Descrição de chapéu The New York Times

Chacina intensifica medo de ódio crescente contra asiáticos nos EUA

Seis das oito vítimas de atirador no estado da Geórgia eram mulheres de origem asiática

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Acworth (EUA) | The New York Times

A chacina cometida por um atirador nesta semana na região de Atlanta, no estado da Geórgia, desencadeou uma nova onda de medo e revolta entre asiático-americanos, uma vez que, entre as oito vítimas, seis eram mulheres de origem asiática —isso em um ano de violência antiasiática em todo o país.

O suspeito indiciado nesta quarta (17) pelas mortes cometidas em três locais diferentes disse a detetives que frequentou casas de massagem no passado e que fez seus ataques para acabar com tentações.

Investigadores disseram que ainda não excluíram uma motivação racista, apesar de o suspeito, homem branco de 21 anos residente num subúrbio de Atlanta, ter negado que tenha sido movido por esse preconceito. Ele disse à polícia que tem “compulsão sexual” e que encara as casas de massagem como locais que lhe permitem “fazer algo que não deveria”, disse o capitão Jay Baker, do condado de Cherokee.

Manifestantes participam de vigília em homenagem às vítimas de chacina no estado da Geórgia
Manifestantes participam de vigília em homenagem às vítimas de chacina no estado da Geórgia - Alex Wong - 17.mar.21/Getty Images/AFP

“Ele estava tentando eliminar essa tentação”, disse Baker. Todas, menos uma das vítimas, eram mulheres.

A deputada democrata Marilyn Strickland, de Washington, disse no plenário do Congresso na quarta-feira: “A violência racialmente motivada deve ser descrita como tal. Temos que parar de apresentar desculpas e de reclassificá-la como ansiedade econômica ou compulsão sexual. Como mulher negra e coreana, tenho consciência aguda de como é a sensação de ser deletada ou ignorada”.

Em Washington, o presidente Joe Biden e a vice-presidente Kamala Harris, primeira mulher e primeira asiático-americana a exercer esse cargo, falaram separadamente sobre o massacre. Biden destacou que a motivação dos crimes ainda não foi determinada, mas falou das “brutalidades cometidas contra asiático-americanos nos últimos meses”, que descreveu como “muito, muito perturbadoras”.

Autoridades e defensores observaram um aumento nos crimes contra americanos de origem asiática durante a pandemia. Alguns puseram a culpa nas palavras do ex-presidente Donald Trump, que reiteradamente chamou o coronavírus, identificado inicialmente na China, como “o vírus chinês”.

Na quarta-feira, o suspeito, Robert Aaron Long, foi indiciado por oito acusações de homicídio.

As autoridades disseram que a chacina começou pouco antes das 17h da terça (16) na Young’s Asian Massage, em Acworth, na Geórgia, uma comunidade culturalmente diversa cerca de 50 km a noroeste de Atlanta. Na porta ao lado da casa de massagem, Martha Enciso e suas colegas do salão de beleza Perfecto trabalhavam ao som de música cantada em espanhol quando ouviram o que parecia alguém esmurrando as paredes. Enciso disse que elas não deram muita importância no momento.

“Quem poderia imaginar o que estava acontecendo ali?”

Depois, quatro pessoas foram encontradas baleadas na Young’s Asian Massage. A polícia identificou as vítimas como Delaina Ashley Yaun, 33, Paul Andre Michels, 54, Xiaojie Tan, 49, e Daoyou Feng, 44.

O imigrante guatemalteco Elcias Hernandez-Ortiz, 30, que estava passando diante da casa de massagem a caminho de uma casa de câmbio ao lado, também foi baleado e ficou gravemente ferido. Segundo sua esposa, Flor Gonzalez, os médicos lhe disseram que o marido foi ferido na testa, na garganta, nos pulmões e no estômago. “Ele ainda está vivo”, disse ela. “Está lutando para sobreviver. Mas os médicos me disseram que sua recuperação levará muito tempo.”

Menos de uma hora após os disparos em Acworth, o tiroteio continuava num trecho de clubes de striptease e casas de massagem em um bairro gentrificado da zona nordeste de Atlanta.

Gravações de telefonemas feitos à polícia revelam que às 17h47 o departamento de polícia de Atlanta recebeu uma ligação de uma mulher que, aos cochichos, disse que houvera um assalto no Gold Spa e que um “sujeito branco” estava armado no local.

A mulher disse que estava escondida e não sabia se alguém ficara ferido. A polícia chegou pouco depois ao local, que tem fachada bege e letreiro em neon gritante, e encontrou três mulheres baleadas.

Dez minutos depois dessa ligação, outra mulher telefonou à polícia para dizer que uma amiga na Aromatherapy Spa, do outro lado da rua, lhe dissera que um homem chegara ao local com arma na mão.

“Todo o mundo ouviu o tiro, e uma mulher ficou ferida, acho. Está todo mundo com medo, se escondendo”, disse a mulher. A polícia encontrou outra vítima no local.

Quando isso aconteceu, as autoridades já haviam visto nas imagens de vídeo de vigilância da Young’s Asian Massage um homem entrando num Hyundai Tucson preto. Os policiais postaram imagens do vídeo nas redes sociais, e duas horas mais tarde os pais de Long entraram em contato com o departamento de polícia e identificaram o homem como seu filho. “Eles estão muito nervosos”, disse o policial Frank Reynolds. Mas “foram muito prestativos, nos ajudando a prendê-lo”.

Pouco mais de duas horas após o primeiro tiroteio, o carro de Long foi flagrado indo em sentido sul na rodovia interestadual em Crisp County, 240 km ao sul de Atlanta. Long diria às autoridades mais tarde que estava indo à Flórida para cometer violência semelhante contra “algum tipo de indústria pornô”, disse Baker. As autoridades disseram que ele foi encontrado com uma arma de calibre 9 mm.

Na manhã da quarta-feira, em meio às cenas dos crimes nas zonas comerciais do condado de Cherokee e no nordeste de Atlanta, as pessoas retornavam ao trabalho em clima de medo.

“Não temos outra escolha”, disse Enciso, 46, voltando ao trabalho no salão de beleza ao lado da Young’s Asian Massage. “A vida não para. Chegamos aqui em um clima de medo. Imagine só, somos hispânicas. Há quem odeie a nós, também.”

Muito além da região de Atlanta, lideranças asiático-americanas estavam tentando se reerguer após a chacina. “Muita gente está até com medo de sair de casa agora”, comentou Max Leung, fundador de uma entidade chamada Coletivo de Paz de SF, que patrulha as ruas de San Francisco para proteger as comunidades asiáticas contra violência. “Estão com medo de sair para a rua.”

Tradução de Clara Allain

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