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Após reforma ministerial, Paraguai tem nova noite de protestos contra presidente

Oito pessoas foram presas em tentativa de invadir residência oficial de Abdo Benítez

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Assunção (Paraguai)

A madrugada deste domingo (7) começou com novo enfrentamento entre manifestantes e forças de segurança no Paraguai, após uma tentativa de forçar a entrada da residência presidencial, a Mburuvicha Róga, em Assunção.

Oito manifestantes chegaram a ser presos, mas já foram soltos, segundo o jornal local ABC.

Ao longo da noite, as ruas da capital voltaram a se encher de ativistas que, de modo pacífico, reclamavam da atuação do presidente Mario Abdo Benítez no combate à pandemia de coronavírus.

Manifestantes protestam nas imediações da residência do presidente Mario Abdo Benítez, em Assunção
Manifestantes protestam nas imediações da residência do presidente Mario Abdo Benítez, em Assunção - Norberto Duarte/AFP

No fim da tarde deste domingo, centenas de pessoas iniciavam o terceiro dia de atos nas imediações da residência presidencial, cuja segurança recebeu reforço da Polícia Nacional. Para evitar novas tentativas de invasão, a região foi cercada.

Uma manifestação contra o ex-presidente Horacio Cartes está marcada para a noite desta segunda-feira (8). Centenas de manifestantes que estavam na tarde de domingo na frente da residência presidencial, onde vive Abdo Benítez, porém, preferiram ir nesta mesma noite à residência do líder do partido Colorado.

Cartes vive na avenida Espanha, numa região nobre de Assunção. O ex-mandatário controla os votos do Honor Colorado, corrente majoritária do Partido Colorado no Congresso e que, por isso, pode definir se haverá um afastamento do presidente. Abdo Benítez também pertence à legenda, mas integra uma corrente minoritária.

Ao chegarem à casa de Cartes, os manifestantes deram de cara com uma fileira de policiais que cercavam a entrada com escudos. Muitos se manifestavam pacificamente. Por volta das 23h, no entanto, um grupo lançou pedras e avançou contra os policiais, que dispararam tiros de borracha. Segundo testemunhas, cinco pessoas ficaram feridas.

“Não era essa a ideia, viemos aqui para escrachá-lo, para pressionar pela renúncia de Marito”, disse à Folha Raul Tejero, 26, que afirmou participar dos protestos desde sexta-feira (5). “Agora vamos até o fim. Esse troca-troca de favores, de cargos de ministros que está havendo, não vai acalmar nossos ânimos. Chega de decisões políticas de conveniência."

Os protestos foram motivados por um aumento dos casos do coronavírus e a falta de vacinas.

De acordo com a mídia paraguaia, os manifestantes afirmam que manterão as mobilizações até que o chefe do Executivo deixe o cargo. Eles também reivindicam mais insumos, leitos de hospitais e imunizantes contra a Covid-19 —nos cartazes, questionam também as restrições impostas pelo governo: "ficamos trancados por nada". Outros carregavam placas com frases como “Marito = Morte”.

Desde a noite de sexta-feira, protestos pedem a renúncia do mandatário de centro-direita, aliado do presidente Jair Bolsonaro no Mercosul.

Na primeira fase da pandemia, o Paraguai conseguiu manter baixos os níveis de contaminação com medidas de quarentena severas. A chegada de variantes, inclusive a brasileira, entretanto, tem aumentado o número de infecções e pressionado o sistema de saúde. A crise sanitária já havia causado, na semana passada, o afastamento do ministro da Saúde, Julio Mazzoleni.

Depois de passar quase todo o sábado (6) reunido com ministros e apoiadores, Abdo Benítez fez um pronunciamento pedindo união e respeito aos protocolos de segurança, ao mesmo tempo em que avisou que, nos próximos dias, seriam divulgadas mudanças em seu gabinete.

Horas depois, anunciou a primeira parte da reforma ministerial. O nome mais aguardado era o do novo ministro da Saúde, que será o cardiologista Julio Borba. Ele assume com a missão de conseguir mais contratos de vacinas. Também deixaram seus cargos o ministro da Educação e a da Mulher, além do chefe de gabinete, Juan Ernes Villamayor.

O presidente busca evitar um julgamento político, que no Paraguai é muito parecido com o dispositivo do impeachment no Brasil. No país vizinho, no entanto, o processo pode ocorrer de modo muito mais rápido caso haja maioria em favor do afastamento.

Por enquanto, o partido do presidente, o Colorado, está rachado entre um grupo menor, leal a ele, e um mais numeroso, de parlamentares da corrente Honor Colorado, aliada ao ex-presidente Horacio Cartes.

Foi a Honor Colorado que apoiou Abdo Benítez em 2018 e garantiu que ele não caísse após um escândalo relacionado à empresa binacional Itaipu. Por enquanto, o líder paraguaio conta com esse apoio, mas outros partidos da oposição pedem que, na segunda-feira (8), a possibilidade de detonação de um julgamento político seja debatida.

"Eles precisam ir embora, o presidente e o vice. Estamos reunidos para investigar o que vem acontecendo. Pagamos por vacinas que nunca chegaram à população", disse Efraín Alegre, do Partido Liberal.

O fato de as manifestações de rua estarem intensas pode levar Cartes a mudar de ideia.

Enquanto a noite de sexta-feira foi mais violenta, com 21 feridos e um morto, a de sábado não registrou problemas, embora tenha havido grande presença popular nas ruas.

A polícia havia afirmado que o manifestante morto, de 32 anos, tinha sido atingido por arma branca e que poderia ter sido vítima de assalto. Mas o jornal local Última Hora publicou um boletim médico que relata feridas provocadas por balas de borracha no tórax do homem.

Abdo Benítez disse, em uma mensagem gravada, aceitar e escutar as manifestações pacíficas, mas se posicionou contra os atos mais violentos. O ministro do Interior, Arnaldo Giuzzio, afirmou que havia um grupo de infiltrados cuja finalidade era vandalizar e comprometer o governo, ferindo cidadãos.

"O relatório que recebemos mostra que havia um pequeno grupo saltando e gritando e que, depois de uma ordem, começou a atuar de modo violento. O resto da manifestação era absolutamente pacífica", afirmou.

Carlos Fillizola, da esquerdista Frente Guazú, afirmou que é preciso garantir que os manifestantes "se expressem livremente" e pediu que a população continue se mobilizando "para pressionar a saída de Abdo Benítez e Hugo Velázquez", referindo-se também ao vice-presidente.

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