Negociações para reeditar coalizão de governo fracassam na Itália

Presidente deve convidar ex-chefe do Banco Central Europeu para resolver impasse

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Roma | Reuters e AFP

A rodada de negociações para tentar reeditar a coalizão de governo na Itália fracassou nesta terça-feira (2), após diferenças entre os partidos, afirmou o presidente da Câmara dos Deputados, Roberto Fico.

O anúncio foi feito ao final de quase quatro dias de consultas a pedido do presidente da Itália, Sergio Mattarella, para recompor a maioria parlamentar que sustentava o premiê Giuseppe Conte, que renunciou para tentar resolver o impasse.

Diante do cenário, o presidente convocou uma reunião com o ex-chefe do Banco Central Europeu Mario Draghi para esta quarta (3) e deve convidá-lo para formar um novo governo. "Tenho o dever de apelar a todas as forças políticas [para apoiar] um governo de alto nível", afirmou Mattarella.

O presidente da Itália, Sergio Mattarella, durante pronunciamento do Palácio Quirinale, em Roma
O presidente da Itália, Sergio Mattarella, durante pronunciamento no Palácio Quirinale, em Roma - Paolo Giandotti/Palácio Presidencial/Reuters

À frente do BCE, Draghi recebeu créditos por ter tirado a zona do euro da beira do colapso em 2012. Ele praticamente desapareceu dos olhos do público desde que seu mandato terminou em outubro de 2019, mas seu nome emergiu como um possível premiê nas últimas semanas devido à turbulência política, econômica e de saúde na Itália.

O economista ainda não comentou sobre a convocação presidencial. Também não está claro quais partidos no Parlamento profundamente dividido apoiariam um governo sob seu comando.

A renúncia de Conte na última terça-feira (26) foi o resultado de uma manobra política que poderia fazer com que, apesar da saída, o premiê voltasse ao poder, mas sobre os ombros de uma nova coalizão.

Como interino, ele disse que não teve escolha a não ser deixar o posto depois que o pequeno partido Itália Viva, liderado pelo ex-primeiro-ministro Matteo Renzi, abandonou o barco governista com duras críticas à gestão.

A saída do partido de Renzi deixou a coalizão que mantinha Conte no poder sem a maioria absoluta do Senado, o que, na prática, comprometeria a governabilidade do país.

Por isso, jogando dentro das regras do parlamentarismo, Conte optou pela renúncia com o intuito de voltar ao cargo apoiado por uma nova aliança de partidos, como ele próprio fez em 2019.

Mas a repetição do feito desta vez não funcionou. Conte chegou a fazer esforços para atrair senadores independentes e de centro para a coalizão na tentativa de preencher o vácuo deixado por Renzi, mas não teve sucesso.

Renzi critica a forma como Conte gerenciou a resposta à pandemia de coronavírus —que infectou 2,5 milhões de pessoas e causou mais de 87 mil mortes na Itália— e acusa o premiê de centralizar as decisões sobre como gastar os recursos concedidos pela União Europeia no plano de recuperação econômica para o período pós-pandemia.

Criou-se, portanto, um impasse que o presidente Mattarella tentou, sem sucesso, resolver ao longo da última semana.

Apoiavam a permanência de Conte como premiê o Movimento Cinco Estrelas, partido que se posiciona como antissistema, e o Partido Democrata (PD), de centro-esquerda.

Já Matteo Salvini, líder da ultradireitista Liga Norte, insinuou o risco de uma cisão na política italiana ao afirmar que cada partido tomaria sua própria decisão sobre como reagir se Mattarella tentasse instalar um novo governo sem novas eleições.

O populista representa uma aliança de partidos de direita, que inclui o Força Itália, do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi.

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