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Governador de NY acusado de assédio pede desculpa, mas se recusa a renunciar

Andrew Cuomo diz que nunca tocou em ninguém 'de modo inapropriado'

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Albany | The New York Times

Em sua primeira declaração pública desde que um escândalo de assédio sexual envolveu sua administração, o governador de Nova York, Andrew Cuomo, disse nesta quarta-feira (3) que estava envergonhado de seus atos e pediu desculpas, mas afirmou que não renunciaria ao cargo.

Durante uma entrevista coletiva no Capitólio de Nova York, a sede do legislativo do estado, o governador tentou abafar a indignação sobre as acusações de três mulheres que recaem sobre ele —duas funcionárias públicas estaduais o acusam de assédio sexual, e uma outra diz que sofreu com toques e beijos indesejados em um casamento.

Ao mesmo tempo, um coro crescente de políticos de seu Partido Democrata pedia que ele deixasse o governo. Cuomo, cuja voz parecia às vezes embargada, disse que queria que os nova-iorquinos "soubessem disso diretamente por ele".

Governador de Nova York, Andrew Cuomo, durante entrevista coletiva
Governador de Nova York, Andrew Cuomo, durante entrevista coletiva - Johannes Eisele - 26.mai.2020/AFP

"Agora compreendo que agi de um modo que deixou outras pessoas desconfortáveis", afirmou. "Não foi intencional, e eu realmente e profundamente peço desculpas por isso. Sinto-me péssimo a respeito e francamente envergonhado, e isso não é fácil de dizer, mas é a verdade."

"Nunca toquei ninguém de modo inadequado", salientou o governador.

"Eu não soube no momento que estava fazendo alguém se sentir desconfortável", afirmou. "E certamente não quis ofender, prejudicar ou causar sofrimento a ninguém. Essa é a última coisa que eu desejaria fazer."

Em seus comentários e respondendo a uma série de perguntas, Cuomo manifestou arrependimento —uma raridade em um político conhecido por sua personalidade às vezes dura e áspera—, dizendo que ele "aprendeu com uma situação que foi incrivelmente difícil para mim, assim como para outras pessoas".

"Eu serei melhor por causa desta experiência."

Praticamente nenhuma autoridade saiu em defesa de Cuomo. A maioria dos democratas pediu repetidamente uma investigação independente das denúncias, que agora serão analisadas pela secretária estadual de Justiça, Letitia James.

A entrevista desta quarta foi o primeiro pronunciamento do governador em nove dias, o maior tempo que ele passou sem falar com jornalistas desde o início da pandemia do coronavírus.

O democrata, que está no terceiro mandato, havia anteriormente tentado explicar que alguns de seus comentários e perguntas às funcionárias foram mal construídos "e podem ter sido insensíveis ou pessoais demais".

"Reconheço que algumas das coisas que eu disse foram mal interpretadas como um flerte indesejado", disse Cuomo em um comunicado no domingo (28). "Na medida em que alguém sentiu isso, realmente peço desculpas."

Essa declaração pareceu insuficiente para muitos, incluindo Charlotte Bennett, 25, uma ex-assessora de Cuomo que disse ao New York Times que o governador lhe fez uma série de perguntas de teor sexual durante um encontro privado em junho, incluindo se ela era monógama e se já tinha dormido com homens mais velhos.

Abalada e nervosa, Bennett relatou o incidente ao chefe de gabinete de Cuomo e foi imediatamente transferida para outra área do governo estadual.

Na segunda (1°), ela caracterizou o pedido de desculpas inicial do governador —e também uma tentativa abortada de colocar o sócio de um alto assessor para conduzir uma investigação— como uma tentativa covarde de evitar a responsabilidade.

"Estes não são atos de alguém que simplesmente se sente mal compreendido", escreveu Bennett. "São atos de um indivíduo que usa seu poder para evitar a Justiça."

Nesta quarta, Bennett ficou igualmente insensível ao governador, que em certo ponto disse que estava especificamente se desculpando com "a jovem que trabalhava aqui", mas sem dizer seu nome.

Manifestantes pedem a renúncia de Andrew Cuomo, governador de Nova York, após acusações de assédio sexual
Manifestantes pedem a renúncia de Andrew Cuomo, governador de Nova York, após acusações de assédio sexual - Scott Heins - 2.mar.2021/AFP

"A entrevista coletiva do governador foi cheia de falsidades e informação imprecisa, e os nova-iorquinos merecem mais que isso", disse Debra Katz, advogada especializada em assédio que está representando Bennett.

Katz acrescentou que espera que o relatório da secretária de Justiça "demonstrará que autoridades do governo Cuomo deixaram de agir sobre as denúncias de Bennett ou de garantir que medidas corretivas fossem tomadas, em violação de seus deveres legais".

O turbilhão em Albany, a capital do estado, começou na semana passada com Lindsey Boylan, que trabalhou no governo Cuomo de 2015 a 2018.

Ela publicou um artigo detalhando uma série de interações perturbadoras com Cuomo, incluindo uma ocasião em que, segundo ela, o governador sugeriu que "jogassem strip poker". Boylan também disse que o governador lhe deu um beijo não solicitado nos lábios depois de um encontro pessoal com ele em seu escritório em Manhattan em 2018.

"Quando eu me levantei para sair e caminhei para a porta aberta, ele passou na minha frente e me beijou na boca", escreveu Boylan, que é candidata a presidente do distrito de Manhattan. "Fiquei chocada, mas continuei andando."

O gabinete do governador negou com veemência a afirmação de Boylan.

Nesta quarta, Boylan também pareceu recusar o pedido de desculpas do governador, questionando sua falha em reconhecer que seus atos com as mulheres foram inerentemente inadequados, não importa qual fosse sua intenção.

Na segunda, Anna Ruch, 33, que serviu no governo Obama, descreveu um comportamento indesejado do governador em um casamento, incluindo tocar suas costas nuas, afagar seu rosto e dar um beijo indesejado em seu rosto.

Questionado sobre o incidente, Cuomo disse durante a coletiva que beijar e abraçar é seu "modo de cumprimentar habitual e costumeiro", mas que ele pedia desculpas se isso deixou Ruch desconfortável, reiterando que não foi sua intenção.

"Se elas ficaram ofendidas por isso, então eu errei", disse Cuomo. "Se elas ficaram ofendidas, peço desculpas. Se elas se sentiram agredidas, peço desculpas. Se elas sofreram com isso, peço desculpas. Desculpas. Eu não pretendia. Eu não quis fazer isso, mas se é como elas se sentiram, é o que importa, e eu peço desculpas."

Letitia James, que é democrata, deverá contratar um escritório de advocacia externo para conduzir uma investigação civil das denúncias de assédio sexual feitas contra o governador.

Cuomo está passando por outra crise: denúncias de que seu governo reteve dados importantes sobre mortes em lares de idosos ligadas ao coronavírus, para encobrir a total extensão do número de vítimas nessas instituições.

No mês passado, durante uma reunião privada com deputados estaduais, a principal assessora do governador, Melissa DeRosa, admitiu que escondeu os dados por temer que fossem usados contra Cuomo pelo Departamento de Justiça de Trump na época.

A revelação levou promotores federais e o FBI a abrir um inquérito sobre a questão.

Houve alguns possíveis sinais de fadiga no círculo mais próximo de Cuomo: pouco antes do pronunciamento dele nesta quarta, Gareth Rhodes, um assessor sobre o coronavírus, anunciou que deixaria a força-tarefa do governador que combate a doença.

Rhodes, cujo casamento em 2019 em Manhattan foi onde Cuomo teria assediado Ruch, disse que sua decisão foi tomada na semana passada.

O site Politico também relatou que um assessor de imprensa, Will Burns, informou ao gabinete do governador na terça-feira (2) que deixará o executivo estadual.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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