Ernesto Araújo busca Lira para prestar contas e tentar se manter no cargo

Chanceler pediu reunião após sessão em que foi fortemente questionado por parlamentares

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Brasília

Numa tentativa de se manter no cargo, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, foi na manhã desta quinta-feira (25) à residência oficial do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para prestar explicações sobre a ação do Itamaraty no combate à pandemia.

O gesto ocorre um dia depois de Lira ter cobrado uma mudança de rumo na atuação do Itamaraty e de o chanceler ter sido fortemente questionado por um grupo de senadores. De acordo com relatos, Ernesto está ciente da alta temperatura de sua fritura e pediu uma reunião para tentar se justificar.

O chanceler Ernesto Araujo durante encontro com a cúpula do Legislativo, em Brasília
O chanceler Ernesto Araujo durante encontro com a cúpula do Legislativo, em Brasília - Ueslei Marcelino - 24.mar.21/Reuters

No encontro, o ministro prestou contas do que foi feito até o momento pelo Itamaraty no combate à Covid-19, enquanto Lira, segundo aliados do deputado, reforçou cobrança feita em reunião nesta quarta (24): é preciso uma melhora na diplomacia, com mais diálogo com países como Estados Unidos e China.

Em encontro convocado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no Palácio do Alvorada com as cúpulas do Legislativo e do Judiciário, o presidente da Câmara e governadores fizeram críticas à atuação do chanceler na crise sanitária. Os líderes estaduais, por exemplo, pediram cobranças à OMS (Organização Mundial da Saúde) em relação ao monopólio de laboratórios na produção de imunizantes.

Na terça (23), o chanceler já havia sido criticado por empresários brasileiros durante reunião na capital paulista em que Lira e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), estavam presentes. A ideia do chanceler é também promover um encontro com Pacheco para detalhar os esforços da pasta na importação de insumos e vacinas contra o coronavírus.​

Os líderes do Legislativo já vinham manifestando descontentamento com o chanceler brasileiro, aumentando a pressão pela sua demissão. Também nesta quarta, em sessão na Câmara, o presidente da Casa voltou a criticar publicamente e abertamente o chanceler. Depois, no Senado, a cobrança partiu inicialmente do próprio Pacheco, que afirmou que o fornecimento de vacinas está "aquém do esperado".

Em seguida, diversos senadores questionaram a capacidade do chanceler e pediram sua demissão. "Pede para sair e durma com a consciência tranquila de que o senhor vai ajudar a salvar vidas", afirmou a senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP). Companheiro de bancada da senadora, o tucano Tasso Jereissati (PSDB-CE) afirmou que o Brasil se tornou um pária internacional e que a má gestão no Ministério das Relações Exteriores está provocando resultados fatais para o Brasil.

"O senhor não tem mais condições de ficar no Ministério das Relações Exteriores. E não é para criar uma crise [a sua saída], é para solucionar", afirmou o tucano. O senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) afirmou que pediria demissão se estivesse no lugar do ministro. Também pediram a saída do ministro a senadora Simone Tebet (MDB-MS) e parlamentares da oposição.

A presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Kátia Abreu (PP-TO), questionou a capacidade de fazer interlocuções do ministro, após diversos ataques aos chineses. Lembrou, por exemplo, as manifestações contrárias à participação chinesa no leilão da tecnologia 5G.

Ao se defender, o chanceler se emocionou e chegou a ficar com a voz embargada. Ernesto afirmou que fez de tudo para ajudar o Brasil durante a pandemia, assim como ele alega que o presidente Bolsonaro fez.

"Tenho feito tudo pelo meu país naquilo em que acredito, um projeto de transformação profunda do Brasil que a maioria dos brasileiros, tenho certeza, deseja. Sempre estou disposto, já estou dando toda a minha vida por isso, porque é nisso que acredito. O senhor pode acreditar ou não, mas essa é a minha convicção", disse o chanceler. "Contarei aos meus netos que fiz parte de um projeto de transformação do Brasil. Espero poder contar que terá sido um projeto bem-sucedido, um projeto que livrou o Brasil da corrupção, do atraso, da indignidade e da falta de condições para os brasileiros. Tenho um amor profundo pelo povo brasileiro —isso eu garanto para o senhor– e não admito que ninguém o questione, como eu não questiono os seus motivos ou os de ninguém, está bem?", completou.

Ernesto também negou que tivesse dificuldades de relacionamento com a China e afirmou que nunca teve conhecimento de interferência dos EUA para que o Brasil não importasse a vacina russa Sputnik V.

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