenas de pessoas foram presas, incluindo ao menos 20 estudantes.

Houve bloqueios da internet durante a noite, mas a conexão havia sido restabelecida pela manhã. Nas últimas semanas, os militares ordenaram o bloqueio temporário de redes sociais para garantir o que classificam como estabilidade do país.

Além de protestos de rua, cidadãos mianmarenses vêm organizando campanhas de desobediência civil, assim como chamados de greve entre servidores públicos ligados ao governo deposto.

O general à frente da junta militar que governa Mianmar, Min Aung Hlaing, voltou a fazer ameaças contra os manifestantes nesta segunda. “Serão tomadas ações efetivas contra pessoas que prejudicarem o país cometendo traição por meio da violência”, afirmou.

A crise no país asiático pôs fim à recente transição democrática após reacender a tensão entre o governo civil e as Forças Armadas —que comandaram o país entre 1962 e 2011– e gerou preocupação pela volta à antiga era de repressão.

Os militares tomaram o poder após a Liga Nacional pela Democracia (LND), partido de Suu Kyi e maior agremiação civil do país, vencer as eleições de novembro.

A LND, que comanda o país desde 2015, obteve 83% dos votos e conquistou 396 dos 476 assentos no Parlamento no pleito de novembro, mas foi impedida de assumir quando o golpe foi aplicado no dia da posse da nova legislatura. O Partido da União Solidária e Desenvolvimento, apoiado pelos militares, obteve apenas 33 cadeiras. ​

As Forças Armadas alegam ter havido fraude eleitoral, mas não apresentaram evidências para comprovar a acusação. Ao assumirem o poder, os militares declararam um estado de emergência que deve durar pelo menos um ano até a realização de um novo pleito.

Mianmar tem um histórico violento de repressão a protestos. Na revolta de 1988, mais de 3.000 manifestantes foram mortos pelas forças de segurança do país durante atos contra o regime militar.


CRONOLOGIA DA HISTÓRIA POLÍTICA DE MIANMAR

  • 1948: Ex-colônia britânica, Mianmar se torna um país independente
  • 1962: General Ne Win abole a Constituição de 1947 e instaura um regime militar
  • 1974: Começa a vigorar a primeira Constituição pós-independência
  • 1988: Repressão violenta a protestos contra o regime militar gera críticas internacionais
  • 1990: Liga Nacional pela Democracia (LND), de oposição ao regime, vence primeira eleição multipartidária em 30 anos e é impedida de assumir o poder
  • 1991: Aung San Suu Kyi, da LND, ganha o Nobel da Paz
  • 1997: EUA e UE impõe sanções contra Mianmar por violações de direitos humanos e desrespeito aos resultados das eleições
  • 2008: Assembleia aprova nova Constituição
  • 2011: Thein Sein, general reformado, é eleito presidente e o regime militar é dissolvido
  • 2015: LND conquista maioria nas duas Casas do Parlamento
  • 2016: Htin Kyaw é eleito o primeiro presidente civil desde o golpe de 1962 e Suu Kyi assume como Conselheira de Estado, cargo equivalente ao de primeiro-ministro
  • 2018: Kyaw renuncia e Win Myint assume a Presidência
  • 2020: Em eleições parlamentares, LND recebe 83% dos votos e derrota partido pró-militar
  • 2021: Militares alegam fraude no pleito, prendem lideranças da LND, e assumem o poder com novo golpe de Estado ​
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