Argentina e Equador vivem crise diplomática, e Quito convoca embaixador para consultas

Rusga foi motivada por declarações de Alberto Fernández sobre Lenín Moreno

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Quito | AFP

A chancelaria do Equador convocou nesta quarta-feira (10) seu embaixador na Argentina, Juan José Vásconez, após um protesto apresentado por Quito às declarações do presidente Alberto Fernández que citam seu par equatoriano, Lenín Moreno.

Segundo o governo, em breve nota, a solicitação tem como objetivo analisar exaustivamente as relações do Equador com a gestão do atual líder argentino e, a partir disso, orientar o representante diplomático.

O presidente da Argentina, Alberto Fernández, participa de evento durante visita ao México
O presidente da Argentina, Alberto Fernández, participa de evento durante visita ao México - Henry Romero - 24.fev.21/Reuters

Após ter sido questionado sobre um possível distanciamento de sua vice, Cristina Kirchner, o presidente disse que “não é Lenín Moreno". "Quem imaginou isso não me conhece. Posso ter divergências com a Cristina. Temos opiniões diferentes sobre algumas coisas, mas cheguei aqui com Cristina e daqui vou sair com Cristina”, acrescentou ele em entrevista ao canal argentino C5N.

Em uma carta de protesto, dirigida à chancelaria argentina por meio de Vásconez, o Equador informou que “não aceita comparações ofensivas com o presidente” e, em outro comunicado, que considera as falas de Fernández uma “intervenção inaceitável nos assuntos internos de outro Estado”.

Moreno, que foi vice-presidente de Rafael Correa (2007-2017), hoje é um desafeto do ex-líder equatoriano, um aliado de Kirchner. O atual presidente do país, cujo mandato de quatro anos terminará em 24 de maio, foi promovido por Correa, que o descreve como um traidor. As profundas diferenças entre ambos mergulharam o partido da situação, no poder há 14 anos, em crise.

Correa, que mora na Bélgica, foi condenado à revelia em 2020 a oito anos de prisão por corrupção. Ele também enfrenta um julgamento pelo sequestro de um opositor na Colômbia, em 2012. O ex-presidente socialista, que se considera um perseguido político do governo Moreno, afirma enfrentar quase 40 processos no país, muitos dos quais por suspeita de corrupção.

“O sistema de Justiça do Equador goza atualmente de absoluta independência e autonomia em todos os seus atos, e o trabalho que vem realizando na luta contra a corrupção tem o único propósito de devolver o Estado de Direito e a liberdade de ação ao Judiciário equatoriano”, informou a chancelaria nesta quarta.

Essa não é a primeira rusga com Buenos Aires durante o governo Moreno. Em outubro de 2017, ainda na gestão de Mauricio Macri, o Equador expressou “repúdio e desgosto” devido a declarações consideradas ofensivas feitas pelo então embaixador argentino em Quito, Luis Alfredo Juez, sobre os equatorianos.

Certa vez, Juez disse que trocou de roupa para evitar comentários de que “sou um sujo e peguei hábitos equatorianos”, referindo-se às comunidades indígenas do país.

"Uma das mais conhecidas é o povo Otavalo [do Norte]. Eles se vestem na manhã de sábado e passam todo o fim de semana com a mesma roupa. Eu me referia a isso —para não passar todo dia com a mesma indumentária, passei em casa para me trocar", explicou depois o diplomata, que acabou substituído.

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