Separatistas obtêm maioria na Catalunha e podem dificultar formação de governo

Ex-ministro da Saúde Salvador Illa, anti-independência, teve maior parcela dos votos, mas precisará atrair adversários para governar; direita radical chega em 4º

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Bruxelas

Partidos pró-independência da Catalunha consolidaram sua maioria no Parlamento regional na eleição deste domingo (14) e, pela primeira vez, receberam a maioria dos votos no pleito.

Com 99,5% da apuração já concluída, o bloco separatista soma cerca de 51% do total de votos.

Uma das regiões mais ricas da Espanha, a Catalunha viveu uma das mais sérias crises políticas em 2017, quando um plebiscito organizado pelo governo regional —que era pró-independência— terminou com 90,09% dos votos favoráveis à separação do território do resto da Espanha, em um dia marcado pela violência policial.

A votação, porém, não tinha caráter oficial, pois tinha sido proibida pela Justiça. Por isso, partidos e defensores da mantenção da Catalunha na Espanha boicotaram o pleito.

Assim, a vitória do movimento pró-independência não foi reconhecida pelo governo espanhol, e, dois anos depois, líderes separatistas foram condenados por sedição pela Justiça espanhola.

A região de 7,5 milhões de habitantes, cuja principal cidade é Barcelona, também teve sua autonomia suspensa por quase sete meses pelo governo central exatamente pela organização do plebiscito.

Homem de cabelo liso escuro, óculos e terno escuro e camisa branca faz sinais de vitória em frente a um fundo vermelho
O ex-ministro da Saúde espanhol Salvador Illa, que deixou cargo para concorrer nas eleições regionais da Catalunha; o Partido Socialista Catalão, pelo qual Illa foi candidato a presidente regional, obteve a maior parcela dos votos - 14.fev.2021/Reuters

Apesar do avanço dos separatistas na eleição deste domingo, o Partido Socialista Catalão (PSC) — contrário à independência— obteve o maior número de votos (23%), o que lhe rendeu 33 das 135 cadeiras, quase o dobro dos 17 anteriores. O candidato do partido à presidência catalã é Salvador Illa, ex-ministro da Saúde espanhol que deixou a linha de frente de combate à pandemia para concorrer às eleições.

Nacionalmente, o PSC é ligado ao PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), a sigla do premiê Pedro Sánchez.

Por isso, o bom desempenho dos socialistas pode indicar maiores chances de um diálogo com Madri, mas as chances de Illa de formar um governo podem ser prejudicadas pelo controle do Parlamento pelos separatistas. Durante a campanha, os partidos pró-independência excluíram a possibilidade de apoiar o PSC em uma nova administração.

A Esquerda Republicana Catalã (ERC) terminou o pleito como a principal força pró-independência, com 21% dos votos e 33 cadeiras, seguida pelo Juntos pela Catalunha (JxCat) —que deve obter 32 assentos. Com as 9 cadeiras da Candidatura da Unidade Popular (CUP), de esquerda, eles chegam a 54% dos deputados regionais.

Na manhã desta segunda (15), líderes separatistas falaram em uma nova consulta popular sobre a independência catalã —mas não há garantias que um novo plebiscito seria autorizado pela Justiça e pelo governo central.

As eleições foram marcadas pela pandemia de Covid-19, que levou a uma forte abstenção. Votaram cerca de 53% dos eleitores registrados, contra um comparecimento de 79% na eleição de 2017. Analistas acreditam que a preocupação com o coronavírus pode ter favorecido os partidos separatistas, cuja mobilização era mais forte.

O partido de direita radical Vox terá pela primeira vez representantes no Parlamento catalão, com 11 cadeiras, o quarto maior número de deputados.

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